Como tem acontecido nas edições anteriores, o Trama 2011 vai sair dos muros de Serralves e mostrar as potencialidades cénicas, e mesmo dramáticas, de múltiplos lugares na Baixa portuense, da estação de S. Bento ao Museu Militar, do Ateneu Comercial à Livraria Latina, do Hotel D. Henrique à Faculdade de Belas Artes e de Letras, do Passos Manuel ao Lofte e também ao espaço público... Ao todo, estarão em cena 37 projectos reunindo 92 participantes de 18 nacionalidades; uma trama de experiências estéticas singulares e colectivas que as programadoras Cristina Grande a Rita Castro Neves apresentam como “uma conspiração de artistas, que acrescenta cidade à cidade”.
O programa abre ao final da tarde (19h00) do dia 13, no auditório da Faculdade de Belas Artes, com o professor, músico e artista multidisciplinar canadiano Christof Migone a fazer a conferência “Sonatic Somatic: Performances of the Unsound Body”, na exploração sonora do corpo e da linguagem; e encerra, na noite de 16 de Outubro, no Auditório de Serralves, com um prometedor concerto para 15 extintores pelo músico sueco Sven-Äke Johansson.
Entre tudo o que irá acontecer pelo meio, aqui ficam algumas notas. Na área da performance, WOL é um duo sueco (Lovisa Johansson+Wenche Tankred) que se estreia em Portugal apresentando no Porto três peças diferentes, “Wheel Barrow Poetry”, “Etude in Red” e “Cincumflex” – trabalhos sobre o tema da moda e questões de género, em performances visuais e sonoras que questionam as convenções sociais. Outro performer com presença repetida no programa será Paulo Mendes, com as intervenções “S de Saudade, Restos de Colecção”, “S de Saudade, a Tortura da Memória” e “Silêncio, ordens, preces, ameaças, elogios, censuras, razões, que querem que eu compreenda do que eles dizem”, todas elas tendo em comum o desejo de abordar os anos do Estado Novo e de “tratar o apagamento da memória da História portuguesa, e de uma sociedade que não conseguiu ainda exorcizar e libertar-se da fantasma de Salazar”, explicou hoje o artista na conferência de apresentação do Trama.
Na dança, destaque para a presença do coreógrafo francês Xavier Le Roy & Guests, que apresentará “Low Pieces”, uma peça envolvida em silêncio, que questiona as próprias convenções do espectáculo e da separação palco-plateia. E a dupla luso-belga Peter Ampe & Guilherme Garrido, com “Still Standing You”, explora, com grande intensidade física, a sua própria relação enquanto artistas e homens.
Susana Mendes Silva traz de regresso a figura do famoso Repórter X/Reinaldo Ferreira, num programa que propõe uma visita guiada aos lugares portuenses deste jornalista, poeta, dramaturgo e realizador, que, no final da década de 1920, rodou nos estúdios da Invicta os filmes “Rita ou Rito?” e “Táxi 9297” – ambos serão exibidos, em conjunto com a biografia que o realizador José Nascimento dedicou, em 1986, ao autor de “Memórias de um Ex-morfinómano”.O calendário do Trama 2011 inclui ainda instalações da francesa Caty Olive (“Diacaustiques des Esprits”), da dupla portuguesa Manuela São Simão & Pedro Lopes (“Gibberish”) e do australiano Lucas Abela, naquele que poderá afirmar-se num dos momentos mais procurados do festival, com “Vinyl Rally”, “uma instalação interactiva de grande escala que cruza arte sonora, escultura, vídeo, novos media e desportos de competição”. Ou seja, num dos armazéns da Estação de S. Bento, Abela promove uma corrida de carros telecomandados – em que os espectadores poderão igualmente participar – sobre uma pista formada pelos velhos disco em vinil que Serralves tem vindo a pedir aos portuenses, e que aí têm chegado em razoável número.
Os espectáculos do Trama terão todas acesso gratuito, à excepção dos que ocorrem à noite, cuja entrada custa cinco euros.
Via Público