A campanha, com o alto patrocínio da Presidência da República, quer “aproveitar os incontáveis desperdícios de bens, produtos e recursos existentes, um pouco por todo o país”. Em Loures, um dos primeiros municípios a aderir, há já 387 famílias que recebem a ajuda alimentar que partiu de uma acção da Associação Dar i Acordar.
Um dos primeiros pontos a esclarecer é que não serão redistribuídos os restos de comida servida em restaurantes, hotéis e supermercados mas antes as sobras que consistem “refeições ou outros bens alimentares que não tenham sido servidos e que, apesar de estarem em boas condições, não possam ser vendidos”. Produtos “cujo prazo de validade está a chegar ao fim ou que não foram expostas nem estiveram em contacto com o público”, são exemplos. Os dados da associação referem que mais de 360 mil pessoas que não têm o que comer em Portugal e contrapõe-se outro número: todos os dias são desperdiçadas cerca de 50 mil refeições em todo o país.
Segundo Paula Policarpo, um dos rostos da Associação Dar i Acordar, o Movimento “Zero Desperdício” já está a ser experimentado na zona de Lisboa (com as autarquias de Lisboa, Loures, Cascais e Sintra) desde o início deste ano.
Além do apoio do Presidente da República, este movimento com o lema “Portugal não se pode dar ao lixo” terá ainda a voz (literalmente) de mais de 50 artistas portugueses que quiseram participar no hino da campanha.
Para Paula Policarpo esta acção resume-se ao “puro exercício da cidadania” onde todos podem participar a custo zero. “A ideia começa com os alimentos e na zona de Lisboa mas a nossa ambição é replicar este modelo em todo o país e usá-lo também para o aproveitamento de outros desperdícios, como os recursos humanos, livros, ou outros bens”, sublinha.
A acção “Zero Desperdício” surge pouco tempo depois da campanha “DA - Direito à Alimentação”, lançada em 2010 pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (ARESP). A DA também teve o patrocínio da Presidência da República e estava apoiada num conceito muito semelhante que visava o aproveitamento (com o apoio das autarquias) das refeições não servidas no sector. Mas, admite um porta-voz da ARESP, “esta campanha está em risco porque é difícil, manter-se a solidariedade nestes tempos de crise”. Segundo um balanço com data de Fevereiro deste ano, “a campanha está em plena operação nos municípios de Santa Maria da Feira, Entroncamento, Leiria e Ovar, os quais asseguram uma média mensal de refeições doadas de cerca de 2.650. Desde o início da operação, Abril a Dezembro de 2011, já foram doadas cerca de 24 mil refeições”.
Lisboa e Loures para já
As acções do Movimento Zero Desperdício tiveram início em Novembro do ano passado e desenvolvem-se atualmente em duas freguesias de Lisboa (Campolide e Lapa) e em todo o concelho de Loures.
Segundo o presidente da Associação Dar i acordar, António Costa Pereira, que falou durante a cerimónia de lançamento, esta manhã, Loures e Lisboa foram municípios piloto do projecto e o objectivo é agora alargá-lo a outras autarquias do país.
“Este é só um ponto de partida, pois o objectivo é chegar a outros pontos de Portugal e tornar o nosso país um exemplo nesta matéria”, sublinhou o responsável, adiantando que os municípios de Sintra e Cascais serão os próximos a receber este projecto.
No caso de Loures, a campanha Zero Desperdício teve início em Janeiro deste ano e conta com a colaboração de 11 superfícies comerciais e 11 instituições particulares de segurança social (IPSS), que fazem chegar os excedentes alimentares às famílias mais carenciadas.
Segundo a vereadora com o pelouro da Acção Social na câmara de Loures, Sónia Paixão, no âmbito deste projecto já foram angariados mais de sete mil quilos de alimentos e apoiadas 387 famílias carenciadas.
No município de Lisboa o projecto desenvolve-se na freguesia de Campolide, através da Associação Desenvolver Campolide, e mais recentemente na freguesia da Lapa, que escolheu como mediador as Oficinas de São José. Em Campolide, o apoio chega a 16 idosos, 30 famílias carenciadas e 15 crianças de dois estabelecimentos de ensino da freguesia, adiantou o presidente da junta de freguesia, André Couto.
Já na Lapa, o projecto está a ser apoiado sobretudo pela Assembleia da República, que tem doado diariamente às Oficinas de São José entre 12 a 24 refeições diárias.
Segundo o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, a autarquia pretende alargar o projecto a todas as freguesias da capital, sendo que a próxima deverá ser a Santa Maria dos Olivais.
Via Público