A faceta de astrólogo do poeta Fernando Pessoa que chegou a auferir “alguns tostões com a astrologia” é revelada no livro de Paulo Cardoso com vários documentos do espólio pessoano.
Intitulado “Fernando Pessoa - Cartas Astrológicas”, o livro reúne “algumas dezenas das mais reveladoras cartas astrológicas erigidas por Pessoa”, escreve o astrólogo Paulo Cardoso.
Jerónimo Pizarro, catedrático nas universidades de Lisboa e de Los Andes (Colômbia) que prefacia a obra, afirmou à Lusa que esta obra “abre novas pistas de investigação, e demonstra como a teoria dos heterónimos é influenciada pela astrologia”.
O autor de “Mensagem” fez a sua carta astrológica e as dos seus heterónimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. “Todos os horóscopos dos heterónimos apresentam Mercúrio (o planeta da literatura) ” que é também o planeta regente do signo Gémeos a que pertencia Fernando Pessoa, escreve Paulo Cardoso.
O astrólogo realça que os “signos ascendentes” dos horóscopos dos quatro poetas são Água (Pessoa), Fogo (Caeiro), Terra (Campos) e Ar (Reis), ou seja “a família heteronímica detinha a plenitude dos princípios fundamentais da filosofia ancestral”.
Em 1915 Fernando Pessoa inventou um astrólogo, Raphael Baldaya e estabeleceu uma tabela de honorários que variavam entre os 500 e os 5000 réis.
Pizarro disse à Lusa que Pessoa “ganhou alguns tostões com a astrologia” e há muitos cartões no espólio guardado na Biblioteca Nacional com indicações de nome, data e hora de nascimento que leva a supor que Pessoa traçava as respectivas cartas astrológicas.
O poeta traçou mapas astrais de mais de 1500 personagens históricas ou contemporâneas. Robespierre, Guilherme II da Alemanha, D. Carlos de Portugal, D. Sebastião, Lord Byron, Sidónio Pais, Oliveira Salazar, Mussolini, Chopin, Leopoldo II dos belgas, Victor Hugo, Luís II da Baviera, Afonso XIII de Espanha, Vítor Emanuel III de Itália e William Shakespeare foram algumas das personalidades sobre as quais desenhou o respectivo mapa astrológico.
De algumas personalidades fez mais de uma vez em alturas diferentes a respectiva carta astrológica, casos de Napoleão, da Rainha D. Amélia, do escritor Raul Leal, ou do escritor Óscar Wilde. Segundo Cardoso, Pessoa “comentou parecenças entre o caso astrológico de Wilde e o seu próprio caso”.
Pizarro referiu à Lusa que Fernando Pessoa “chegou a calcular com grande proximidade o seu ano de morte” (1935), algo que mereceu diversas reflexões do poeta.
Cardoso assinala que “a abordagem pessoana da astrologia foi sempre a mais prudente, crítica e metódica”. O astrólogo acrescenta que “a astrologia fez parte do quotidiano do escritor que lidava com ela de manhã, à tarde e pela noite dentro”.
“Este foi um interesse que Pessoa manteve até à sua morte”, sublinhou Pizarro.
Além da prática Fernando Pessoa também teorizou sobre a astrologia, salientou à Lusa Pizarro. Pessoa atribui por exemplo, a Baldaya as obras “Systema de Astrologia” e “Introd[ução] ao estudo do ocultismo”.
Pizarro afirmou que “Fernando Pessoa -- Cartas astrológicas”, com a chancela da Bertrand Editora, “permite criar um clima necessário para os livros que ainda faltam de Pessoa sobre a astrologia, bem como e como as Ciências Ocultas, o Esoterismo e a Filosofia que são coisas muitos presentes no [movimento literário e artístico] do Modernismo”.
A obra é apresentada esta terça-feira às 18h30 na Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique, por José Blanco.
Via Público