O fim das entradas gratuitas nos museus nacionais "é uma medida periférica" que vai ter um "fraco efeito financeiro" nas receitas destes espaços culturais, afirmou o presidente do ICOM Portugal, organismo internacional que representa o sector.
De acordo com Luís Raposo, presidente da direcção do comité nacional do ICOM (International Council of Museums), organismo ligado à UNESCO, o anúncio do secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, em declarações à SIC, sobre o fim da gratuitidade "é risível".
"Em termos dos efeitos financeiros seria um ganho de 300 a 400 mil euros por ano, o que representa dois a três por cento dos custos de funcionamento dos museus e palácios nacionais", sustentou o responsável, que também é director do Museu Nacional de Arqueologia.
Luís Raposo considera que, sendo "irrelevante" o benefício financeiro desta medida, vai ter, por outro lado, "um impacto social enorme junto das famílias".
"As famílias teriam de fazer um grande esforço para irem aos museus pagando três, quatro ou mais bilhetes", observou.
Para o presidente do ICOM Portugal, esta medida anunciada pela Secretaria de Estado da Cultura "é contrária à evolução mais recente em várias cidades dos países desenvolvidos".
Deu o caso de Londres, "onde a gratuitidade generalizada das entradas nos museus públicos acabou por tornar-se muito vantajosa porque aumentou muito o turismo e a venda nas lojas". Luís Raposo indicou que o mesmo exemplo está a ser seguido por Paris e por Copenhaga.
O director do Instituto dos Museus e Conservação (IMC) sustentou hoje que o fim das entradas gratuitas nos museus e palácios nacionais "não é uma receita milagrosa", mas traria "um aumento muito significativo" de receitas em tempo de crise.
João Brigola indicou que um estudo apresentado em 2010 ao Ministério da Cultura (actual Secretaria de Estado) estimou que o fim da gratuitidade nos museus e a revisão do preço das entradas traria um acréscimo de 800 mil euros anuais ao orçamento destes organismos.
"Seria um aumento muito significativo em tempos de crise, porque os museus estão a viver dificuldades", comentou o responsável, recordando que este sector tem sofrido uma desorçamentação desde 2009.
Para o director do IMC, o facto de 63 por cento das entradas nos 29 museus e cinco palácios nacionais não serem pagas e de "uma grande maioria" das restantes 37 por cento de entradas pagas "beneficiar ainda de descontos, não é comportável com a situação actual de dificuldades financeiras".
João Brigola comentou que "idealmente os cidadãos que pagam os seus impostos deveriam ter acesso gratuito a uma série de serviços públicos, mas a situação de crise está a afectar seriamente o funcionamento destes organismos por falta de verbas".
Em Portugal, o valor médio de um bilhete para um museu público é de 4,5 euros.
Via HardMusica