Garrett McNamara ganha a vida a surfar ondas gigantes. Se isto lhe parece frescura, olhe para imagem acima, meça vários Garretts até ao cimo da onda ou fique atento ao que lhe vamos explicar a seguir. Nascido em Berkeley, na Califórnia, o surfista mudou-se para o Havai quando tinha 11 anos e desde então nunca mais largou as pranchas. Passados vários anos a entrar em campeonatos, McNamara, de 44 anos, canalizou a “rush” de que tanto fala para uma actividade lucrativa, que a maioria definirá como suicídio. A última vez que enfrentou a morte – e faz disto uma prática bastante regular – foi na terça-feira, na praia do Norte (Nazaré), quando desceu uma onda de 30 metros.
“Foi espectacular! Provavelmente a maior onda que alguma vez surfei. Muito poderosa. Nenhuma das ondas que apanhei foi tão grande e tão forte”, contou ao i. Confrontado com a hipótese de ter desaparecido para sempre naquele momento, Garrett, casado e com três filhos, assume o risco que corre conscientemente. “Se tivesse caído naquela onda, muito provavelmente teria morrido. A onda era tão poderosa que me podia ter morto com facilidade”, explicou. Porém, desta vez não sentiu “medo”. “Tudo se encaixou da melhor forma. Senti-me muito bem”, descreve.
E porque as ondas em que se mete podem facilmente ser vistas como uma queda livre do alto de um prédio de dez andares, perguntámos-lhe o que lhe passa pela cabeça durante naqueles segundos no cume da enorme massa de água. “Penso sempre de uma forma positiva. Ou que vou ficar bem ou que vou conseguir surfá-la.”
A estratégia parece funcionar. No entanto, se não tem muita experiência, não tente lançar-se e descer qualquer coisa além dos três metros de altura – mesmo feita de água. “Depois de ter surfado aquela onda não me senti cheio de adrenalina. Estava calmo e relaxado. Foi uma experiência zen muito boa. Foi tudo perfeito”, afirmou. Pensamos que a linguagem esotérica não será a mais adequada para descrever algo próximo do suicídio, mas não insistimos porque este senhor está noutro patamar do convívio com a mãe natureza.
Para os mais cépticos no que toca à existência de ondas gigantes no nosso país, aqui está a explicação científica. A praia do Norte está sob o efeito de um fenómeno conhecido como “canhão da Nazaré”, que faz com que se formem ondas deste tamanho. Trata-se de um acidente geomorfológico raro, o maior da Europa e um dos maiores do mundo, que consiste numa falha na placa continental com cerca de 170 quilómetros de comprimento e cinco quilómetros de profundidade, que canaliza a ondulação do oceano Atlântico para esta praia. Ou para Garrett McNamara.