Depois atualizou os números: 10%. Não sei se, de madrugada, já tinham chegado a qualquer coisa que merecesse sequer a nossa atenção. Mas tenho um conselho para o governo: da próxima vez, nomeia um grupo de trabalho - talvez dirigido por João Duque- para analisar os números da greve. Com sorte, dizem uma coisa ainda mais estapafúrdia do que diria Miguel Relvas. Tem resultado: fazer encomendas a gente com ainda menos credibilidade do que ele para ele parecer apresentável.
Agora mais a sério. Dizia António Aleixo que "para a mentira ser segura e atingir profundidade tem de trazer à mistura qualquer coisa de verdade". É que nem para aldrabar esta gente tem talento.
Mas o governo não fica sozinho na falta de rigor e na manipulação. O jornal I fez ontem uma capa onde se lia: "Bom dia Portugal e bom trabalho". A folha de couve em que se tornou aquele jornal apelava assim à não adesão à greve. Está no seu direito. Como por lá os colunistas escrevem à borla - há quem ache, lá saberá porquê, que é isso que vale o seu trabalho -, compreende-se o ponto de vista do ativista que dirige tão singular publicação: se vendemos o trabalho gratuito dos outros como poderíamos sequer tolerar a ideia de que quem trabalha faça exigências? Talvez por isso pouca gente compre a coisa. Com capatazes assim e "empresários" do mesmo calibre (Jaime Antunes, mandatário, nas últimas eleições, de Passos Coelho em Ourém, deve ser recordista de flops editoriais) percebe-se porque este país não anda para a frente.
As televisões também fizeram bem o seu trabalho. Às vezes nem percebo porque tentam os governos manipular os jornalistas. Nem precisam de se dar ao trabalho. É fazer figas (ou mais do que isso) para que haja um "incidente" e está feito o noticiário de uma greve. E o argumento: a austeridade é inevitável e só arruaceiros se opõem a ela. E, para falar da greve, Miguel Relvas e o presidente da CIP fizeram as honras da casa em televisões generalistas e por cabo. Ainda assim, a greve aconteceu. Como sabe quem conhece o País fora do telejornais e dos delírios do ministro Relvas.
Via Expresso