Como se deve dizer (ou escrever) determinada palavra? “Encarregado” ou “encarregue”? “Podem calar-se” ou “podem-se calar”? É o mesmo dizer “em hipótese alguma” e “em hipóteses nenhuma”? E qual o feminino das palavras barão e cônsul?
Ao longo do tempo, foram aumentando as perguntas colocadas aohttp://www.ciberduvidas.com/ cujos fundadores, inspirados numa ideia de serviço público para prestar um serviço universal e gratuito, montaram uma equipa com professores especializados em várias áreas da língua portuguesa para responder às questões mais diversas e garantir as actualizações diárias daquele site.
A morte súbita de Carreira Bom em Janeiro de 2002 não diminuiu a actividade do Ciberdúvidas que passou a ter apenas José Mário Costa à frente do grupo. No ano passado, este espaço de promoção do português recebeu uma média de 300 mil visitas.
As respostas já ultrapassaram as 30 mil, num total de 40 mil textos acerca de diversas questões, entre as quais, as respeitantes à terminologia linguística ou à polémica em torno do acordo ortográfico, refere José Mário Costa.
Entre os utilizadores do Ciberdúvidas, contam-se as pessoas que fazem da língua o seu instrumento de trabalho, como jornalistas, tradutores, revisores ou juristas, de ensino e aprendizagem, como professores, alunos e estudantes – muitos estrangeiros, inclusive, de países como a China ou a Austrália.
Com a adopção do Acordo Ortográfico no ensino básico e secundário, em Setembro passado, verificou-se um aumento considerável de pedidos para esclarecimento de dúvidas. “Não há um dia que não cheguem perguntas sobre as novas regras da escrita do português, nomeadamente da comunidade escolar, professores e alunos. Perguntas de Portugal, mas também do Brasil, país de onde chega o segundo maior fluxo de consultas ao Ciberdúvidas”, explica José Mário Costa.
As dúvidas mais insistentes, diz, “respeitam às novas regras do uso hífen e da aglutinação, para além dos casos da queda ou não da dupla consoante”. Mas o objectivo deste site ultrapassa o de consultório, constituindo-se como um espaço de esclarecimento e de debate sobre as questões do português nos países de língua oficial portuguesa.
É que, como língua viva e dinâmica, o português vai fluindo ao sabor de quem a fala. Não faltam os exemplos de palavras que antes significavam uma coisa e, com os tempos, evoluíram para outros sentidos. “O problema, nos tempos que correm – por via da influência dominante do audiovisual e do menor rigor no uso do idioma nacional –, é quando a persistência no erro vai transformando os chamados “equívocos” em verdades… mediáticas”, nota José Mário Costa, dando como exemplos, “o caso do “solarengo” que passou a ser usado no sentido de “soalheiro”, ou da expressão “ovelha ranhosa”, em vez de “ovelha ronhosa”” Ou da recorrente troca entre o “ir de encontro a” e o “ir ao encontro de”. Dos anómalos “despoletar”, “rúbrica”, “interviu” e ”intervido”. Ou, ainda, o permanente mau uso do verbo nas frases iniciadas com a expressão “um dos que…”…
Este espaço da promoção da língua portuguesa garante ainda três programas de rádio na RDP e a responsabilidade dos conteúdos do programa “Cuidado com a Língua!,” na RTP protagonizado pelo actor Diogo Infante.
A “carolice” e generosidade dos que colaboram com o Ciberdúvidas, o patrocínio da Fundação Vodafone e o apoio Universidade Lusófona que cedeu as instalações onde funciona, permitem que este serviço continue a ser prestado, mesmo depois de ter sido retirado o patrocínio dos CTT, no ano passado.
E possibilita que avance ainda com outros projectos. Desde Outubro que existe neste espaço um outro serviço, igualmente de acesso gratuito, especificamente destinado ao sistema de ensino português. Trata-se da Ciberescola da Língua Portuguesa (http://www.ciberescola.com), uma plataforma de exercícios interactivos e cursos via Internet de ensino do português, língua materna e língua estrangeira. Todos os conteúdos são originais, produzidos especificamente por professores e investigadores em linguística e literatura, cobrindo as competências da compreensão/interpretação oral e escrita, gramática, léxico e semântica. No fim deste mês será lançado uma extensão dirigida particularmente ao público anglo-saxónico, com o apoio da FLAD.
Via Público