A ideia de que as pessoas mais bonitas atraem mais facilmente um parceiro não só não é verdade (basta pensar na prima Albertina - toda a gente tem uma prima Albertina - que era feia como os trovões e tinha todos os homens que queria) como pode levar-nos a gastar inúteis balúrdios em roupa a vida inteira sem percebermos porque é que não funciona. Devemos ser cada vez mais nós próprias, com cada vez melhor aspecto, por nossa causa, e não para atrairmos um qualquer George Clooney que vá a passar (até porque os Clooneys deste mundo não passam assim com tanta frequência). Além disso, pode ser perigoso passar a mensagem errada: como é que queremos encontrar a alma gémea se passamos a vida a esforçar-nos imenso para parecer uma coisa muito diferente do que somos?
Está bem, que as há há, como as bruxas, mas tal como as bruxas, qual foi a última vez que viu alguma? O que há são várias almas mais ou menos compatíveis. Se não quiser condenar-se a passar imenso tempo a inventar esquemas para fugir da rotina e para 'apimentar a relação' e a 'dar tempo' e a visitar terapeutas familiares, tenha mas é o bom senso de escolher alguém com quem seja agradável viver.
"Ai eu aqui coitadinha tão gira, tão culta, tão esperta, tão loira e tão boa pessoa, não merecia mesmo um Príncipe?" Pois merecia, mas acontece que a vida não é justa, a vida é lógica, e a lógica não é moral. Se viver à espera de 'retribuição', vai ter muitas desilusões.
Pois dizem os psicólogos que não se atraem, não senhora, o que nos atrai, mesmo - especialmente? - em pessoas muito diferentes de nós, é aquilo em que se parecem connosco. E sim, os valores e os hábitos e o meio e se gostam ou não de step ou feijoada ou das Caraíbas é importante, mas, também dizem os psicólogos, as relações mais sólidas nascem entre pessoas que tiveram infâncias ou experiências de vida idênticas.
A culpa é do cinema. E das telenovelas. E dos romances. Fizeram-nos tal lavagem ao cérebro desde que começámos a ter idade para ver cenas de sexo que a partir daí acreditámos piamente que tudo acontecia assim, naturalmente, sem atropelos, sem sutiãs encravados nem sapatos malcheirosos nem mãos desajeitadas nem óculos a atrapalhar... Se a primeira vez não viu fogo de artifício, não desanime. Tudo se treina.
"Olha, ó João Carlos, antes que me dês um beijo na boca deixa-me que te diga que já tive 34 namorados antes de ti, especialmente o Vasco que era um monumento de homem até me dar uma grandiosa tampa, sou psicótica com as dietas e só como meia folha de alface por dia, por acaso não tenho os dentes verdes, não? Ah, adoro beber até cair para o lado, também adoro crianças e estou louca para ter uma equipa de futebol mas tenho uma verruga vaginal que me incomoda imenso, sabes que em Portugal as mulheres ainda ganham menos do que os homens?, olha importas-te que vá à tua casa de banho, o jantar caiu-me mal" (depois não se esqueça de voltar e dizer "Não vás lá agora") e por último a machadada fatal: "A minha mãe vai gostar tanto de ti!" Não seja honesta! Pelo menos no primeiro dia! Não pronuncie NUNCA a palavra 'fofinho'. Diga-lhe o mínimo indispensável e ouça muito. E tente descobrir em que partido é que ele vota. Isso sim, é importante.
Mas que mania feminina que depois de grande sessão de cama eles têm de ficar num 'encore' a fazer-nos festinhas! É como se depois de uma aula de body combat se tivesse que ficar a fazer festinhas no treinador. Deixe as festinhas para quando ele acordar.
Lá porque se divertem imenso e vão ao cinema e jantar fora, não quer dizer que consigam aguentar uma relação de chatices diárias, com casas para pagar, louça para lavar, banheira para partilhar, e a adrenalina em baixo. Mas claro que muitas vezes isso só se descobre experimentando, não é...
Há-de vir alguém (alto, louro e com dinheiro) resgatá-la à sua triste vida, mesmo que esteja sentadinha em casa a bordar Mickeys em ponto-cruz. Só se for o homem da piza - isto se mandar vir uma piza, obviamente - e se o homem da piza for psicopata daqueles que olham para uma pessoa e ficam instantaneamente apaixonados, porque de outra maneira, quem fica à espera arrisca-se a esperar para sempre.
Só conseguimos ser felizes com outra pessoa e essa pessoa há-de nos dar aquilo que lhe damos a ela. Mentira: nem precisamos desesperadamente de outra pessoa nem o amor é assim tão matemático. Dedique-se a ser feliz sozinha para aprender a ser feliz a dois.
Via Activa