A condição humana dissecada através da relação entre duas mulheres. O clássico "As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant", de Rainer Werner Fassbinder, sobe ao palco do Auditório Carlos Paredes.
É o amor um jogo de poder e interesses? Está em cena até domingo, no Auditório Carlos Paredes, em Benfica, a peça "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant", do autor alemão Rainer Werner Fassbinder, com adaptação da companhia FMT- Forever Mesmo Teatro.
Petra, uma estilista reconhecida internacionalmente, cai em decadência física e psicológica depois de pedir o divórcio e vai afundar-se num amor destrutivo por uma mulher, Karin Thimm. Uma jovem aspirante a modelo, de nível social e moral inferiores, cuja ambição falará mais alto do que a verdade dos sentimentos. Se for preciso amar, então fá-lo-á, sem pudor.
Marlene, a empregada e secretária da protagonista completa o triângulo de "quem não merece melhor, é feliz assim", numa procura de identidade sob a qual gravitam mais três personagens: Sidónia von Grasenabb (a amiga baronesa), a mãe Valéria von Kant e a filha Gabriela von Kant.
Retratos... a mulher e o capitalismo
"Não tem nada a ver comigo a nível de sentimento e posturas", revela ao EXPRESSO a atriz Susana Rodrigues. "Tive de criar uma personagem do zero. Vi filmes, tentei descobrir em mim algo que se pudesse assemelhar àquilo que a Petra sentia. Não foi realmente nada fácil mas está a ser maravilhoso representá-la".
A peça data dos anos 70 e deu origem ao filme homónimo de Fassbinder, considerado um dos mais importantes cineastas alemães do pós-guerra.
O autor utiliza a mulher para "despir" as relações de dependência, o papel do homem e da mulher, o casamento, o amor não correspondido, o conservadorismo, deambulando entre o ser, o estar e o parecer, num retrato também de análise crítica ao capitalismo na sociedade alemã dividida.
"Atualidade e irreverência"
"É uma peça sublime. Está entre os melhores textos que eu já li", revela ao EXPRESSO a encenadora Manuela Passarinho, justificando a escolha pela sua "atualidade" e "irreverência" até do próprio autor, "um homossexual assumido". "Ainda hoje muitas pessoas são amadas por interesses".
A moral do texto, defende Manuela Passarinho, é acabar com os "preconceitos" e "desafiar no bom sentido" para que sejamos "mais visionários". "Devem vir ver o espetáculo para pensarem na vida que têm, nas suas limitações e rotinas que podem ser quebradas, como deixar de alimentar um amor de quotidiano". E remata: "Dar coragem para saírem da falta de qualidade de vida e serem felizes. Estamos a profanar a vida".
Via Expresso