É um festival errante, com três edições em dez anos, mas que nem por isso deixa de ser menos estimulante. São três dias de música, arte sonora, vídeo, performance e instalação, divididos pelo Teatro Maria Matos, pela discoteca Lux e pela Faculdade de Belas Artes, em Lisboa.
Hoje é o arranque com performances de Carlota Lagido e também de Luís Elgris e Fernando Fadigas (ver texto ao lado), no Maria Matos. Nos restantes três dias sobressai a música, com nomes como Fennesz, Chris & Cosey ou Atom™. Por trás do evento estão duas estruturas: o Pogo, mais ligado ao teatro, performance e vídeo, e a Variz, mais ligada à música.
Desde a primeira edição, em 2002 na ZDB, que estão juntas, diz Miguel Sá, da Variz. "O Pogo assume mais o lado da produção, a vertente mais estrutural, enquanto a Variz está mais próxima da programação, embora não existam realidades estanques."
O SuperStereo DEMOnstration, assim se chama o festival, assume- -se como projecto multidisciplinar ou, como resume Miguel Sá, "trata-se de cruzar disciplinas onde há uma imensa possibilidade poética". Noutra perspectiva: "A ideia é impulsionar áreas, como a música electrónica mais exploratória, que são cinzentas, não definidas, em aberto."
Amanhã, o austríaco Fennesz e o português Manuel Mota tratarão de testar o conceito. O último é um guitarrista de recursos, mas que se apresenta ao piano, propondo para este instrumento uma abordagem tão original como a que desenvolve com a guitarra. Depois, Fennesz tratará de mostrar porque é uma das figuras mais consensuais da electrónica contemporânea, um lugar onde as fronteiras entre abstracção e desenho melódico, experimentação e sensibilidade pop, harmonia e distorção são abolidas. Desde o álbum "Endless Summer" (2001) que se consagrou como máximo representante de uma geração de guitarristas que utilizam as possibilidades digitais como extensão instrumental.
Em Lisboa apresenta o seu novo álbum utilizando um objecto - Protótipo [432] - que viu pela primeira vez em 2007, em Lisboa, no festival Número Projecto. "Essa peça estava exposta no festival e ele ficou curioso com as suas potencialidades", conta Miguel Sá. O objecto é da autoria do arquitecto lituano Bernardas Bagdanavicius, um complexo instrumento de forma cúbica composto por grelhas e estruturas que suportam 432 cordas de guitarra entrecruzadas. Será estreado no festival.
Também quinta, mas já no Lux, a electrónica terá um cariz mais lúdico e festivo, destacando-se o concerto do alemão Uwe Schmidt, uma das mais carismáticas figuras das electrónicas desde os anos 1990, que ao longo dos anos tem assumido vários disfarces (Senõr Coconut, Erik Satin, Lisa Carbon Trio, Flanger...). Em Lisboa assumirá o alter-ego Atom™ e sua prestação terá uma vertente audiovisual forte, sendo a música pré-programada e improvisada, o que leva a que cada actuação seja diferente.
Sexta, atenções viradas para o duo Chris & Cosey, ou seja Chris Carter e Cosey Fanni Tutti, dois dos fundadores dos históricos Throbbing Gristle, peças-chave para perceber parte significativa da música mais exploratória do nosso tempo. Nos anos 1980, a dupla criou uma série de registos marcantes, assentes numa sonoridade electrónica pós-industrial, e não dá concertos há mais de uma década.
Na mesma noite haverá ainda Rafael Toral com, nas suas palavras, "electrónica pós-free-jazz", tendo a acompanhá-lo um duo de electrónica e bateria com Afonso Simões (Gala Drop, Curia). Para fim de festa, o objecto Protótipo [432] voltará à acção, para ser manipulado por Manuel Mota, Marco Franco e os The Producers.
Nas tardes dos três dias, há trabalhos em vídeo a passar em contínuo na sala de audiovisuais da Faculdade de Belas Artes de Lisboa, tendo como ponto de partida a arte sonora.
Via Público