Vivem numa era em que tudo parece descartável, nomeadamente as relações. Mas será que a forma como os adolescentes namoram é assim tão diferente da dos seus pais? E quanto ao primeiro beijo, ao sexo e às traições amorosas? "Não há muitas diferenças a assinalar", concluiu o sociólogo José Machado Pais, autor do livro Sexualidade e Afectos Juvenis, que é lançado hoje à tarde no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.
Depois de vários meses a discutir com jovens e respectivos pais questões como o casamento, divórcio e traições amorosas, o coordenador do ICS concluiu que a grande ruptura não se deu entre quem tem hoje entre 15 e 17 anos e os seus pais, mas entre estes e os seus predecessores, ou seja, os avôs.
"Os pais destes jovens teriam à volta de 20 anos, quando se deu o 25 de Abril, e tendem a demonstrar em relação aos seus filhos uma permissividade que surge como reacção à repressão de que foram vítimas, quando eram jovens, sobretudo as raparigas", adianta Machado Pais. O sociólogo diz mesmo ter ouvido nos grupos de discussão que promoveu em três escolas do país "alguns jovens queixarem-se de um excesso de liberdade".
"A forma de tratamento entre os jovens entrevistados e os seus pais é 'tu', enquanto estes tratavam os pais por 'você' ou mesmo 'vossemecê' e isso é significativo de uma mudança de um relacionamento verticalizado para um mais horizontalizado, em que os pais assumem um estatuto de amigos. E isso, às vezes, confunde-se com uma quase demissão da obrigação de disciplinar e orientar."
Quanto às semelhanças, na geração dos rapazes mais novos "persistem tiques de um machismo que não desapareceu". "Na geração predecessora, a iniciação sexual, nomeadamente nos meios rurais, fazia-se com recurso a prostitutas, onde a dimensão afectiva está ausente", contextualiza Machado Pais. "Entre os rapazes de agora continua a haver uma pressão para a iniciação sexual dirigida aos rapazes que ainda não se iniciaram sexualmente, e isso leva a que alguns se sintam impelidos à iniciação sexual desvinculada dos afectos." Já entre as raparigas, e agora como dantes, mantém-se "uma maior propensão para valorizarem a dimensão romântica e afectiva".
Quanto ao divórcio, consenso geral entre os jovens. "Todos dizem que, se um casamento não resulta, não vale a pena estar a prolongar uma situação de sofrimento", relata o investigador, admitindo que tal unanimidade poderá advir parcialmente do facto de alguns destes jovens "serem filhos de casamentos infelizes e não se sentirem confortáveis com as discussões quotidianas que presenciam".
Retirado do Público