Nos últimos 30 anos perdemos em média 28% da biodiversidade mundial, segundo o “Planeta Vivo 2012” (“Living Planet 2012”), relatório que a WWF (Fundo Mundial da Natureza) elabora de dois em dois anos para avaliar o estado das espécies no mundo e a pressão humana sobre os recursos naturais.
As espécies mais ameaçadas estão nas regiões tropicais e nos rios e lagos. Segundo o relatório, entre 1970 e 2008, as zonas tropicais do planeta registaram declínios de 60% e as espécies de água doce, 70%, “o maior decréscimo de sempre face a outra qualquer espécie terrestre ou marinha”. Estas percentagens basearam-se no estudo de 9014 populações de 2688 espécies de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. “Algumas populações aumentaram de tamanho durante o período em que foram monitorizadas, mas outras diminuíram [como o atum-rabilho e o albatroz-viajeiro]. Em média, a magnitude das reduções populacionais excedeu a dos aumentos”, segundo o relatório.
A perda da biodiversidade é um dos indicadores do estado do planeta, que nos últimos anos tem sido marcado pelo aumento do consumo e exploração dos recursos naturais. “Vivemos como se tivéssemos um planeta extra à nossa disposição”, disse Jim Leape, director-geral da WWF Internacional. “Utilizamos 50% mais recursos do que aqueles que a Terra pode produzir de forma sustentável e, se nada mudar, até 2030 nem dois planetas serão suficientes”, acrescentou.
Desde 1961, tem aumentado a pegada ecológica per capita (esta medida estima qual a área terrestre biologicamente produtiva e a água necessária para fornecer recursos às pessoas), especialmente na União Europeia e na Ásia Central e Oriental.
Ainda assim, são enormes as diferenças entre as pegadas ecológicas, sendo a dos países ricos cinco vezes maior que a dos países pobres. Segundo o relatório, os países com maior pegada ecológica per capita são o Qatar, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Dinamarca, Estados Unidos, Bélgica, Austrália, Canadá, Holanda e Irlanda. Portugal está na 39.ª posição, num total de 233 países.
O relatório salienta também o impacto da urbanização. Hoje, 50% das pessoas vive em zonas urbanas. “Globalmente, os habitantes das cidades são responsáveis por mais de 70% das emissões de dióxido de carbono relacionadas com os combustíveis fósseis”, escreve o estudo. Em 2050, quando a população mundial tiver chegado aos 9300 milhões de habitantes, duas em cada três pessoas viverão nas cidades.
“Este relatório é como um check-up do planeta e os resultados mostram que o nosso planeta está muito doente”, disse Jonathan Baillie, da Sociedade Zoológica de Londres e co-autor do relatório. “Ignorar este diagnóstico trará grandes consequências para a humanidade. Podemos restabelecer a saúde do planeta, mas apenas se atacarmos a raiz do problema: o consumo em excesso.”
O relatório, publicado a cinco semanas da Cimeira Rio+20 – que marca os 20 anos desde a primeira Cimeira da Terra, em 1992 –, sugere que a humanidade pode ser mais sustentável, com um uso mais eficiente da energia e uma redução dos consumos. Para os líderes mundiais que se vão reunir no Rio de Janeiro, a WWF propõe o aumento da rede de áreas protegidas, o restauro de habitats, das energias renováveis, da eficiência energética, além de dar valor à natureza.
“A Cimeira Rio+20 será uma oportunidade para os líderes políticos se prepararem para enfrentar os desafios ambientais destacados no Relatório Planeta Vivo de 2012”, segundo a WWF.
No ticia do Público