Às vezes, chegar lá pode ser mais difícil do que a gente imagina. NOVA investiga o distúrbio que é o maior desmancha-prazer feminino.
NOVA lança o desafio: pule esta reportagem agora quem nunca perdeu um orgasmo na vida. Continua lendo? Não está sozinha. Muitas de nós sofrem com a anorgasmia, disfunção que dificulta ou, em casos extremos, nos impede de atingir o clímax, o topo da excitação, o céu. Existem quatro tipos. O mais comum, chamado situacional, faz com que só consigamos com determinadas carícias (masturbação, por exemplo). Além dele, também tem o primário, caso de quem nunca nem sequer experimentou; o secundário, quando a gente de repente para de ir aos finalmentes; e o total, quando nenhum estímulo é suficiente para nos fazer chegar láhhh. A disfunção é mesmo uma das maiores vilãs do êxtase feminino. Por sorte, NOVA sabe como combatê-la.
Conhecendo o inimigo
A anorgasmia tem várias causas — e nem todas são psicológicas. Por isso, os terapeutas aconselham nunca achar que as dificuldades só existem na sua cabeça nem guardar suas angústias e dúvidas (conte tudo a quem pode ajudar, começando por uma conversa franca com o médico). Elas podem ter sido desencadeadas por cicatrizes ou danos aos nervos provocados por cirurgias ginecológicas. Fora o uso de drogas, álcool ou certos medicamentos, como os que controlam a pressão arterial, os antiestamínicos e os antidepressivos. Que o diga a empresária paulistana Mariana, 26 anos: “Estava trabalhando e fazendo pós-graduação, o que é barra pesada. Para complicar ainda mais, meu namorado foi transferido para o Rio. Não conseguia dormir e me sentia tão destruída que fui ao médico. Ele receitou antidepressivos e pílula contra ansiedade.” A insônia sumiu, mas, quando foi passar um feriadão com o lindo, descobriu os efeitos colaterais. “Nem sentia vontade de transar. Na cama, parecia uma morta-viva e me peguei pensando: ‘Será que ele não vai se satisfazer de uma vez para acabar logo com isso?” Percebendo que Mariana não era mais a mesma, o namorado até sugeriu procurarem estímulos extras em uma sex shop. Diz ela que saíram da loja com a sacola cheia de brinquedinhos, vibradores e livros. Deu certo. Não chegou a ser uma glória na primeira vez, mas o tesão aumentou e facilitou o orgasmo — embora tenha demorado mais que de costume. De volta a São Paulo, a moça conversou com o terapeuta, que a ajudou a conciliar os remédios com o desejo. Mariana acabou dispensando os antidepressivos antes do que imaginava.
No caminho do prazer
Excluída uma causa física, vale checar o fator emocional. São desmancha-prazeres de marca maior a própria ansiedade de ter um orgasmo, a culpa provocada por uma educação sexual rígida, alguma crença religiosa ou cultural que interfere no prazer, além do medo de engravidar ou de pegar uma doença sexualmente transmissível. O tratamento varia, óbvio, dependendo do tipo de anorgasmia. Para quem nunca experimentou essa explosão de sensações (cerca de 5 a 10% das mulheres), os terapeutas tentam ajudá-la a relaxar e se sentir segura, aumentando a sua capacidade de reagir positivamente aos estímulos sexuais. É o caso da mulher que está ansiosa achando que não vai conseguir ou assustada com a possibilidade de se descontrolar ou ainda fisicamente incomodada sem saber o que esperar. “Já as que sofrem da secundária só precisam aprender novos truques para chegar lá — afinal, já conhecem o caminho e sabem que são capazes de trilhá-lo”, explica Elna McIntosh, terapeuta sexual e uma das maiores autoridades no assunto. No caso da anorgasmia em situações específicas, a mulher precisa de ajuda para identificar as circunstâncias favoráveis e, em seguida, melhorar sua comunicação.
Aconteceu com a dentista Juliane, de 24 anos, que teve a primeira experiência sexual quando tinha 17 anos. “Demorei para me decidir, mas fiz porque queria, e não por pressão do namorado. Apesar disso, na hora H, entrei em pânico. Tanto que contrai demais os músculos da vagina e a penetração foi superdolorosa. Minha vontade era pular da cama e correr para casa”, diz. A experiência ruim se repetiu com outros parceiros. Apesar de sentir vontade de transar, ficava tão tensa que tornava o ato quase impossível. Não é surpresa que não soubesse o que era um grand finale. Nem mesmo com a masturbação. Durante anos, fez vários tratamentos e visitou uma lista de médicos. “Um deles chegou a dizer que eu precisava operar para aumentar a abertura da vagina e cortar alguns músculos. Só não encarei a mesa de cirurgia porque morri de medo”, lembra. Um namorado apaixonado e sensível sugeriu recorrerem à terapia juntos. O primeiro alívio foi descobrir que seu problema era comum — estima-se que 70% das mulheres ficam ou já ficaram a ver navios. Depois de alguns meses de sessões, com direito a exercícios e orientações de como tocar o outro, o casal finalmente espantou o grande vilão da cama. “Não aconteceu de uma hora para outra. Vivemos um processo lento, mas surpreendente. O primeiro orgasmo foi totalmente inesperado. Caí no choro de felicidade.”
Retirado de Nova