O manifesto Igreja 2011: Uma renovação indispensável (Kirche 2011: Ein notwendiger Aufbruch, em alemão) foi criado por teólogos alemães e anunciado no início de Fevereiro, levando a uma grande discussão nos órgãos de comunicação social de todo o mundo.
O documento fala de uma «crise profunda» que atravessa a Igreja Católica e pede, entre outras coisas, o fim do celibato obrigatório,«mulheres em serviço eclesial» e a «não exclusão das pessoas que vivem responsavelmente o amor numa relação homossexual».
Em declarações à Lusa, o padre Jacinto Farias apontou que «estes manifestos têm o valor que têm» e que «a posição da Igreja é muita clara» em relação ao celibato dos sacerdotes.
Assume que não assinaria o manifesto, mas não se mostra contra que a Igreja Católica discuta a obrigatoriedade do celibato dos sacerdotes nas mais altas instâncias, lembrando, no entanto, que «o celibato tem sido objecto de discussão desde o princípio do cristianismo».
«Que se continue a discutir tudo bem, o que não significa que o pensar da Igreja se vá alterar só porque grupos de cristãos são contra qualquer coisa. A igreja tem um pensamento que foi criando ao longo dos séculos em conformidade com aquilo que é o Evangelho e é constante», defendeu.
Já o Padre Peter Stilwell entende que a discussão sobre a obrigatoriedade do celibato tem a ver com o poder haver a ordenação de homens casados para ajudar a garantir o funcionamento da Igreja do ponto de vista dos sacramentos.
«A maior parte dos sacramentos só pode ser celebrada por bispos ou padres e a redução do número de padres nalguns países significa que algumas comunidades se vêm limitadas na celebração dos seus sacramentos e a argumentação teológica vai no sentido de saber até que ponto uma questão de disciplina se deve sobrepor ao direito que as comunidades têm de viver e celebrar os sacramentos», defendeu.
Um ponto de vista com o qual o professor da Faculdade de Teologia de Braga João Duque não concorda, defendendo que a crise do Cristianismo não é uma crise de vocações, mas antes uma crise de crentes e que, por isso, a questão do celibato «não traria grande acrescento à questão do entusiasmo maior ou menor dos europeus em relação à Igreja Católica».
Lembrou que a questão do celibato foi muitas vezes discutida em vários Sínodos, mas admite que sendo uma questão de disciplina, é algo que a Igreja pode mudar.
Defendeu que em geral o clero está disponível para discutir, mas lembrou que haver mudança nesta matéria «implica que haja um consenso muito alargado porque se vai alterar uma disciplina de séculos».
Via Sol