Apesar de todos os indícios, posso assegurar que o Estádio da Luz não foi construído com o mesmo conceito arquitectónico da Avenida dos aliados. Aliás, há diferenças óbvias entre a concepção de um arruamento de 250 metros e a edificação de um parque de festas para entretém periódico dos tripeiros. Acompanhei os festejos a meio caminho, à saída da portagem de Taveiro hesitei entre seguir A1 para Norte ou para Sul. Acabei por ficar na berma a ouvir conferências de imprensa enquanto me decidia, no entretanto fui apitando em jeito de festa até acordar com aquele silêncio da solfagem que se segue è morte da bateria. Antes disso, antes mesmo de ser vandalizado por uma multa por estacionamento indevido, isto às 9 da manhã, ouvi as palavras que melhor captam a insigne ode ao título ontem conquistado.
Villas-Boas (V-B), assumindo-se como treinador adepto, o último de uma linhagem que remonta a António Oliveira, lembrava de como já tinha sido feliz no Estádio Da Luz. Com 20 anos V-B estava em Lisboa num estágio que aparentemente consistiria em acompanhar os treinos do Sporting. Como o fastio das noites da Pensão Alegria o torturasse, lá se decidiu a ir sozinho a ver um jogo da super-taça ao velho estádio da luz. Não pôde festejar os 5 golos do Porto porque lá se lembrou que era muito novo para ser selvaticamente linchado (há experiências que devem ser saboreadas com outra maturidade). A história de Villas-Boas e do seu encontro primordial com Bobby Robson repõe a questão do amor à camisola entre os profissionais da bola (refiro-me aos agentes desportivos que não pelo conceito de Ricardo Costa). Só por isso, não poderia agradecer o suficiente a Villas-Boas por este título. O velho futebol da paixão de bairro com a labor cosmopolita de quem, das ilhas virgens à Mata-Real, já sabe mais de bola que muitos anciãos dados à bazófia.
Bruno Sena Martins
Via Arrastão