Festival de Almada é "pólo de resistência"
Depois de algumas dúvidas o Festival de Almada 2012 foi mesmo levado a bom porto e esta sexta-feira, 22 de Junho, Rodrigo Francisco, director-adjunto do festival, apresentou uma programação “de qualidade” mas inevitavelmente marcada pelas difíceis circunstâncias económicas e financeiras que o teatro atravessa.
De 04 a 18 de Julho a 29ª edição daquele que é um dos festivais lusos com maior projecção internacional no campo das artes, vai trazer a 11 salas de Almada, Lisboa e a novidade Braga, propostas diversificadas. Teatro, dança, pantomina e novo circo, é esta conjugação em que pensou Joaquim Benite, director do evento, e cujo nome foi invariavelmente bajulado por todos os que marcaram presença nesta apresentação pública.
“Com trabalho de parceria pode-se fazer muito com pouco”, palavra de Rodrigo Francisco e que se comprovam ao olhar para o nome de Peter Stein, o mítico director da Schaubühne de Berlim que subirá ao palco do Teatro Municipal S. Luiz, uma estreia nacional, para o recital de poesia “Fantasia Fausto”, excertos do “Fausto” de Goethe acompanhados apenas pelo pianista Giovanni Vitaletti. No dia 05 de Julho estará disponível para conversar com público e jornalistas no mesmo espaço.
A cultura em Portugal atravessa tempos extremamente complicados, com cortes orçamentais sucessivos - como os 38% para todas as companhias de teatro, cortesia da Direcção Geral das Artes - e por isso Francisco definiu esta edição como “um pólo de resistência, que insiste em ser artisticamente relevante e tematicamente actual”.
Israel Galvan, um dos principais nomes do flamenco contemporâneo, abre o festival no dia 04 de Julho com “A Idade de Ouro”. Depois disso os destaques são muitos, além do já falado Peter Stein.
A Fundação Pontedera Teatro revisita o Livro do Desassossgeo de Fernando Pessoa em duas performances – “ábito” e “Lisboa”.
A religião e o conflito religioso serão estrinçados em "A Véspera do dia final" , do israelita Yael Ronen e que promete dar muito que falar.
O encenador suíço Christoph Marthaler esteve seis anos em negociações com a equipa do festival e chega finalmente com a peça "+ - 0=1- um acampamento subárctico", mais um dos seus trabalhos de questionamento da sociedade europeia.
Passando pelo novo circo, com paragem numa terra de ninguém, Aurélia Thierrée Chaplin (neta de Charlie Chaplin) estará na Culturgest para apresentar o seu "Murmúrios dos Muros".
Nas produções nacionais, destaque, em primeiro lugar, para o regresso de Ricardo Pais à encenação (dado destacado pelo próprio durante a apresentação de hoje) na recriação de "O Mercador de Veneza", protagonizado ppelos actores João Reis e Albano Jerónimo.
Já o Teatro Meridional traz "O Sr.Ibrahim e as flores do corão" e a Companhia Nacional de Bailado repõe “Sagração da Primavera” de Olga Roriz, acompanhada pela curta "La Valse" de Rui Horta e João Botelho.
A actriz Cecília Guimarães é a personalidade do mundo do teatro homenageada em 2012.
Retirado de HardMúsica
Como diz Joaquim Benite, o carismático encenador e director do festival, num texto distribuído à imprensa «e assim – graças à crise – o Festival de Almada torna-se provavelmente mais forte e combativo. E prepara-se melhor para o futuro».
É com espírito de missão que a pequena equipa de Almada encara a responsabilidade de montar um festival «com a mesma qualidade de sempre, embora com menos cerca de 100 mil euros» (o valor exacto deste ano, obtido com recurso a novos patrocínios, é de 580 mil euros).
Ferruccio Soleri, o mítico Arlequim, actualmente com 82 anos, e que desde 1963 interpreta a personagem, é o homenageado deste ano. Retratos da Commedia Dell’Arte é a peça que traz ao Teatro Nacional de São João (TNSJ), dia 13, ao CCB , a 14, fechando o festival, a 18, em Almada. «Ele é o maior Arlequim do século XX, o maior especialista mundial de Commedia Dell’Arte», considera Benite.
«O nome mais forte do festival» é, segundo o seu director, Patrice Chéreau. O director do Théàtre de La Ville de Paris, e um dos maiores encenadores franceses, traz I Am the Wind, de Jon Fosse (numa colaboração com o londrino Young Vic) no dia 17, ao Teatro Municipal de Almada. Nome sonante do cartaz é também Joël Pommerat. O seu mais recente espectáculo, Círculos/Ficções, terá três actuações no D.Maria II.
Solveig Nordlund encena Do Amor, a peça mais recente do sueco Lars Noren, voltando assim ao autor com o qual se estreou como encenadora. «É uma peça minimalista, sobre onde acaba e começa o amor e sobre a importância de ter filhos», explica Solveig. Do Amor é uma das 11 peças produzidas de propósito para esta edição, nas quais se inclui a encenação por Joaquim Benite de A Rainha Louca, de Alexandre Delgado.
Os 29 espectáculos programados (alguns repetem) desenrolam-se em 14 palcos, incluindo, além das salas de Almada, vários teatros da capital (como o D.Maria II ou o São Luiz) e o TNSJ. E pela primeira vez o festival vai a Coimbra.
Mas apesar da diversidade, assegura Benite, o programa foi desenhado para que um espectador ávido consiga ver todas as peças. «No ano passado houve seis pessoas que nos garantiram que viram o festival todo!». O preço do ‘passe’ é 70 euros, mais barato que um festival de rock . E os desempregados não pagam nas salas de Almada.
Via Sol