As palavras do Presidente – o primeiro líder dos Estados Unidos a defender a legalização do casamento gay –, foram imediatamente elogiadas por organizações de defesa dos direitos dos homossexuais e direitos humanos como a Human Rights Campaign, estão a ser classificadas por alguns comentadores como a mais importante declaração política em termos de direitos cívicos desde a luta para pôr fim à segregação racial, nos anos 50.
A entrevista foi difundida quando já se aproximam as presidenciais de Novembro e um dia depois de o eleitorado da Carolina do Norte ter aprovado, em referendo, uma reforma constitucional que proíbe o casamento e até mesmo as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo naquele estado. Obama confessou sentir-se “desiludido” com o resultado da votação, que considerou “discriminatório contra os gays e lésbicas”.
“É importante para mim afirmar que penso que as pessoas do mesmo sexo devem poder casar”, disse o Presidente, assumindo a posição que o seu vice-presidente, Joe Biden, um católico, já havia manifestado no passado fim-de-semana, e que o secretário da Educação, Arne Duncan, tinha repetido uns dias depois. Quando se candidatou à Casa Branca em 2008, Barack Obama disse que se opunha ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas ontem, quando pressionado para clarificar qual a posição da sua Administração sobre o assunto, admitiu que a sua opinião tinha “evoluído” e que considerava que casais homossexuais deveriam ter o mesmo direito ao casamento que os casais heterossexuais.
Obama enumerou as várias iniciativas do seu Governo em defesa dos direitos dos homossexuais, a mais notória das quais a abolição da política militar que ficou consagrada no regulamento “Don’t Ask, Don’t Tell” [Não Pergunte, Não Diga], e que obrigava os militares norte-americanos a manterem segredo sobre a sua orientação sexual. A sua Administração também decidiu conceder aos membros gay do corpo diplomático que vivem em união de facto os mesmos direitos reservados aos casais heterossexuais, e instruiu o Departamento de Justiça a desistir de todos os processos judiciais para a aplicação do “Defense of Marriage Act”, uma legislação que fixa o casamento exclusivamente como uma união entre um homem e uma mulher.
“Hesitei a determinada altura quanto ao casamento, em parte por pensar que as uniões civis seriam suficientes”, adiantou Obama. “Fui sensível ao facto de, para muitas pessoas, a palavra casamento evocar tradições e crenças religiosas”. A posição agora assumida, adiantou o Presidente norte-americano, resultou de conversas “com amigos, família e vizinhos”, e resultou também do exemplo de pessoas que trabalham com ele.
“Quando penso em membros do meu próprio staff que são incrivelmente empenhados nas suas relações com pessoas do mesmo sexo, que educam crianças, quando penso nos soldados, fuzileiros ou marinheiros que combateram em nome do país e ainda se sentem constrangidos, mesmo após o fim da [política] ‘Don’t Ask, Don’t Tell’, concluo que para mim é importante afirmar que as pessoas do mesmo sexo devem poder casar”, notou.
As declarações de Obama só vêm acentuar o contraste com o seu presumível adversário republicano Mitt Romney, que ao longo da campanha tem repetido a sua firme oposição ao casamento gay e que é favorável à aprovação de uma emenda constitucional para consagrar essa proibição. Tal como o Presidente, a opinião pública norte-americana tem “evoluído” no sentido da aceitação do casamento gay – segundo os números da Gallup, 52% aprovam o direito dos casais gay ao casamento. E os dados do instituto independente Pew Research Center sugerem que, politicamente, Obama poderá beneficiar da sua posição, uma vez que 47% dos eleitores dos chamados swing-states (os estados que oscilam no voto e decidem as eleições) concordam com o casamento gay, contra 37% que se opõem.