No colóquio sobre PMA na Fundação Calouste Gulbenkian, os representantes de todos os grupos parlamentares mostraram abertura à aprovação da maternidade de substituição, em casos em que a mulher esteja fisicamente impossibilitada de gerar filhos, por motivos uterinos. «Preferimos a expressão maternidade de substituição [a barrigas de aluguer] devido aos riscos de mercantilização da vida humana», afirmou o deputado do PSD, acrescentando que aceitaria esta prática de PMA num casal heterossexual, «em caso de ausência de útero da mulher».
Já o presidente do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA), o juiz desembargador Eurico Reis, fez saber que vê com bons olhos a utilização das técnicas de PMA em casais heterossexuais, «que não devem ser hostilizados». «É preciso lembrar que é de pessoas e de sofrimento que estamos a falar», reagiu o presidente do CNPMA.
Também os restantes representantes dos partidos presentes no encontro desta terça-feira revelaram uma posição favorável à maternidade de substituição, enquanto «método de subsidiar a procriação e não alternativo».
«Os progressos da ciência devem estar ao serviço dos cidadãos», considerou o deputado socialista Manuel Pizarro, acrescentando que também o seu partido aceita a maternidade de substituição «em condições excepcionais».
Para o Bloco de Esquerda, esta é uma questão que deve ir mais longe, estendendo a maternidade de substituição a pessoas que não sejam casadas, como mulheres sozinhas. «A Natureza não exige a ninguém que seja casado para procriar», defendeu o deputado João Semedo, do BE.
Além disso, o BE advoga a possibilidade de a maternidade de substituição tornar-se um método alternativo de procriação, «mesmo para casais férteis».
O partido Os Verdes partilha estes princípios. Apenas o CDS não revelou o sentido do seu voto.
De resto, o deputado do PSD sublinhou que este «não é um tema de coligação» e que os sociais-democratas vão ter liberdade de voto no projecto de lei.
Via Sol
As leis são feitas para pessoas mas, quando a Assembleia da República discutir a maternidade de substituição, os deputados poderão não saber de quem estão falar. São homens e mulheres que escondem o desejo de ter um filho como se planeassem um crime e que aprenderam a calar-se para não se sentirem julgados. Fazem-no tão bem ou tão mal que vivem entre nós e não damos por eles.
Manuel liga para o número de telemóvel que lhe foi dado por um médico, que serviu de intermediário. Ele conhece o nome da jornalista a quem está a telefonar, mas ela não sabe o seu nome. Foi o combinado. No primeiro telefonema, diz que não decidiu ainda, se aceitará dar o seu testemunho. "A maior parte das pessoas não entende isto, nem sei se vale a pena explicar."
Via Público