Nasceu em Caracas, na Venezuela e viveu aí até aos seus 19 anos. O que a trouxe para Portugal?
Os meus pais são da Venezuela, mas embora os meus avós lá vivam, são todos da Madeira. Eu nasci em Caracas, onde estudei Arquitectura durante um ano. Depois, quando quis mudar de curso, os meus pais deixaram-me ir para fora e eu fui para a ilha da Madeira. Tentei entrar depois na Universidade Nova de Lisboa e consegui. Já tinha vindo a Portugal de férias, e gostei da língua. Percebi que espanhol era diferente de português e aprendi a língua durante quatro anos – três deles em Caracas e o último na Madeira. Gosto muito de estudar e tenho jeito para línguas. De momento, estou no segundo melhor mestrado do mundo de gestão internacional.
Já está há dois anos em Lisboa. O que acha da cidade? Sente-se bem aqui?
A primeira vez que cá vim tinha 16 anos. Foi o meu presente de aniversário. Visitámos Lisboa, o Porto e a ilha da Madeira. Acho a cidade linda, mas as pessoas não dão o devido valor à paisagem. Há quem fale de Londres, de Paris, mas Lisboa é tão ou mais encantadora do que essas cidades. Por exemplo, Madrid tem uma arquitectura bonita, mas o urbanismo de Lisboa é mais bonito. Aqui o trânsito não é caótico como em São Paulo. Lisboa é uma cidade segura. Podes andar a pé o dia todo, podes correr ou estar numa esplanada. Há coisas boas que podes fazer sem gastar dinheiro. Há muitos pormenorezinhos bonitos, como monumentos, cafés, jardins, o rio, a ponte.
Pela forma como se refere a Lisboa, percebe-se que viveu insegura em Caracas. Como é viver lá?
Eu adoro Caracas. Tinha lá a minha vida, a minha família, os meus amigos, as minhas coisinhas. Começar do zero noutro país foi difícil, mas Caracas é a segunda cidade mais perigosa do mundo. Nunca me aconteceu nada, porque sempre tive cuidado, mas vivia stressada. Há muitos sequestros. Lá existe uma grande diferença de classes sociais. Uma é muito pobre e a outra é muito rica, e os sequestradores raptam e pedem um valor exorbitante. Acabas por não viver. Andar na rua sozinha é uma loucura, sair à noite com os teus amigos é impensável! Gosto muito de usar relógios, mas escondia o relógio debaixo do tapete do carro quando vinha da faculdade de Arquitectura, e mais do que uma vez vinha assustada. Saía tarde das aulas e conduzia sozinha. A minha mãe ligava-me dez mil vezes. Estando em Lisboa, apercebi-me mais da insegurança em que costumava viver.
É licenciada em gestão, começou agora o mestrado em gestão internacional na Universidade Nova, mas parte dos tempos livres ocupa-os como modelo. Os seus pais têm-na apoiado?
Sempre, desde que eu dê prioridade aos estudos. Se não tivesse sido assim, os meus pais não me tinham deixado continuar. Tenho de escolher os melhores caminhos para mim, e ser modelo é apenas um hobby.
Qual a profissão que quer seguir?
Quando estudei Arquitectura, percebi que tinha mais jeito para Gestão do que para desenho. Sempre quis ser arquitecta para desenhar um restaurante que depois fosse meu e que eu gerisse. Mas perdeu o sentido estar a estudar Arquitectura. Gosto é de Gestão, e esforço-me para ter sucesso. Inicialmente, gostava de trabalhar para uma empresa de produtos de consumo diário, que se vendam no supermercado, por exemplo. Gosto de estratégia, mas só lá chegas daqui a uns anos. Gosto muito de marketing, mas existe muita gente nessa área. Gostava de ter a minha própria empresa, gerir uma marca que conseguisse atingir vários segmentos de mercado.
O que fazes para te manter em forma e bonita?
Por acaso sou um desastre, muito despistada. Gosto de ir ao ginásio, mas não tenho tempo. Tento não comer fritos, mas adoro doces, o que acaba por ser a mesma coisa. Comer doces e beber café é algo que faço todos os dias. É realmente um problema, porque tenho o colesterol elevado. Mas como ando sempre a correr, isso é o meu desporto. Tenho cuidados normais com o cabelo, com a pele. Bebo sempre água e nunca refrigerantes. Janto coisas ligeirinhas, como sopas, sandes, saladas, bebo um chazinho à noite. Não sou muito de me maquilhar. Mesmo quando vou sair à noite, maquilho-me pouquinho. Quando estive no concurso Miss Universo, maquilhava-me de levezinho e parecia quase desmaquilhada ao pé das outras concorrentes. De manhã e à noite ponho creme hidratante no rosto. A minha mãe tem um rosto de jovem por causa desses cuidados. Ela cuida de mim e diz “Laura, penteia-te” ou “Laura, essa roupa não te fica bem”. É a minha conselheira.
Qual a arma mais importante para uma modelo: a beleza ou a atitude?
Acho que é muito a atitude. É essencial para qualquer pessoa e em qualquer aspecto da vida. Há modelos que não têm tanta beleza, mas têm uma atitude incrível quando desfilam ou são fotografadas. Há mulheres bonitas que não transmitem nada.
Depois de venceres o concurso Cabelo Pantene 2009, como surgiu a oportunidade de ser Miss Portugal?
Como havia pouco tempo, vieram buscar modelos às agências e fez-se um pequeno concurso. Perguntaram-me se eu gostava de participar e eu aceitei, mas nem pensei muito nisso. Nem estava à espera de ganhar. Quando ganhei, fiquei com medo de não me encaixar no concurso, de não me identificar com nenhuma das concorrentes... Lá, descobri mulheres fúteis, mas havia muitas outras incríveis, que entraram no concurso com objectivos concretos, como para fazer um pouco de política, para dar o exemplo da Miss Índia, que é advogada em Nova Iorque. Conheces pessoas de todos os cantos do mundo, com que dificilmente falarias noutra situação. Mulheres do Sri Lanka, da Austrália, da Sérvia, da Malásia. A partilha de culturas é fascinante.
Já muitas das vencedoras do concurso Miss Universo foram venezuelanas. Acha que o facto de ter crescido e sido educada de acordo com a cultura venezuelana terá contribuído para a atitude que adoptou durante o concurso? Será que foi essa atitude que a conduziu às dez finalistas?
Eu morei lá 19 anos da minha vida e acho que a cultura e a minha educação lá modelaram muito a minha personalidade. Nas quinze finalistas entrei por votação pela Internet, e poucos portugueses votaram, portanto acho que foi mais a publicidade de eu ter nascido na Venezuela que deu origem a tantos votos estrangeiros. Mas desfilei como desfilo cá. Não me formei para ser “miss”. Fui como sempre sou.
Como foi concorrer com 88 mulheres bonitas?
Todas as mulheres eram incrivelmente bonitas e isso assustou-me. Nunca pensei entrar num concurso destes. Só me imaginei como modelo. Não sou muito de andar de saltos altos, mas quando cheguei ao aeroporto arranjei-me. Disseram-me “ah, estás muito normal”. E eu depois percebi que as outras vinham com vestidos e ainda mais arranjadas. Há mulheres que treinam um ano antes de concorrer, que têm aulas de maquilhagem, de cabeleireiro, depasserelle, de saltos altos, de oratória. Eu só tive três semanas, mal tive tempo para me preparar. Aprendi cá e lá. Cabelo, zero. Eu nem uma escova levei! Era a Miss Brasil, a Priscila, que me ajudava. Havia dias em que eu saía de sabrinas e, de repente, nos jornais aparecia “a Miss Portugal é muito natural”.
O ambiente entre as concorrentes, antes e durante o concurso, era bom?
Ficámos juntas no [hotel] Hilton. Tive como companheira de quarto a Miss Bolívia e partilhávamos a mesmo supervisora com a Miss Brasil e a Miss Angola, das quais éramos vizinhas de quarto. Ficámos amigas e andávamos sempre juntas. A colega da Bolívia tentava ensinar-me a arranjar o cabelo.
Gostou da Miss Universo, a angolana Leila Lopes?
Gostei muito dela, e fiquei contente que ganhasse. A Priscila dizia que formávamos a “portuguese society”. Gostei que Angola tivesse ganho. É muito bonita e simpática. Foi muito bom ela ganhar, porque agora vai ter oportunidades maravilhosas.
Qual foi para si o maior desafio deste concurso?
Ter de acordar muito cedo, dormir muito pouco, e ter de estar sempre arranjada. Depois habituas-te e às seis da manhã já estás a maquilhar-te, antes de ir tomar o pequeno-almoço, porque em todo o lado estão a tirar-te fotos. Muitas desciam com óculos de sol para os fotógrafos não lhes tirarem fotografias sem maquilhagem. Na festa final, eu não conseguia dar um passo no hotel sem ser abordada e fotografada. O facto de terem sido três semanas com muita pressão. Dormes pouco, não falas com os teus pais sempre que queres. Questionas-te, começas a preocupar-te com os comentários que fazem sobre ti, porque sempre estás lá a representar Portugal, e queres fazer bem o teu trabalho. Tive de abdicar da presença dos meus pais. Os bilhetes eram caros, custavam 400 dólares cada, e não valia a pena gastarem tanto dinheiro só para me verem de noite.
Sempre que entrava em palco, durante o concurso, parecia muito segura e à-vontade. O público não a assusta?
Tu nem pensas nisso. Entras e só tens de sorrir para o júri e para as câmaras. Quando desfilei de biquíni pensei que era o meu último desfile e desfrutei ao máximo.
Estava à espera de chegar tão longe?
Na final, o meu objectivo era chegar às últimas quinze classificadas, e ao consegui-lo fiquei no céu! Quando entrei para as dez, fiquei mesmo nervosa, porque não estava à espera. Tinha medo das perguntas, e às vezes treinava com o meu tradutor o timming das respostas. Fiquei-me pelas dez finalistas e foi perfeito.