O treinador do Sporting, Sá Pinto, introduziu duas novidades na equipa inicial: André Martins jogou no lugar de Daniel Carriço, que surgiu no banco de suplentes, e Pereirinha substituiu o castigado Izmailov.
Os “leões”, que defendiam a vantagem (2-1) alcançada na primeira mão, em Alvalade, entraram bem no encontro em San Mamés. Mas foram os bascos os primeiros a marcar: Llorente amorteceu a bola e Susaeta fez o 1-0 de pé esquerdo (17’), colocando o Athletic na frente do marcador.
A equipa de Sá Pinto procurou então recuperar a vantagem na eliminatória. Na sequência de um canto, Polga obrigou Iraizoz a uma grande defesa (33’). Aos 42’ foi Rui Patrício a brilhar, voando para travar um remate de Llorente.
O golo dos “leões” surgiu aos 44’, por intermédio de Ricky van Wolfswinkel. Na sequência de um canto, a bola sobrou para o avançado holandês que, à entrada da área, restabeleceu o empate. Só que o 1-1 não durou muito tempo. Após um excelente trabalho trabalho de Llorente, Ibai Gómez recolocou o Athletic em vantagem, deixando a eliminatória empatada.
A segunda parte trouxe várias oportunidades de golo: Rui Patrício voltou a brilhar para travar o remate de Susaeta, e depois viu Llorente enviar a bola ao poste (52’). Passados dois minutos, foi Insúa a acertar nos ferros de Iraizoz, na sequência de um livre.
O Athletic continuou melhor, com Llorente a criar muitas dificuldades à defesa “leonina”. E foi o avançado internacional a resolver a partida e a eliminatória para a equipa de Marcelo Bielsa: após um bom trabalho de Ibai Gómez na esquerda, Llorente atirou a bola, que ainda bateu no poste antes de entrar (88’). Estava feito o 3-1 para o Athletic.
O golo de Llorente evitou o prolongamento e matou o sonho europeu do Sporting. A formação orientada por Sá Pinto falhou o objectivo de disputar uma terceira final europeia. Será a equipa basca a marcar presença na final da Liga Europa, dia 9 de Maio em Bucareste.
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A frase foi dita na véspera por Sá Pinto na sala de imprensa do Estádio de Alvalade, mas depois do jogo desta quinta-feira terá um novo impacto em Bilbau e valerá uma tradução para a língua basca: “Gu Sporting gara!”. Que é como quem diz: “Nós somos o Sporting!”. Uma grande exibição dos lisboetas valeu uma emocionante reviravolta no marcador e um justo triunfo no jogo da primeira mão das meias-finais da Liga Europa. O resultado, 2-1, só peca por escasso.
Não tem sido brilhante a temporada "leonina" a nível interno, mas a equipa tem tido um comportamento de campeão na UEFA. Alcançou a oitava vitória consecutiva em casa, onde não perde há 12 jogos para as competições europeias. A final ainda está longe de ser confirmada, mas nesta quinta-feira a equipa demonstrou que tem todas as condições de a alcançar. Pela primeira vez nos últimos dias, os sportinguistas esqueceram o caso Cardinal e as acusações que pairam sobre Paulo Pereira Cristóvão.
Não foi por falta de oportunidades que o Sporting saiu para o intervalo sem golos, após uma primeira parte bem disputada, com nota elevada para a equipa da casa. Bem estudado o adversário, os “leões” portugueses foram eficazes a anular os “leões” espanhóis (que é também a alcunha da equipa de Bilbau), retratados como uma espécie de Barcelona basco.
Com uma defesa irrepreensível (a única falha de marcação aconteceu no único lance de perigo criado pelo Athletic, aos 13’, com Llorente a cabecear, sem oposição, por cima da baliza) e um meio-campo extremamente combativo, a vencer a grande maioria dos duelos, os lisboetas foram menos agressivos em termos atacantes. Mas nem por isso deixaram de estar muito próximos do golo.
Podia ter surgido logo aos 9’, quando um perdulário Wolfswinkel, enquadrado com a baliza, com tempo e espaço, rematou ligeiramente ao lado. Seria o primeiro de vários lances ofensivos construídos por André Martins, chamado a render Matías Fernández, que ficou de fora por problemas musculares. O jovem médio não desiludiu e foi uma referência determinante em termos defensivos, com inúmeras recuperações de bola, e nas transições atacantes.
Nos derradeiros cinco minutos da primeira metade, o Sporting voltou a carregar no acelerador e, aos 43’, Wolfswinkel voltou a falhar o alvo. Mas mais chocante seria a perdida de Insúa que, sozinho perante Iraizoz, falhou o remate em cima dos 45’, após um veloz contra-ataque conduzido por Capel.
Mesmo sem golos, a exibição agradou aos adeptos sportinguistas, que aplaudiram a equipa quando o árbitro apitou para o intervalo.
Motivado, o Sporting regressou com o mesmo espírito e disposição para o reatamento, mas, aos 54’, iria inesperadamente ao tapete. Um livre cobrado por Susaeta encontrou, no segundo poste, o esquecido Aurtenetxe, que atirou para o fundo das redes de Rui Patrício. Os bascos comprovavam em Lisboa que os lances de bola parada são uma das suas especialidades.
E voltaram a demonstrá-lo cinco minutos depois, na sequência de um canto, apontado também por Susaeta, com Amorebieta a atirar ao poste direito da baliza leonina, aproveitando o desnorte momentâneo da equipa da casa, que sentiu muito o golo.
O Sporting demorou a responder, mas fê-lo, aos 69’, com o terceiro desperdício da noite de Wolfswinkel, após um excelente cruzamento de Capel, na direita. Falhou o ponta-de-lança, mas não perdoaria, sete minutos depois, o defesa esquerdo Insúa, com um cabeceamento espontâneo no centro da área.
O público em Alvalade foi ao rubro, pediu a reviravolta e esta seria servida com requinte, aos 80’. Izmailov (que viu o amarelo aos 60’ e irá falhar o jogo da segunda mão) conduziu o ataque, tocou para Capel, que atirou uma bomba de fora da área. Quatro minutos depois, o incansável espanhol era rendido por Pereirinha e aplaudido de pé enquanto abandonava o relvado. E estava ainda a sentar-se no banco quando Carrillo falhou incrivelmente o 3-1.
Será com uma vantagem mínima, mas com grande demonstração do seu potencial, que o Sporting vai decidir a passagem à final da Liga Europa, na próxima quinta-feira, em Bilbau.
POSITIVO
Sá Pinto
Guardiola pode considerar Bielsa o melhor treinador da actualidade, mas ontem o novato Sá Pinto deu uma lição ao argentino. Estudou muito bem o adversário e voltou a aproveitar em seu proveito alguma soberba do adversário.
Capel
O espanhol reencontrou o Athletic e foi um gigante. O golo coroa uma grande exibição.
Defesas esquerdos
Em dia de pouco acerto dos pontas-de-lança, foram os laterais esquerdos das duas equipas a abrirem o marcador para as duas equipas.
NEGATIVO
Athletic
Sai de Alvalade com um resultado negativo, mas lisonjeiro. Muitas vezes comparada ao Barcelona, a equipa basca de catalã não teve ontem nada.
Ficha de Jogo
Sporting, 2
Athletic Bilbau, 1
Jogo no Estádio José Alvalade, em Lisboa.
Assistência 37.286 espectadores.
Sporting Rui Patrício, João Pereira a67’, Anderson Polga, Xandão, Insúa, Carriço (Carrillo, 68’), Schaars, André Martins (Rubio, 76’), Izmailov a61’, Capel (Pereirinha, 84’) e Wolfswinkel. Treinador Sá Pinto
Ath. Bilbau Iraizoz, Iraola, Ekiza, Amorebieta, Aurtenetxe, De Marcos a11’, Iturraspe a29’, Ander Herrera (San José, 73’), Susaeta (Ibai, 83’), Muniain e Llorente a86’ (Toquero, 87’).Treinador Marcelo Bielsa
Árbitro Jonas Eriksson, da Suécia. Amarelos De Marcos (11’), Iturraspe (29’), Izmailov (61’), João Pereira (67’) e Llorente (86’).
Golos 0-1, Aurtenetxe, aos 54’; 1-1, por Insúa, aos 76’; 2-1, por Capel, aos 80’.
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Marcelo Bielsa foi "tentado pelo sentimento romântico do Athletic Bilbau", como o próprio técnico argentino reconheceu quando chegou a Espanha no início da época. Mas isso não o impediu de formatar uma equipa capaz de juntar a nota técnica à artística e de agradar à crítica e aos adeptos.
Perfeccionista e fã incondicional do futebol de ataque, Bielsa conseguiu dar equilíbrio e consistência a um Athletic que, em Espanha, é agora muitas vezes comparado ao Barcelona. Pela qualidade do seu jogo, pelo "tiki-taka" e até pelos elogios de Guardiola, que teve a suprema modéstia de afirmar que Bielsa "é o melhor treinador do planeta".
Mantendo uma capacidade física assinalável (raros são os jogadores com menos de 1,80m de altura), o Athletic também não perdeu a combatividade e a intensidade do seu jogo que, muitas das vezes, o faziam parecer um clube britânico. Mas o modelo de jogo evoluiu de forma indelével com Bielsa. Num clube em que a opção por só utilizar jogadores bascos contribui para inflacionar ainda mais o sentimento de pertença nos adeptos, subiu de forma clara esta época o nível de satisfação com os espectáculos proporcionados.
Esta equipa do Athletic Bilbau é muito diferente da que, em 1976-77, jogou e perdeu a final da Taça UEFA para a Juventus. Desde logo por ter uma média de idades muito baixa, na ordem dos 23 anos. E por combinar bem a agressividade com a audácia e o futebol vistoso.
O Athletic, que não ganha nenhum título oficial desde 1984, investiu numa nova geração de jogadores sem fazer um grande investimento. De facto, no conjunto das últimas sete épocas gastou apenas 37 milhões de euros na compra de jogadores, pouco mais do investido pelo Sporting em reforços só nesta época. A diferença é que o clube espanhol quase sempre resiste a vender as suas principais estrelas...
Estratégia
Muitos dos jogadores são polivalentes, capazes de desempenhar diferentes missões, como tanto agrada a Bielsa. O Athletic distingue-se também pela qualidade das bolas paradas ofensivas, para o que contribui em muito o avançado Llorente (apontou dez dos 19 golos de cabeça somados pela equipa). Mas também é verdade que uma fragilidade da equipa espanhola é o jogo aéreo na sua área. Outras são a permeabilidade do corredor central e a recuperação defensiva. O pressing alto é feito com precisão e acutilância, mas quando o adversário consegue passar aquela zona encontra muito espaço mal vigiado. Ou seja, o Athletic defende melhor no ataque do que na defesa. Lá atrás funciona um esquema assente quase apenas em marcações individuais, o que nem sempre resulta da melhor forma.
Ao contrário do que acontecia na selecção do Chile, onde investiu num ainda mais romântico 3x4x3, Bielsa montou o Athletic num 4x3x3. Mas é um esquema recheado de mobilidade e sempre aberto à mudança. No último jogo, quando importava guardar o golo de vantagem sobre o Maiorca, o técnico argentino não teve dúvidas em assumir o duplo pivot defensivo e em passar a jogar em 4x2x3x1.
Bielsa não fez poupanças nesse jogo, porque ainda não desistiu de apurar o clube basco para a Champions ou, no mínimo, para a Liga Europa. Do onze titular habitual, só não jogou o jovem extremo Muniain, que acusava uma inflamação ocular (viajou para Lisboa e, segundo Bielsa, deve jogar). O Athletic subiu à sétima posição da Liga espanhola e está apurado para a final da Taça do Rei, frente ao Barcelona.
Defesa
O guarda-redes é Iraizoz, experiente (31 anos) e alto (1,91m). Jogou cinco anos no Espanyol.
No lado direito da defesa, surge Iraola (29 anos/1,82m), tecnicista e muito ofensivo.
Um dos centrais é Amorebieta (27/1,92m), jogador imponente e capaz de fazer lançamentos longos. Descendente de bascos, nasceu na Venezuela, país que representa agora, já depois de ter passado pela selecção espanhola de sub-19.
O melhor jogador da defesa é Javi Martínez, que ficará de fora, a cumprir castigo. É um central adaptado comprado há cinco épocas ao Osasuna por seis milhões de euros. Tem 23 anos, mede 1,90m, gosta de iniciar a construção de jogo e há quem diga que José Mourinho o quer em Madrid. Quando é necessário guardar os resultados, pode subir no terreno para ajudar a formar o duplo pivot. O seu lugar deverá ser ocupado por Ekiza (24/1,80m), cujas fragilidades podem ser exploradas pelos jogadores mais rápidos do Sporting.
O jovem (20 anos) Aurtenetxe ocupa a lateral esquerda. Mede 1,82m e é um jogador apagado, que sobe pouco e muito faltoso.
Meio-campo
A posição seis é ocupada por Iturraspe (23/1,87m). Está no clube desde os dez anos, mas só se impôs na primeira equipa com Bielsa. Sabe ler bem o jogo e compensa bem as subidas do lateral direito.
Oscar De Marcos (23/1,80) é o interior direito, embora a sua polivalência lhe permita ocupar outros terrenos. Formado no Alavés, impôs-se com Bielsa. Tem um drible forte e é explosivo, o que lhe permite surgir amiúde nas costas dos pontas-de-lança.
No outro lado joga habitualmente Ander Herrera (22/1,81m). Foi contratado esta época ao Saragoça por 7,5 milhões de euros e a sua chegada ajudou em muito às elevadas percentagens de posse de bola que o Athletic é capaz de apresentar. Mas também sabe aproveitar os lançamentos longos que o clube não deixa de fazer aqui e ali. É talvez o jogador que mais marca o ritmo da equipa.
Ataque
No lado direito, deverá jogar Susaeta (24/1,74m). É veloz e forte nos cruzamentos e nas diagonais. Em grande forma, dá verticalidade e contribui para que a asa direita seja o ponto forte da equipa.
Na ala esquerda, costuma alinhar Muniain. Só tem 19 anos e mede apenas 1,69m, mas tem muita qualidade e já se estreou na selecção principal. Na liga espanhola, só marcou dois golos, mas na Liga Europa já soma cinco. Tem uma cláusula de rescisão de 38 milhões... Se não recuperar do problema no olho, o seu lugar deverá ser preenchido por Ibai (22/1,79m), um falso extremo que é muito forte nas bolas paradas.
O centro do ataque é ocupado pelo mediático e experiente Llorente, por muitos considerado o melhor ponta-de-lança espanhol da actualidade. No clube desde os infantis, esta época já marcou 27 golos em 45 jogos. É um jogador maduro (27 anos), possante e bom cabeceador, ou não medisse 1,95m e pesasse 94kg. O seu habitual suplente é Gabilondo (33/1,85m), que já passou pela Real Sociedad.
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