Identificação de 10 subtipos de cancro da mama, através dos códigos de ADN, permitirá evitar mortes assim como tratamentos desadequados e desnecessários. É uma investigação anglo-canadiana que conta com dois coordenadores portugueses.
A investigação cientifica anglo-canadiana, publicada na revista "Nature ", promete revolucionar os diagnósticos e tratamentos do cancro da mama mas vai demorar ainda bastantes anos até a generalidade das mulheres poder beneficiar inteiramente das novas descobertas.
Pela primeira vez, cientistas conseguiram identificar 10 subtipos de cancro da mama, cada qual com uma identificação genética única, o que permitirá estabelecer tratamentos diferenciados mais eficazes para cada um dos casos.
Os novos dados surgem da análise de 2000 amostras congeladas de tecidos com cancro da mama, recolhidos em mulheres britânicas e canadianas nos últimos dez anos.
Levada a cabo pela Cambridge University e pela University of British Columbia de Vancouver, a investigação recorreu às novas técnicas de análise de ADN, o que permitiu ir muito para além da análise tradicional dos tecidos, que apenas determina uma condição geral de cancro da mama, com três ou quatro variedades.
A investigação anglo-canadiana conta com dois coordenadores portugueses: Carlos Caldas, da Cambridge University, e Samuel Aparício, da British Columbia.
Novos tratamentos e novas drogas
A diferenciação em 10 subtipos permitirá aumentar significativamente as hipóteses de sobrevivência das mulheres afetadas, assim como evitar agressivos tratamentos desnecessários e desadequados, nomeadamente quimioterapia.
O Departamento de Saúde e Investigação do Cancro no Reino Unido deverá publicar ainda este ano uma análise do seu programa para o cancro da mama, que aponta para que até dez mulheres podem estar a ser submetidas a tratamentos desnecessários por cada vida que se salva.
A identificação de 10 subtipos de cancro da mama permitirá devenvolver novas drogas e tratamentos mais apropriados para cada um. "Não haverá já amanhã um teste para uma paciente que vá a uma clínica. O que (os novos dados) nos fornecem é um novo mapa do cancro da mama que nos ajudará a avançar para testes clinicos", afirmou Carlos Caldas ao "The Telegraph ".
A investigação irá avançar assim nos próximos anos com tratamentos experimentais a efetuar em grupos específicos de pacientes
Retirado do Expresso
Olho para a fotografia de uma mulher grávida, com a profunda cicatriz de uma mastectomia e não consigo deixar de me arrepiar e pensar que esta frase faz todo o sentido: "O cancro da mama não é uma fitinha cor de rosa". Arrepio-me não só pela crueza da imagem mas também pela serenidade que o olhar dela transmite. A serenidade dos que sobreviveram à sombra da morte.
Leio as mensagens sensibilizadas, deixadas por outras mulheres e multiplicam-se os casos não só de outras sobreviventes, como também de doentes prestes a serem operadas, que perceberam que não estavam sozinhas quando viram estas imagens. " Este livro ajudou-me a ter orgulho nas minhas cicatrizes", escreve uma, seguida de outra: " A beleza está na autenticidade de todas estas mulheres". Concordo.
E ao ler isto ecoa na minha cabeça uma frase que ouvi durante uma entrevista a uma sobrevivente de cancro da mama, que nunca mais esqueci: "Fiz o que todas as mastectomizadas têm de fazer: as pazes com o meu espelho". E sabendo que a velha frase do "isto só acontece aos outros" cada vez faz menos sentido, só consigo fechar os olhos enquanto repito um pensamento comum a tantos saltos altos: espero nunca ter de passar por isto.
O "Scar Project" foi já publicado em livro (que pode comprar aqui ) e deu origem também a um documentário. Tudo, "dedicado às mais de 10 mil mulheres com menos de 40 anos que, só neste ano, serão diagnosticadas". Os lucros revertem a favor de programas de investigação para o tratamento do cancro da mama, doença que continua a ser a principal causa de morte das mulheres entre os 35 e os 55 anos. Posto isto, lembrei-me de deixar aqui a sugestão: por que não pôr este livro num dos sapatinhos?
Via Expresso