Os Três Cervejeiros e uma cerveja feita lá em casa
A marca, a receita e o sabor. “As pessoas têm andado toda a vida a beber sumo de laranja enlatado e só agora vão provar o natural”
Não é tão fácil como arrancar a cápsula de uma garrafa e beber pelo gargalo, mas, diz quem sabe, a cerveja feita em casa é “the real thing”. A comparação é de Pedro Sousa, um terço de "Os Três Cervejeiros": “As pessoas têm andado toda a vida a beber sumo de laranja enlatado e só agora vão provar o natural”.
É cerveja. A cerveja. Genuína, não filtrada, 100% malte, sem conservantes nem corantes — apenas água, malte de cevada, lúpulo e levedura. É elaborada através de métodos artesanais e pode ser concebida lá em casa.
Inspirados pela cultura cervejeira europeia, "Os Três Cervejeiros" (Pedro Sousa, mestre cervejeiro, Alberto Abreu, agente imobiliário, e Arménio Martins, designer têxtil) são responsáveis pela nova cerveja artesanal "gourmet", produzida na cidade do Porto com a marca Sovina.
Paralelamente, o trio lançou o site Cerveja Artesanal, uma espécie de biblioteca com tutoriais detalhados sobre a produção de cerveja a partir de "kits", de extrato de malte ou de malte em grão.
Um litro por 0,70 euros
Aconselha-se que a primeira aventura neste mundo comece pelo "kit", um investimento inicial (58 euros) que inclui balde, torneira, 100 cápsulas (e um capsulador), desifectante, escovilhão, e borbulhador. Instalada a base de produção, cada litro de cerveja, que dura até um ano, fica a 0,70 euros.
No dia 3 de Março (das 10h às 13h e das 14h30 às 18h), Os Três Cervejeiros realizam um workshop de produção de cerveja artesanal a partir de malte em grão e de extracto de malte. O workshop (com direito a almoço) custa 60 euros.
“Tem muito mais sabor, mais aroma e é mais nutritiva do que a cerveja normal. É uma experiência sensorial”, garante Pedro Sousa, que deixa um último conselho para quem ainda bebe cerveja industrial: “É demasiado fácil fazer cerveja melhor”
Via P3
«É um conceito inovador em Portugal, que acreditamos que tem viabilidade. No próprio restaurante teremos uma mini-fábrica de cerveja, 100 por cento natural, feita exclusivamente com cereais de produção biológica. E é essa mesma cerveja que será servida ao cliente», disse, à Lusa, um dos investigadores.
Francisco Pereira explicou que a cerveja «não é filtrada, ou seja, contém a própria levedura, sendo assim uma fonte de sais minerais, vitaminas e compostos para regulação do nosso organismo».
«Não tem químicos nem conservantes, pode-se dizer que é uma cerveja que faz bem à saúde», acrescentou.
Francisco Pereira abriu com Filipe Macieira uma empresa que, neste momento, tem uma capacidade de produção na ordem dos 300 litros de cerveja por mês.
Uma produção que, garante, é escoada «em poucos dias», um sinal da «grande aceitação» que o produto tem tido no mercado.
É servida em garrafas de 0,75 litros, com rolhas de cortiça, semelhantes às do champanhe, ao preço de três euros e meio.
Até ao momento, os investigadores já desenvolveram cinco tipos de cerveja, sendo a de trigo, ao estilo alemão, a que tem tido mais aceitação.
Destaque também para a «belgian ale», com 10 por cento de álcool, que é a mais forte.
No campo oposto, figura a pilsner checa, a mais leve de todas e a mais indicada para beber «descontraidamente numa esplanada».
Além da venda no seu restaurante, os investigadores projectam também distribuir as suas cervejas pelo mercado.
Francisco Pereira e Filipe Macieira são doutorandos em soluções para a indústria da experimentação e para a indústria cervejeira.
Via Público
À semelhança do tremoço, durante o império romano a cerveja era considerada a bebida das classes mais desfavorecidas e dos bárbaros, pois nesta época era o vinho que fazia o deleite das elites.
Curioso é também o facto de a cerveja ser a bebida alcoólica menos calórica – uma imperial tem cerca de 70kcal - e estar constantemente a ser conotada com a célebre “barriguinha”.
Pois bem, a maioria das bebidas alcoólicas adquire o seu valor calórico através da quantidade de álcool, e de açúcar em alguns casos - espumantes, vinhos generosos e licores, por exemplo. Não tendo a cerveja açúcar e sendo a bebida alcoólica mais pobre neste calórico nutriente (um grama de álcool fornece quase tantas calorias quanto um grama de gordura) é fácil perceber que não será certamente pelo consumo moderado de cerveja que a barriguinha vai ficando proeminente.
Relativamente às propriedades nutricionais da cerveja, esta é fundamentalmente uma bebida com mais de 90 por cento de água, quatro a cinco por cento de álcool (com excepção das cervejas gourmet) e quantidades vestigiais de fibra solúvel e hidratos de carbono. É uma fonte de vitaminas do grupo B e de alguns minerais destacando-se um ratio potássio - sódio muito favorável e co-responsável (juntamente com o álcool) pelo efeito diurético desta bebida.
É difícil dissociar se a origem dos efeitos positivos na saúde do consumo moderado de cerveja derivam do seu teor em álcool, se de outros componentes nutricionais. Em todo o caso, alguns estudos epidemiológicos revelam um menor risco de desenvolvimento de diabetes associado ao consumo moderado de cerveja, tal como uma melhoria da densidade mineral óssea. Neste último caso, para além do efeito positivo do etanol, existe outro mineral específico da cerveja que promove a formação óssea: a sílica. Também na prevenção de eventos cardiovasculares e formação de trombos, a cerveja desempenha um papel significativo sendo o seu consumo regular muito importante para manter este efeito.
Em suma, todas as vantagens descritas poderão ser obtidas respeitando dois critérios no consumo: regularidade (quase todos os dias) e moderação (dois a três copos por dia). A partir de agora, em vez de culpar a cerveja pela “barriguinha”, poderá contar o número de copos em cima da mesa ou o tipo de aperitivos que a acompanhou!
*Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
Descubra o processo de fabrico da cerveja bem como a sua história em Portugal em O segredo da cerveja, um trabalho dos jornalistas Ana Rute Silva, Cátia Mendonça e Joaquim Guerreiro.
Via Público
Belos decotes, gigantescas canecas de cerveja e muita animação são a imagem de marca da Oktoberfest . Recorde aqui algumas das melhores fotos das últimas edições da grande festa da cerveja.
Via Expresso
Durante cinco séculos, o segredo da fermentação das cervejas de tipo lager, geralmente claras, resistiu às investidas de quem que o tentava desvendar. Tudo o que se sabia até agora é que, nas caves e nos mosteiros da Baviera, na actual Alemanha, onde os mestres cervejeiros guardavam as bebidas, uma nova levedura se tinha fundido por acaso com a espécie utilizada há milhares de anos na produção de cerveja e daí resultou uma cerveja mais clara, leve e fermentada a temperaturas baixas
Que levedura era essa foi agora revelado por cientistas portugueses, argentinos e norte-americanos, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Ao fim de seis anos de investigação, a equipa descobriu que o antepassado selvagem da levedura da cerveja lager ainda vive nas florestas da Patagónia. Portanto, no século XV, quando os europeus começaram a transportar pessoas e mercadorias de um lado para o outro, através do Atlântico, uma espécie de levedura da América do Sul viajou milhares de quilómetros, quem sabe se num pedaço de madeira ou no estômago de uma mosca-da-fruta, e acabou por ir parar às caves e mosteiros da Europa Central. Ao fundir-se com a levedura até aí usada, numa feliz coincidência que muitos agradecem hoje, deu origem a um híbrido, que permitiu a fermentação da cerveja a temperaturas baixas.
“Os cientistas sabem, desde há muito, que a levedura cervejeira é um híbrido que resultou da fusão de duas espécies de levedura. No entanto, apenas uma delas era conhecida – aSaccharomyces cerevisiae, que há milhares de anos produz o vinho, leveda a massa de pão e fermenta a cerveja ale”, explicou o microbiólogo José Paulo Sampaio, do Centro de Recursos Microbiológicos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, citado pela agência Lusa. “A segunda espécie, responsável por um conjunto de características que permitem a fermentação a baixas temperaturas, permaneceu durante décadas um enigma, porque aparentava ser claramente distinta das mais de mil espécies de leveduras conhecidas”, acrescentou o cientista.
“A fusão destas duas leveduras, evolutivamente estão tão separadas como o homem e a galinha, terá ocorrido nos fermentadores de cerveja lager, num processo de selecção artificial promovido pelos mestres cervejeiros”, referiu ainda José Paulo Sampaio, que liderou a equipa.
“Ao longo da história fomos domesticando plantas, como o trigo e o milho, e animais, como o boi e o cavalo. O mesmo aconteceu com os micróbios: neste caso, se entendermos como decorreu o processo de domesticação, e avaliando as diferenças entre o micróbio selvagem e o micróbio domesticado, podemos perceber melhor a natureza das alterações associadas à domesticação e usar esse conhecimento para melhorar ou diversificar os alimentos produzidos por microrganismos”, acrescentou o investigador.
“A lager surgiu na Baviera no século XV, no final do século XIX já era muito apreciada e tornou-se, desde então, na técnica mais popular de produção de bebidas alcoólicas, com mais de 250 mil milhões de dólares [173 mil milhões de euros] de vendas globais em 2008”, refere o artigo que, entre os portugueses, é ainda assinado por Elisabete Valério e Carla Gonçalves, também do Centro de Recursos Microbiológicos.
A nova espécie de levedura, que a equipa baptizou com o nome científico Saccharomyces eubayanus, nunca foi encontrada noutra região da Terra além da Patagónia. “Há décadas que se anda à procura desta coisa. E agora encontrámo-la”, realçou, por sua vez, um dos autores norte-americanos do estudo, o geneticista Chris Todd Hittinger, da Universidade Wisconsin-Madison. “É claramente a espécie perdida”, disse, citado num comunicado da universidade.
Se esta levedura existe noutra região na natureza, ainda ninguém a encontrou. Agora, que se conhece a verdadeira identidade genética por detrás da cerveja saboreada por tantos, por cá com a alcunha de “loirinha”, os cientistas querem perceber o caminho feito por esta levedura há 500 anos. Vai uma cerveja fresquinha?
Via Público