Uma equipa de investigadores de Coimbra identificou um novo mecanismo responsável por falhas de comunicação entre células do coração que pode estar na origem das doenças cardíacas, foi hoje anunciado.
A investigação, liderada pelo bioquímico Henrique Girão e publicada na revista "Molecular Biology of the Cell", permitiu descobrir um mecanismo que leva à diminuição ou falta de comunicação entre as células, desregulando o normal batimento cardíaco.
Esse desregular do batimento cardíaco acaba por ter implicações importantes no desenvolvimento de doenças, como a coronária, insuficiência cardíaca, arritmias e enfarte.
Os estudos realizados demonstram que a "ubiquitina assume o papel principal na degradação da conexina43 (Cx43), a proteína que assegura a comunicação rápida e eficaz entre a maioria das células, contribuindo para o normal funcionamento de órgãos e tecidos", refere uma nota hoje divulgada pela Universidade de Coimbra.
"Trata-se de proteínas muito importantes no coração, são como que canais que permitem a comunicação eficiente entre as diferentes células do coração, o que é importante para que ele bata de forma regulada e controlada", disse à Lusa o investigador.
No caso do coração, os canais de comunicação intercelular "asseguram a propagação rápida de um sinal que está na origem do batimento", ou seja, as alterações nessa comunicação, mediada pela Cx43, poderão estar na origem de doenças cardíacas.
No fundo, o que os investigadores da Universidade de Coimbra identificaram foi "o mecanismo responsável pela remoção da Cx43 da membrana das células, e posterior eliminação, resultando numa diminuição, ou ausência, da comunicação entre as células".
Segundo Henrique Girão, a grande novidade do estudo foi "demonstrar que uma via de degradação denominada autofagia participa na degradação da conexina43 presente na membrana plasmática das células, e que a ubiquitina tem um papel regulador neste processo".
Os resultados alcançados "podem ter um impacto grande" ao nível do tratamento, porque - explicou o investigador à Lusa -, uma vez identificado o mecanismo responsável pela desregulação da comunicação intercelular, "se inibirmos a autofagia talvez o tal coração em isquemia consiga prevenir algumas das alterações que seriam nocivas" para o órgão.
Nesse sentido, "abre-se caminho para o desenvolvimento futuro de novas abordagens terapêuticas que previnam ou impeçam a eliminação destes canais de Conexina43" e, deste modo, assegurem uma correta comunicação entre as células, disse.
O estudo foi realizado recorrendo a células em cultura e irá agora prosseguir em ratos sujeitos a isquemia cardíaca, de forma a avaliar o impacto da descoberta.
O objetivo é também perceber como é que as alterações da comunicação intercelular contribuem para o aparecimento de outras doenças, como o cancro e a diabetes, afirma o investigador do Instituto Biomédico de Investigação de Luz e Imagem.
O estudo conta com a colaboração de cardiologistas do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, de uma investigadora da Universidade de Einstein, Nova Iorque, e de um grupo de cientistas da Universidade de Dundee, na Escócia.