Quinta-feira, 27.10.11
As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne
Fazer Tintin “em grande” implica deixar de fora tudo o que é “pequeno”, e com isso deita-se fora metade da graça

Enorme decepção, se admitirmos que até havia alguma expectativa. É verdade que os precedentes não eram famosos, e que todas as adaptações cinematográficas dos grandes clássicos da BD europeia, de Astérix a Lucky Luke, passando por Corto Maltese ou pelo próprio Tintin, redundaram ou em desastres absolutos ou em filmes anódinos e esquecíveis. Também é verdade - e daqui vinha “alguma expectativa” - que nunca uma destas adaptações tivera o privilégio de contar com um cineasta do calibre de Spielberg nem com o “topo de gama” da tecnologia do “entertainment” cinematográfico.

 

Esse acaba por ser um problema, certamente: vê-se mais o “topo de gama” do que Tintin ou Spielberg, ambos desaparecidos debaixo do “state of the art” digital. Há uma vaga parecença, narrativa e morfológica, com a criação de Hergé, mas depois tudo se passa como se ser Tintin ou ser outra coisa qualquer fosse dar ao mesmo. Falamos do “espírito”, claro: será Tintin compatível com o grande espectáculo “blockbuster” de “luz e magia industriais”? O Tintin da BD nunca foi isso, antes o primado da narrativa sobre os efeitos de espectáculo e a progressivamente refinada arte da sua construção visual, de resto em grande parte influenciada pela linguagem do cinema clássico, inspiração maior de Hergé. Ponham-se estas “Aventuras de Tintin” ao lado dos “Salteadores da Arca Perdida” e, falando apenas de Spielberg, responda-se sinceramente: há mais Tintin neste filme que leva o seu nome ou nas aventuras de Indiana Jones?... Nós sabemos qual é a nossa resposta.

 

Transformadas em mostruário digital, há demasiadas coisas que não funcionam nesta adaptação, forçosamente (?) “dumbed down”, do álbum homónimo (a que se seguirá a continuação, “O Tesouro de Rackham, o Terrível)”. A galeria de secundários, por exemplo, uma das maiores riquezas da BD original, perde-se completamente, e é em especial bastante penoso aquilo em que se transformam Dupont e Dupond. Que é como quem diz: o filme não tem espaço, nem tempo, nem maneira de dar vida ao detalhe, ao pormenor, coisa em que Hergé era mestre. Fazer Tintin “em grande” implica deixar de fora tudo o que é “pequeno”, e com isso deita-se fora metade da graça. Mas talvez o mais desagradável seja a exibição da arrogância do “franchise” no momento em que toma conta da coisa “franchisada”: a cena introdutória, um pintor de rua que tem a cara de Hergé a tirar o retrato a Tintin, retrato que é o do Tintin da banda desenhada. A ideia talvez fosse homenagear o autor belga, mas é como se alguém estivesse a dizer isto: eis, finalmente, o Tintin “real”, o dos livros é mera “imitação da vida”...

 

Via Público



publicado por olhar para o mundo às 23:04 | link do post | comentar

Quarta-feira, 08.06.11
Antoine Buéno compara o boneco da roupa vermelha com a figura de Estaline
Antoine Buéno compara o boneco da roupa vermelha com a figura de Estaline (DR)

Os famosos bonecos azuis, criados pelo ilustrador belga Peyo, estão envolvidos numa grande polémica em França, onde um académico afirma que os Estrunfes de inocentes bonecos nada têm.

 

Antoine Buéno é um professor francês que publicou agora um livro “Le Petit Livre Bleu: Analyse critique et politique de la société des Schtroumpfs”, onde faz uma análise sobre os bonecos azuis, investigando a história dos Estrunfes, as mensagens subliminares de cada personagem, o dia-a-dia das histórias. No seu estudo, o autor garante ter encontrado vários valores totalitários.

Para o francês, a sociedade dos Estrunfes é “típica de uma utopia soviética”, destacando que “cada um se veste da mesma maneira, tem uma casa igual à do seu vizinho, e exerce a profissão mais adequada às suas habilidades, não sendo conhecidos pelo seu nome mas sim pela sua função na sociedade.” 

Antoine Buéno escreve ainda que os Estrunfes vivem num mundo em que a iniciativa privada não é estimulada, onde as refeições são feitas em comunidade, numa sala partilhada, e, acima de tudo, têm um único líder, não podendo abandonar o seu pequeno país.

“Isto não vos faz lembrar nada? Talvez um regime ditatorial?”, questionou o professor, citado pelo “Le Figaro”, numa palestra na Universidade Science Po, em Paris, comparando assim o mundo dos Estrunfes ao regime estalinista, onde o pai se veste de vermelho e é parecido com Estaline, e o estrunfe inteligente é a representação de Trotsky.

No seu estudo, o académico dá especial enfoque a um episódio onde os Estrunfes são mordidos por uma mosca que os torna pretos e os deixa mudos, aludindo ao colonialismo. 

Estas afirmações não têm sido bem aceites pelos fãs dos bonecos azuis que rejeitam esta nova versão. Na Internet e nas redes sociais as críticas a Antoine Buéno não têm parado e há quem o chame de “destruidor de sonhos.”

Ao “The Guardian” o autor explicou que nunca esperou esta reacção do público. “Eu não quero desencantar ninguém. É possível manter uma abordagem infantil e fazer uma abordagem analítica”, disse o francês, explicando que toda a sua investigação foi “muito rigorosa e documentada.”

“Eu não acredito que Peyo tenha feito de propósito mas a verdade é que inconscientemente estes elementos estão lá.”

O filho do criador também já veio a público explicar que o seu pai, Peyo, nunca teve interesse pela política e por isso esta nova versão dos Estrunfes não faz sentido. Ao francês “L’Express”, Thierry Culliford disse que não leu o livro de Buéno. “Ele pode interpretar as histórias como ele quiser, mesmo que eu não subscreva essa interpretação, desde que não ataque o meu pai e o seu trabalho.”

Peyo morreu em 1992 e foi o seu filho Thierry Culliford quem continuou a escrever as aventuras dos Estrunfes. 

Ainda este ano a história dos bonecos azuis com gorros brancos deve chegar aos cinemas, não se sabendo para já muitos pormenores. 

 

Via Público



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