Olhando para as reações das corporações que vivem em redor do Estado, até parece que são todos uns anjinhos, até parece que durante todos estes anos não existiram abusos, até parece que durante todos estes anos as corporações estatais não abusaram do dinheiro do contribuinte. É sempre assim nesta terra de deus que tem o corporativismo como instinto: a culpa é sempre dos políticos e nunca das corporações e dos sindicatos, que estão entrincheirados na defesa enlouquecida dos direitos adquiridos. Entretanto, eu continuo a pagar impostos e a minha mãe continua sem médico de família.
Ora, já que estamos a falar de direitos adquiridos, eu gostava de fazer uma pergunta: um salário anual de 750 mil euros também é um direito adquirido? 744 mil euros, para sermos exactos. Este foi o montante que um médico algarvio conseguiu arrecadar em 2009 (Jornal de Notícias, 15 de Outubro). Eu já fiz várias contas, e não consigo encaixar este montante. 744.000 a dividir por 14 dá 53.000. É muito, não é? Então agora acrescentem um novo elemento à fórmula: o salário base do dito médico é de 5523 euros. Agora expliquem-me como é que se salta de 5500 euros para 53.000 euros mensais. Como? Horas extraordinárias? Com certeza. Mas, caramba, este médico trabalhou todas as horas de 2009? Não foi a casa? Não dormiu durante aquele ano? Entretanto, eu continuo a pagar impostos e a minha mãe continua sem médico de família.
Confesso que isto não me sai da cabeça: como é que um médico leva para casa três quartos de um milhão de euros num ano? Como? Que sistema é este? Será isto normal dentro do SNS? Mas, atenção, estamos em Portugal, portanto, não se pode falar disto, é preciso mostrar respeitinho pelos senhores doutores, é preciso aceitar que as corporações são compostas por seres angelicais. E, entretanto, eu continuo a pagar impostos e a minha mãe continua sem médico de família.
Via Expresso
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