A entrevista foi dada ao diário britânico Guardian e Ellen Johnson Sirleaf defendeu a legislação que, na Libéria, criminaliza a “sodomia voluntária” com um ano de prisão. “Temos certos valores tradicionais na nossa sociedade que gostaríamos de preservar”, defendeu a Presidente da Libéria que em 2011 recebeu o Nobel da Paz juntamente com outras duas mulheres africanas.
O prémio foi-lhe atribuído pelo seu trabalho em defesa dos direitos das mulheres na Libéria, que a elegeu Presidente em 2006 e reelegeu no ano passado. Um antigo procurador-geral da Libéria, Tiawan Gongloe, considerou em declarações ao Guardian que, para a Presidente, tentar descriminalizar a homossexualidade seria “um suicídio político”, uma vez que Sirleaf não dispõe de um Governo maioritário e “precisa desesperadamente do apoio do parlamento para resolver questões ligadas à corrupção, exploração de recursos naturais e desemprego entre os jovens”.
Blair, ao lado de Ellen Johnson Sirleaf, ficou visivelmente incomodado, garante o Guardian, mas recusou comentar as afirmações. O antigo primeiro-ministro britânico visitou a Libéria enquanto fundador da Iniciativa para a Governação em África, uma organização que tem como objectivo ajudar a fortalecer as capacidades dos governos africanos.
Perante as afirmações da Presidente liberiana, um jornalista perguntou a Blair se a boa governação e os direitos humanos não andam de mãos dadas, mas esta questão não teve resposta. “Uma das vantagens de fazer o que faço agora é poder escolher os temas que abordo e aqueles que não. Para nós, as prioridades estão relacionadas com electricidade, estradas, empregos”, disse o antigo chefe do Governo britânico.
Enquanto primeiro-ministro, Blair impulsionou legislação sobre uniões entre pessoas do mesmo sexo e levantou a proibição de homossexuais nas forças armadas. Chegou mesmo a apelar ao Papa, depois de se converter ao catolicismo, para que repensasse as suas posições e defendesse a igualdade de direitos para os homossexuais. Mas agora, adiantou o Guardian, disse não estar preparado para se envolver nesta questão, enquanto conselheiro dos líderes africanos.
Na Libéria não tem havido condenações ao abrigo da lei que criminaliza a “sodomia voluntária”, segundo um relatório divulgado pelo Departamento de Estado norte-americano. No entanto, grupos anti-gay promoveram recentemente duas novas propostas legislativas que tornarão mais severas as penas a aplicar aos homossexuais, as quais poderão chegar aos cinco anos de prisão, ou mesmo dez anos no caso da proposta defendida pela ex-mulher do antigo Presidente Charles Taylor, Jewel Howard Taylor, que considerou a homossexualidade “uma ofensa criminosa”. Actualmente a homossexualidade é considerada ilegal em 37 países africanos.
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