Manifestantes gregos queimaram a bandeira alemã frente ao parlamento em Atenas
Governo grego e partidos deverão chegar hoje a acordo sobre o novo pacote de ajuda. Troika quer mais austeridade. Economistas dizem que Portugal poderá sofrer ainda mais.
Na Grécia multiplicam-se as manifestações e as greves contra as eventuais medidas de austeridade. Em causa está o facto de a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) exigirem mais sacrifícios em troca de nova ajuda.
As condições impostas pelos credores internacionais para o Governo de Lucas Papademos receber 130 mil milhões de euros são designados pelos media gregos como "Dez Mandamentos", sendo recebidos pelo povo grego com muita revolta e desagrado.
Portugal é um dos países que está na linha da frente do contágio grego. Por isso, a pergunta impõe-se: será que vamos ter que renegociar a ajuda externa? O professor do ISEG, Luís Nazaré, disse ao Expresso que ainda é cedo para afirmar isso de forma perentória, mas acredita que é "razoável" supor-se que sim.
"Não creio que Portugal tenha condições, não só por razões internas, mas europeias. Nós estamos inseridos numa união económica, o que torna a nossa vida ainda mais complicada e, portanto, creio que não possamos escapar a uma renegociação do memorando ou à mesmo à execução de um novo acordo", afirmou Luís Nazaré.
"Não sei quando, nem em que moldes será, mas penso que a renegociação do acordo terá que passar inevitavelmente por uma renegociação de prazos e das condições de financiamento", acrescentou o professor universitário.
Já João César das Neves, professor da Universidade Católica, defende que, neste momento, não devemos pensar na hipótese de uma nova ajuda para Portugal, sublinhando que seria uma situação "dramática", que traria mais sofrimento para o país. Em relação à situação grega, o economista classifica-a de "insustentável."
"Era bom para Portugal que a situação grega fosse resolvida e que toda a Europa alcançásse uma situação estável. Esperemos que consigamos eliminar este pesadelo, porque a situação está quase insustentável e uma vez estando no mesmo espaço estamos a apanhar por tabela", disse o professor da Católica.
Segundo o novo plano de ajuda à Grécia, a despesa deverá ser reduzida, sobretudo, nos sectores da Saúde e da Defesa, garantindo cortes adicionais na ordem dos 2,2 mil milhões de euros.
Os funcionários públicos deverão ser reduzidos em 150 mil até 2015. Estão ainda previstos novos cortes nas reformas do sector público e privado, que poderão rondar os 15%; enquanto o salário mínimo deverá ser reduzido em 20% ou 30%.
O sector privado deverá deixar de pagar os subsídios de férias de de Natal. Além disso, o Governo grego deverá promover reformas a nível laboral e apostar na recapitalização da banca e nas privatizações.
O acordo da troika com a Grécia, aprovado na cimeira europeia no fim de outubro do ano passado, prevê um perdão de 100 mil milhões de euros da dívida do país.
Para Luís Nazaré, estamos a assistir a uma mudança do ponto de vista ideológico e da construção europeia, sendo vital encontrar ajustamentos.
"A austeridade, ou melhor a crueldade das medidas da Grécia virá a alargar-se, mas penso que será insustentável as populações continuarem a assistir à degradação total e progressiva do estado das coisas", conclui o economista do ISEG.
Por outro lado, João César das Neves realça que este problema se manifesta numa questão de "solidariedade" entre os países do euro.
"Há, sim, um problema interno, uma vez que há um enorme excedente por parte da França e da Alemanha e um défice por parte da Espanha, Itália, Portugal, Irlanda e Grécia. É este desajustamento que está a criar um problema".
O economista defende que houve mecanismos europeus que falharam, porque não alertaram para os riscos desta situação e sublinha que são precisas algumas mudanças estrututurais a este nível para a mudança ser "credível".
Via Expresso