Estás desempregado e as ofertas de trabalho são quase nulas. Emigrar é uma alternativa posta de lado, porque assim perderias o direito ao subsídio desemprego. Certo? Não, errado.
É possível sair do país à procura de emprego e continuar a ter acesso à prestação durante um trimestre. É o que diz a lei. Como muitos desconhecem este mecanismo, cancelam a inscrição quando decidem partir para o estrangeiro em busca de uma oportunidade profissional.
Fátima Cerqueira, do Instituto de Emprego e Formação Profissional, explicou ao P3 que, “desde que Portugal aderiu à Comunidade Económica Europeia” – ou seja, desde 1 de Janeiro de 1986 –, é possível “exportar as prestações de desemprego para outro país europeu”. Quer isto dizer que há 16 anos os portugueses têm um direito de que pouco beneficiam. Existem hoje no país cerca de 34 mil beneficiários do subsídio de desemprego.
Este mecanismo vale para quem quiser procurar emprego, “sob certas condições”, num dos 27 países da União Europeia e ainda na Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.
Mas quais são as tais “certas condições”? Bom, primeiro o trabalhador deve ter estado inscrito nos centros de emprego durante pelo menos quatro semanas (a contar da data em que ficou desempregado).
Nome fácil de guardar: formulário U2
Tem ainda de avisar o centro de emprego que vai sair do país à procura de trabalho. Isto pode ser feito através do formulário U2, que permitirá ao candidato inscrever-se nos serviços de emprego do país de acolhimento – algo que deve ser feito num prazo de sete dias, a contar da data da partida.
Caso o beneficiário não encontre emprego, deve regressar a Portugal antes de terminar o período indicado no tal documento U2 (ou E303 no caso de emigração para Islândia, Liechtenstein, Noruega ou Suíça). Este detalhe é muito importante: se regressares depois do prazo estipulado, perdes o direito às demais prestações uma vez de regresso a Portugal.
O período de três meses pode ser estendido até aos seis pelos serviços de emprego. Para isso, deve ser requisitada a prorrogação até 30 dias antes do fim dos período inicial.
As autoridades portuguesas não são obrigadas a aceitar a prorrogação. “Nesse caso, o requerimento deverá ser devidamente fundamentado (designadamente na perspectiva da promoção da empregabilidade do beneficiário)”, explicou Fátima Cerqueira num e-mail enviado ao P3.
Independentes com subsídio em 2013
A atribuição de subsídio desemprego também vai ter novas regras em Abril. Quem ficar desempregado a partir dessa data vai auferir um subsídio menor e, nalguns casos, durante menos tempo.
A boa notícia é que o acesso à prestação vai ficar mais fácil, mas só a partir de Julho de 2012. Os descontos necessários para ter direito a receber o subsídio passam de 15 para 12 meses.
Os trabalhadores independentes também saem a ganhar. Aqueles que recebem 80% (ou mais) do seu salário através de uma única entidade patronal passam a ter direito ao subsídio desemprego – mas só a partir de 2013, mais tarde do que estava inicialmente previsto. Esta medida resulta de uma exigência do memorando da troika, sendo o primeiro diploma decorrente da publicação do Compromisso para a Competitividade e Emprego.
As declarações de incentivo à emigração por parte de autoridades portuguesas não causam nenhum desconforto ao Brasil, afirmou à Lusa o secretário nacional de Justiça do país, Paulo Abrão, garantindo que essa mão de obra é bem-vinda.
"Não vemos nessa atitude nenhum problema que possa configurar algum tipo de desconforto. A receção de irmãos portugueses, para contribuir para o crescimento da nação, é muito bem-vinda", declarou o responsável.
Nas declarações à agência Lusa, Paulo Abrão afirmou que a relação do Governo brasileiro com as autoridades portuguesas "é de reciprocidade". "São relações diplomáticas irretocáveis", considerou.
O secretário nacional de Justiça do Brasil falava à Lusa para comentar o aumento na concessão de vistos de trabalho a portugueses nos últimos meses, que foi o maior, em termos absolutos, entre todas as nacionalidades.
Segundo dados do Ministério da Justiça, no final de 2009 276.703 portugueses viviam no Brasil com visto temporário ou permanente. Em junho de 2011, esse número atingia os 328.856.
Paulo Abrão atribui o aumento a fatores de ordem "económica, política e cultural", negando que tenha havido qualquer mudança administrativa ou legal por parte das autoridades brasileiras que facilitasse a entrada de portugueses.
"Isso é um reflexo do crescimento económico do Brasil. A nossa economia tem-se consolidado no mercado internacional", declarou.
O governante cita a elevação nos índices de investimentos estrangeiros no país, a sua maior exposição internacional em virtude do Mundial2014 de futebol e dos Jogos Olímpicos de 2016 e a tradição brasileira de receber imigrantes como fatores atrativos de mão de obra.
Apesar de não ter havido nenhuma mudança recente de regras, a entrada de mais trabalhadores portugueses pode estar relacionada com a consolidação dos tratados de cooperação e de facilitação da circulação de pessoas entre o Brasil e Portugal, assinados no início dos anos 2000.
"É claro que todo e qualquer acordo de cooperação tem um tempo de maturação, seja para a sua difusão entre os agentes governamentais, seja para o conhecimento da população", afirmou o secretário nacional de Justiça.
Abrão rejeitou, assim, as críticas por parte de alguns cidadãos portugueses que dizem ter muitas dificuldades para obter vistos. "Os números falam por si", afirmou o responsável.
A crise em Portugal é considerada o principal motivador do aumento da emigração de trabalhadores. Apesar do prognóstico de agravamento da situação económica em 2012, Abrão disse que o Brasil não pretende impor limites à entrada de portugueses.
Via expresso
Empregabilidade e emigração são palavras-chave para compreender o aumento da procura dos cursos em Portugal
A pujança da China na economia mundial é um facto. A Europa em crise é outro. Em entrevista ao P3, alguns alunos que frequentam o curso de mandarim, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e no Instituto Confúcio da Universidade do Minho, em Braga, vêem a China como uma hipótese natural de emigração.
Thomas Barnstorf é "freelancer" de escrita criativa e edição de texto, tem 30 anos e frequenta o Curso Intensivo de Chinês na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Porquê? Para além de ser uma “mais-valia para o currículo”, o mandarim “é uma língua que abre muitas portas.”
Aprender para emigrar
Também Ana Rita Silva, estudante de Mestrado em Ecologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e colega de curso de Thomas, afirma que a língua nova é difícil de aprender: a forma de falar, escrever e até de pensar são muito diferentes do português”, mas “como é muito lógica, não é nada que não se consiga.” Emigrar? “Claramente!”
Com 26 anos, Sofia Romualdo diz que esta já é a quarta língua que aprende - para além da materna. Escolheu o mandarim porque "queria aprender algo diferente" e esta é uma forma de se diferenciar. Vê a emigração como uma saída, depois de já ter tido vários estágios "sempre não-remunerados e em 'full-time'" e outros "trabalhos que vão aparecendo" na área da fotografia. Garante tentar tudo o que aparece.
Trabalha com o mercado asiático e muito embora a condição de efectiva numa empresa de cortiça de Santa Maria da Feira, Loide Costa, de 32 anos, considera vivamente a hipótese de emigrar para Pequim: “com o mandarim será mais fácil, é uma língua muito importante”, remata.
Com apenas 20 anos, Samuel Gomes frequenta oInstituto Confúcio - onde a procura de cursos aumentou 30% -, em Braga, e fala português, inglês, francês, japonês (nível básico) e mandarim (nível HSK nº3, numa escala de 1 a 6). Estudante na Licenciatura de Línguas e Culturas Orientais na Universidade do Minho (UM), Samuel, assegura que o chinês "é uma língua do futuro" e que, embora gostasse de seguir a área de representação, se "Portugal não der conta do assunto da crise", a China será o destino.
"É difícil, mas é uma língua lógica"
Lu Yanan é solista instrumental de pi'pa e é a professora de Thomas, de Ana Rita, de Sofia e de Loide, na FLUP. Foi pioneira, lê-se no pequeno cartão com o contacto, na radiodifusão bilingue "Português e Mandarim" em 2006, em Portugal. Vive em Portugal há 15 anos e não hesita em afirmar que a procura de mandarim se deve, sobretudo, a questões de empregabilidade.
À semelhança dos alunos, Lu admite ser um idioma difícil de aprender: “a gramática é fácil, mas falar é mais complicado.” Para se conseguir ler um livro são precisos cerca de 3000 caracteres. Ainda assim, as turmas estão cheias. O curso anual da FLUP teve este ano o mais elevado número de estudantes e é procurado maioritariamente por jovens, segundo o Gabinete de Formação e Educação Contínua da faculdade.
O mandarim é o dialecto oficial da China e é a língua mais falada em todo o mundo (845 milhões de falantes no total, segundo o Observatório de Língua Portuguesa em Março de 2010).
Via P3