Até anteontem não estava minimamente convencido em participar na manifestação marcada para 12 de Março em Lisboa e Porto, um movimento de jovens cidadãos denominado protesto da "geração à rasca". E não estava por uma simples razão: não considero que neste momento seja apenas e só uma geração, à qual pertenço, a estar à rasca. Estamos todos à rasca. O país em geral. Todas as gerações. Uns de uma forma, outros de outra, e cada uma à sua maneira. Só não estão "à rasca" os tubarões que o Governo não ousa beliscar (onde está o tal imposto para os bancos? Perdeu-se ou faltou a coragem?),aqueles que o Estado continua a nomear indiscriminadamente e contratar milionariamente em plena crise para empresas públicas que todos pagamos. Tudo passa impune.
O resto? Tudo "à rasca". Muitos com prestações da casa em atraso ou já sem ela depois de a terem finalmente entrgue ao banco, a viverem o desespero numa garagem (conheço "n" casos), outros porque deixaram de poder pagar os colégio aos filhos, as perdas dos abonos, 11,2% da população desempregada e sem perspectivas de futuro, outros têm um emprego mas nunca irão exercer uma profissão dentro da sua área de formação, na qual investiram grande parte da sua vida e sacrificaram dinheiro, o próprio e o dos pais. Geração híper-qualificada completamente estraçalhada, sem margem para se libertar e tornar verdadeiramente independente. Outras gerações qualificadas à pressa, sem qualidade, por decreto, para inglês ver e a estatística aplaudir. Milhares de trabalhadores que viram o seu vencimento reduzido roubados pelo governo que tantos legitimaram, no qual confiaram e que lhes mentiu e continua a enganar descaradamente.
Milhares de jovens explorados em estágios não remunerados ou a trabalharem com um livro de recibos que a constituição de um qualquer país civilizado proíbe. Já leram a nossa? Milhões perderam subsídios, milhões com as suas pensões reduzidas ou congeladas e sem acesso a medicamentos que os próprios hospitais já começam a cortar. A saúde está falida. A justiça podre. Os impostos que corroem até aos ossos e minam um tecido empresarial cada vez mais fraco, os depósitos de gasolina cada vez mais vazios e os carrinhos de supermercado menos cheios. A luz, a água, o gás, o pão, o café, o açúcar, tudo, mas tudo mais caro. Este país já esteve de tanga. Neste momento é uma tanga onde todos nós vivemos.
Por considerar que não é apenas uma geração, mas várias, ou todas, achava o protesto em si redutor, pelo que não tencionava associar-me a ele. Mas depois de ouvir o Sr. Engenheiro anunciar, sim porque quando este senhor tem a lata de vir à televisão dizer que "o governo poderá ter de tomar medidas auxiliares" uma vez mais já todos sabemos o que aí vem, e ainda de visionar o débil programa Prós e Contras da RTP, apresentado sempre na formasui generis Bulhão style, onde ouvi coisas verdadeiramente chocantes da boca de algumas pessoas que deviam permanecer caladas no seu mundinho particular de editoriais feitos em cima do joelho do primo accionista e redomas de reitorias snobes de universidades queques, decidi que vou participar. E vou porque isto está tudo mal. E tudo tem de mudar. Está na hora. Lá estarei.
Via 100 Reféns
Com 18.700 inscrições em apenas quatro dias subiu para quase o triplo o número de pessoas que no Facebook promete juntar-se ao "Protesto da Geração à Rasca" , marcado para dia 12 de março. Inicialmente programado para acontecer apenas na Avenida da Liberdade, em Lisboa, a iniciativa já foi alargada ao Porto, na Praça da Batalha.
Para estimular a adesão ao protesto foi criada outra página no Facebook, intitulada "Vamos lá, 1 milhão na Avenida da Liberdade pela Regeneração Política" . Tal qual como nos protestos organizados via Facebook para as revoltas em Marrocos, Líbia e Egito, os comentários multiplicam-se hora a hora, mantendo a discussão acesa.
"Às 15h00 do dia 12 de março, esta geração de desempregados, trabalhadores subcontratados e estagiários reúne-se para mostrar aos dirigentes políticos e aos empregadores que está 'à rasca'", escreveu hoje um dos precários que promete fazer parte do protesto. Relembrando os vários tipos de precariedade existentes, a resposta surge logo de seguida pela mãe de outra utilizadora do Facebook: "Não sejamos redutores. Este protesto é igualmente para a geração de empregados ou pequenos empresários, que estão do lado desses desempregados, e que, descontentes como eles, também não aguentam mais ver o país a ir ao fundo e as oportunidades de uma vida melhor fugirem por entre os dedos".
Há quem proponha que todos vistam camisolas pretas em sinal de luto e quem sugira o recurso às bandeiras nacionais "como na altura do Scolari" durante o Euro2004 de Futebol. Os organizadores sugerem que cada participante leve uma folha A4 com o motivo que os levam a estarem presentes na manifestação, com a promessa de posterior entrega de todas as folhas na Assembleia da República. E para que os ânimos não se exaltem no dia 12, os pedidos para "um protesto pacífico também se multiplicam: "Não queremos violência nem extremismos mas antes persistência!".
E se já são muitos os que incitam ao protesto, as mensagens de internautas mais céticos quanto à real adesão no dia marcado também começa a crescer. "Infelizmente a inércia é muito grande no povo português!", lembra um dos utilizadores do Facebook. Os mais entusiastas respondem: "Bora pessoal! Toca a sair de casa. Pelo menos sabem que fizeram algo para tentar mudar as coisas e não se limitam a ficar a olhar para o telejornal...".
Via Expresso