“Nunca sei muito bem porque é que se começa a escrever – ou eu não sei muito bem porque é que comecei a escrever. A verdade é que há dois anos apareceu-nos em casa um cãozito, e este é um livro sobre o cão, que foi entrando, pouco a pouco, foi ficando, e ficou. Achei graça a todo o processo de aprendizagem do cão, das regras, das coisas que iam acompanhando a sua adaptação à casa, por um lado, e o seu crescimento, por outro”, disse hoje à Lusa a filha de José Saramago, bióloga, que se assume como uma mulher da ciência, e não da literatura.
Depois, surgiu “a ideia de passar a experiência ao papel, e tornou-se uma pequena história para crianças, que entretanto ficou muito grande e teve de ser dividida a meio. Portanto, são duas histórias para crianças que estão concluídas – foi editada a primeira – e a terceira também já está quase concluída”, explicou.
Filha da pintora e gravadora Ilda Reis, que costumava ver trabalhar e que lhe fazia “uns bonecos”, resolveu fazer as ilustrações deste livro.
“A verdade é que nunca tinha ilustrado um livro infantil e também, certamente, não me atreveria a ilustrar um que não fosse meu – até porque se corresse mal, a responsabilidade era minha”, observou.
“Eu tenho, tive sempre, um grande respeito por quem escreve para crianças, porque acho que a escrita para crianças tem, em meu entender, dois condicionalismos muito fortes: o primeiro é o tipo de linguagem. A linguagem para crianças tem de ser uma linguagem muito especial, porque tem de ser uma linguagem sedutora. Ao darmos a uma criança um livro para ela ler, nós podemos contribuir para ela, mais tarde, vir a ser uma leitora ou passar a detestar o livro”, defendeu.
A outra responsabilidade – prosseguiu – “é exactamente aquilo que se escreve, porque a criança não refila connosco, não diz ‘não estou de acordo, isso é um disparate, por isto, aquilo ou aqueloutro’. O adulto faz isso. Quando discutimos um livro, ou uma opinião, nós somos capazes de contra-argumentar. A criança, por princípio, é uma esponja e, portanto, ela vai absorver. Por isso, tem de se ter muito cuidado com o que se lhe diz”.
Para cumprir estes dois requisitos fundamentais, Violante Saramago não considera que “o escritor de livros para crianças tenha de se transformar”.
“Ele tem é de saber o que deve dizer, como é que deve dizer para tentar passar, no fundo, aquilo que pensa. Eu tenho os meus princípios, os meus valores, as minhas preocupações que, mesmo que eu não queira, acho que acabam por passar para o livro”, sustentou.
Os direitos da venda do livro revertem a favor da Acreditar - Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro.
Via Público