Uma garrafa de plástico com água e lixívia permite refletir a luz solar para o interior de barracas escuras. Solução tem sido usada em diversos países em desenvolvimento e as Filipinas implementaram uma campanha de distribuição de 10 mil garrafas-lâmpada.
Via Expresso
A minha já vai bem mais longa, mas os meus quase dez anos de precariedade levaram-me igualmente a estrear nestas andanças das manifestações sem ser em trabalho. Tive o prazer de entrevistar os organizadores do "Protesto da Geração à Rasca " há um mês atrás, numa altura em que as incertezas eram mais do que as certezas. Mas não era preciso ser uma iluminada para perceber que aqueles jovens "Deolindos" - como tão depreciativamente um grande comentador da praça os apelidou - iam afinal ser as caras de um momento histórico em Portugal.
Um dia antes do protesto ouvi outro cronista dizer: "Os putos devem achar que a vida é fácil!". Pois é, meus senhores, os putos infelizmente sabem que a vida não é fácil. E foi por isso que, com sangue na guelra, levaram à rua não só uma geração mas sim todo um país à rasca. A verdade é que a precariedade toca a (quase) todos e só mesmo quem vive dentro de uma bolha é que não conhece alguém que esteja ou desempregado, ou a recibos verdes, ou a contratos temporários ou com ordenados que são tudo menos dignos. Por todos eles, que um dia poderemos ser nós, sair à rua fez todo o sentido.
Do alto da genuinidade dos seus dez anos, Francisco deu voz ao pensamento de milhares de pessoas: "Espero que o Sócrates veja na televisão esta quantidade de gente e o que estão a pedir!". Todos sabíamos que nada iria mudar imediatamente no dia a seguir. Mas quando todo um país sai à rua, este gigante reflexo de descontentamento deve, no mínimo, ser analisado.
Cansado, como tantos de nós ao fim de anos de vida precária, o pequeno manifestante pediu para se sentar e comer um pacote de castanhas assadas para enganar um estômago à rasca. O seu olhar percorria atentamente o mar de gente e deixou soltar um curto suspiro: "Espero que não sejam só berros que não dão em nada. Gostava de saber, se quando eu for adulto, valeu a pena cá ter vindo". Como eu gostava de te poder responder a isso, Francisco.