Só uma gráfica no mundo aceitou produzi-lo, mas "Tree of Codes" esgotou em seis semanas. A Visual Editions nasceu para testar e ultrapassar os limites da edição
Para algumas mulheres, o início da maternidade é o fim da carreira. Para outras, pode ser mais uma oportunidade. Radicadas em Londres, a dinamarquesa Britt Iversen e a francesa Anna Gerber conheceram-se no infantário dos filhos. Tornaram-se grandes amigas. Há dois anos, num jantar, começaram a falar em como "seria incrível ter uma empresa que só fizesse livros com escrita visual", lembra Britt, ao telefone do escritório da Visual Editions.
De início, quase ninguém percebia o que queriam dizer com isso. "Ah, livros para crianças?", perguntavam. "Depois pensavam que estávamos completamente loucas", ri-se Iversen, que trabalhou os últimos 15 anos em publicidade. A resposta é simples: a escrita visual integra elementos visuais na narrativa. "No momento em que se tornam decorativos, deixam de ser necessários - e deixa de ser ''escrita visual'' para ser só ''visual''", explica.
Começaram por reeditar um clássico. Ao longo dos séculos, "A Vida e Opiniões de Tristram Shandy, Cavalheiro" teve mais de 120 versões no Reino Unido (em Portugal está publicado pelas Edições Antígona). Nenhuma honrava a obra de Laurence Sterne, o génio que em 1759 lançou os primeiros volumes de uma série tão louca como moderna. "Queríamos mostrar que existe uma tradição muito forte deste tipo de livros", diz Britt Iversen. Mas o segundo título que deram à estampa é que causou verdadeira sensação. Os primeiros 10 mil exemplares esgotaram em seis semanas - apesar do formato de bolso e do preço: 25ú (30€).
O manuscrito esculpido O autor americano Jonathan Safran Foer foi uma escolha evidente para assinar o primeiro original da Visual Editions. Há anos que incorporava elementos visuais em edições tradicionais como a de "Extremamente Alto, Incrivelmente Perto" (Quetzal). Anna e Brit disseram-lhe que publicariam aquilo que ele quisesse. Só havia um senão: não podiam pagar-lhe. Ele nem hesitou. Há anos que alimentava a ideia de esculpir um livro de outro.
Foer escolheu "The Street of Crocodiles" de Bruno Schulz, um dos seus escritores favoritos. Imprimiu uma série de cópias e começou a recortar. O objectivo, explica num vídeo disponível no site da Visual Editions, era encontrar uma história dentro da história. "A experiência de ler o livro muda à medida que se avança", acrescenta. "Espero que contribua para a discussão do que é possível fazer com a literatura e com o papel."
Só uma gráfica na Bélgica aceitou o desafio de o produzir. O processo é tão complicado que são necessários três meses para imprimir cada leva de exemplares. "Mas essa também é a beleza do livro", avança Anna, professora de design gráfico, que se juntou mais tarde à conversa, "É um livro aparentemente impossível de produzir, que vem com a sua própria história. A segunda edição já está disponível.
Regresso ao futuro Só daqui a 12 meses é que as duas empreendedoras vão perceber se o plano de negócios que levaram mais de um ano a conceber resulta. Têm mais dois livros a caminho. "Composition #1" deverá sair em Maio. É a reedição de um título dos anos 60, o primeiro livro de sempre feito de páginas soltas dentro de uma caixa. "O leitor tem grande controlo sobre a forma como lê", diz Britt. Para "A Collection of Short Uncanny Stories" ainda não há data de publicação, mas há conceito: um original feito a partir de histórias infantis que deram para o torto. O objectivo é publicar quatro títulos por ano, cada um da forma que melhor se adeque à história. Até pode ser no iPad.
Via Ionline