O News of the World (NoW) vai fechar, mas está longe de deixar de ser notícia. É o assunto que domina a actualidade nos media britânicos e as conversas de café: a cada minuto que passa, a actualidade mostra maior extensão e gravidade das escutas telefónicas.
Os comentários a criticar Cameron, a legitimidade do negócio de Murdoch na compra do Sky e o pedido de abertura de um inquérito público têm chovido na imprensa, à esquerda e à direita. “Há muita indignação e exigência” de abertura de um inquérito público ao que se passou, diz ao PÚBLICO Brian Cathcart, professor de jornalismo na Kingston University e colunista de “New Statesman”.
Jornalistas e polícia estão no centro do que mais tem provocado acessos comentários – mas sobretudo três pessoas: o barão dos media Rupert Murdoch, que se preparava para fechar a compra do serviço de televisão por satélite BSkyB, a directora-executiva da News International, Rebekah Brooks, e o primeiro-ministro britânico David Cameron, que se sabe ter relações próximas com Brooks e teve como assessor de imprensa Andy Coulson, ex-director do NoW.
As consequências são imprevisíveis. De manhã, Michael White, editor e comentador do “Guardian” já previa ao PÚBLICO que Murdoch, que controla 40 por cento da imprensa britânica, iria ter que despedir pessoas – só não especulava sobre em que empresa. A decisão final sobre o negócio da BSkyB também foi adiada. Mas é ainda “demasiado cedo” para prever as consequências políticas, disse.
Brian Cathcart escreveu que os ministros não querem um inquérito público. Porquê?, perguntamos. “Há muitos (políticos) com esqueletos no armário” -–que é como quem diz com relações próximas a Murdoch e ao NoW. “Um inquérito teria que questionar algumas pessoas...” Cathcart lembra que há cinco anos que se sabe das escutas e os políticos têm um papel na razão pelo qual não foi exposto. Isto porque “Murdoch tem uma enorme influência na política britânica” – não só no actual Governo Conservador-Liberal Democrata como nos Trabalhistas. “Pode falar com primeiros-ministros sem que isso fique registado em qualquer lugar.” Importante, considera, é descortinar a influência de Murdoch, da sua empresa e de outros jornais na política britânica. “Seria saudável para a democracia britânica.”
Martin Rosenbaum, autor de “Soapbox to Soundbite: Party Political Campaigning in Britain Since 1945”, observador dos media, acha que os políticos têm tido uma relação ambivalente com os tablóides que, “certo ou errado, têm um enorme poder”. Mas “este é um momento de viragem na relação entre os media e a política”: “Não me surpreenderia se daqui a dez anos se olhasse para trás e dissesse que este foi o momento em que os media perderam poder.”
Via Público