"As dívidas dos Estados são, por definição, eternas. As dívidas gerem-se." São eternas porque, ao contrário das pessoas, os Estados não morrem. Nunca nenhum País decidiu ficar com as suas dívidas a zero. A questão é sempre e apenas se pode continuar a pagá-las. Se os juros praticados são suportáveis e o seu crescimento económico permite cobrir os custos da dívida. E por isso são geridas. O que José Sócrates disse, para qualquer pessoa minimamente informada e que esteja de boa-fé nem merece debate. Não é matéria de opinião e ou de confronto ideológico.
No entanto, bastou o ex-primeiro-ministro afirmar uma ululante evidência para que se instalasse a indignação do costume. "Esta declaração do engenheiro José Sócrates explica porque é que afinal a bomba lhe rebentou nas mão e ele nos conduziu para a tragédia em que nos encontramos. Se as dividas não são para pagar e se foi isso que ele enteu dos estudos que fez de economia e finanças então está explicado porque ele não se preocupou que Portugal tivesse cada vez mais dívidas e não as pagasse." A frase é do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de José Sócrates, Freitas do Amaral, que teve simpatia pelo antigo regime antes do 25 de Abril, foi democrata depois dele, de direita quando a direita chegou ao poder, apoiante e governante do PS quando o PS ganhou as eleições e é agora entusiasta apoiante de Passos Coelho. Trata-se de um fenómeno que desafia as leis física: como pode alguém sem espinha dorsal manter-se de pé? Neste caso é fácil explicar a falta de honestidade intelectual. Noutros, é bem mais preocupante.
É fácil acreditar na ideia de que a nossa situação atual se deve a um homem. Mesmo que tudo nos demonstre o absurdo de tese. Sócrates não conseguiu, apesar de tudo, governar Portugal, a Grécia, a Irlanda, Itália e a Espanha em simultâneo. E mesmo os nossos problemas - dívida externa, desigualdade na distribuição de rendimentos, crescimento cronicamente baixo, desequilíbrio da balança de pagamentos, uma moeda demasiado forte, distorções no mercado de arrendamento, falta de competitividade da nossa produção, erros crassos no nosso modelo de desenvolvimento - não têm seis anos. Só que resumir tudo à dívida pública e a um homem dispensam-nos de qualquer reflexão mais profunda. Há um culpado e a coisa está feita. E tem outra utilidade: sendo a culpa do primeiro-ministro anterior só nos resta aceitar tudo o que seja decidido agora. Afinal de contas, Passos Coelho está apenas a resolver os problemas deixados pelo seu antecessor.
Sócrates foi, na minha opinião, logo depois de Cavaco Silva (que desperdiçou uma oportunidade histórica), o pior primeiro-ministro eleito da nossa democracia. Mas nem por isso dispenso a honestidade intelectual e o rigor na análise. Nem por isso aceito a estupidificação coletiva na interpretação de uma frase óbvia. Nem por isso aceito o simplismo político. Nem por isso resumo o debate à demonização de uma só pessoa. Que políticos ressabiados ou gente que se quer pôr em bicos de pés o façam - e não posso deixar de assinalar que Pedro Passos Coelho se recusou a entrar na gritaria e encerrou o assunto com um "acho que ninguém pode discordar" - não me espanta. Já acho mais perturbante que economistas e jornalistas de economia embarquem em tão rasteiro expediente argumentativo. Torna-se difícil dar crédito a qualquer opinião que emitam sobre qualquer outro assunto.
Escrevi-o antes das eleições em que o PS foi julgado pela democracia e escrevo-o de novo: se os problemas portugueses e europeus tivessem começado e acabado em José Sócrates bem mais fácil seria a nossa vida. E nem o confronto político desculpa a desonestidade intelectual da indignação que se instalou com a afirmação do óbvio.
Via Expresso
Eu não sei se estes dois senhores já se aperceberam da realidade do país porque continuam, como miúdos nos balneários da primária ou do primeiro ciclo, a argumentar um contra o como se um campeonato de medição de pilinhas se tratasse, muito habitual antes das aulas de Educação física: "olha aqui, a minha pilinha é maior do que a tua". "Pois mas a minha estica mais...e o meu pacote é muito maior"
Em relação às listas apresentadas pelos partidos só tenho duas coisas a dizer: Ferro Rodrigues e Fernando Nobre? Já agora porque não o José Cid e a Maya, ou o Malato e o Fernando Mendes? Sempre arrastavam mais pessoas. Nobre parece a Casal boss de um amigo meu. Andava dois metros para a frente e três para trás. E quem foi o génio que se lembrou de Ferro Rodrigues? Os socialistas têm algum baú com tesourinhos deprimentes? Porque não Guterres? Ele tem muita experiência com refugiados. E o PSD? Não lhe apetece ser governo? Se sim que porcaria de lista é esta? Tirando a lufada de ar fresco chamada Francisco José Viegas o resto cheira a requentado. Mofo. PS: Ana Jorge em Coimbra novamente? Veio cá numa excursão na primária e gostou foi? E como diria o caro colega comentador Runaldinho na caixa de comentários o que dizer do "dependente Basilío Horta, que se diz democrata cristão desde pequenino, mas quer tornar-se "independente" por Leiria! Isto sim, é um ginasta que faria corar de inveja um qualquer Alexei Nemov!"
Mas o mais estranho de tudo isto é que enquanto o pais se afunda e parece o Leonardo di Caprio a abanar a mãozita com corpinho a 2 graus despedindo-se de Kate, que bem poderia ser uma espécie de Cavaco Silva mais rude e sem choradeiras - uma Winslet austera, estes dois artistas e respetivos partidos discutem quem ligou a quem, a que horas e em que dia é que estiveram juntos antes de um ir mostrar o pacote a Bruxelas. "Tu disseste que me fazias isto e aquilo. És uma tonta. Parvalhona". Parecem os primeiros tempos de um namoro atribulado, e quem sabe se não serão mesmo, veremos. É que nas questões de fundo as pilinhas destes dois partidos são quase sempre do mesmo tamanho. Defender os boys e os poderes instalados. E se estamos à espera que apareça um Portas ao comando de um submarino salvar o Di Caprio esqueçam. Portas é como os estalinhos de Carnaval, muito barulho mas acabam depressa.
À esquerda nem vale a pena falar. Só pelo discurso os dois partidos já tinham decapitado os senhores do FMI em pleno Terreiro do Paço. O BE e o PCP deviam fundir-se. Isto de continuarem a discutir qual o partido que dá mais vontade de rir com as suas declarações não faz qualquer sentido. Porque não uma única bancada de cómicos? Poupava-se no financiamento aos partidos.
Conclusão: metam as pilinhas para dentro e deixem os senhores do FMI trabalhar, pode ser que estes façam alguma coisa de útil enquanto os senhores se divertem a brincar às eleições. Era engraçado vermos detalhadamente as contas que ninguém mostra.
Via 100 Reféns
Nem meia hora tinha passado da entrega do pedido de demissão a Cavaco Silva, e José Sócrates anunciava que vai recandidatar-se às próximas eleições.
Numa declaração em São Bento, sem direito a perguntas, Sócrates afirmou que se demitiu porque "a oposição não deu qualquer espaço para o diálogo político e tirou todas as condições para governar".
O primeiro-ministro demissionário lembrou que fez "tudo para evitar a ajuda do FMI, para que o país não ficasse numa situação igual à da Grécia". E manteve a sua tese de que a "ajuda externa é prejudicial para o país".
Sócrates disse que "tentou evitar" esta situação "até ao último minuto" e que fez inúmeros apelos à responsabilidade", lamentando "ter sido o único a fazê-lo e que ninguém o tenha aceitado".
Sócrates recordou que "quando um PEC tem o apoio das instituições europeias há logo quem o deite abaixo", classificando a esta atitude como uma "obstrução", levada a "um limite intolerável". Classificando esta crise como "desnecessária", criticou de novo aqueles que "julgam ter colhido aqui uma vitória", acusando-os de "estreiteza de vistas". E por ninguém "ter apresentado alternativas, apesar das tentivas de diálogo", Sócrates considerou que a "irresponsabilidadetriunfou sobre o sentido de Estado".
Agora, disse Sócrates, "a crise só poderá ser resolvida pela vontade dos portugueses e eu confio nos portugueses".
Via Ionline
I. Ontem, quando escrevi isto , esqueci-me de um enorme pormaior: José Sócrates é aquela pessoa que disse "manso é a tua tia" no parlamento. Isto é ainda mais classy do que os corninhos de Manuel Pinheiro. Sócrates é, portanto, a pessoa indicada para falar de boa educação. Tal como Armando Vara, outro boy do PS cheio de boa educação. Agora, parece que o único-licenciado-em-Relações-Internacionais-do-mundo-a-ser-um-alto-quadro-da-banca passou à frente dos velhotes no centro de saúde. Estava com pressa para apanhar um avião. Coitadinho.
II. Sim, esta lata quase cómica de Vara não é importante para o défice das contas e demais coisas com números, mas é revelador de algo que está a montante dessa crise económica, a saber: a crise moral. Este regime criou um buraco ético no seu centro, composto por boys que não respeitam o país e os portugueses. Porque, pura e simplesmente, vivem à margem da sociedade. Vivem no seu mundinho de impunidade. Estamos a falar das pessoas que compram carros de 180 mil contos em tempo de crise. Estamos a falar das pessoas que aceitam empregos públicos para os quais não têm CV . Estamos a falar dos indivíduos que, depois de roubarem gravadores a jornalistas, são glorificados pelo seu partido ("é, pá, boa Rodrigues, muito boa. Os gajos estavam a pedi-las").Estamos a falar das pessoas que mentem no parlamento . Estamos a falar de pessoas que gozam com as comissões parlamentares. Estamos a falar de pessoas que nunca se demitem, mesmo quando se torna evidente que são incompetentes . Estamos a falar de pessoas que dizem "o povo têm de sofrer as crises como o PS as sofre" . Estamos a falar de pessoas que tratam os jornalistas como se fossem cães sarnentos. Estamos a falar de pessoasque processam colunistas, porque não conseguem encaixar uma crítica , porque julgam que estão acima do bem e do mal. Estamos a falar das pessoas que chegam a big boss da banca com um curso de relações internacionais.
III. Portanto, este episódio de Vara é só a caricatura extrema deste padrão de comportamento. "Manso é a tua tia" é, de facto, o melhor resumo da Era Vara & Sócrates, Lda.