Nove segundos bastaram para Telma Monteiro conseguir a primeira medalha de ouro da sua carreira no Grand Slam de Paris, em -57 kg, ao vencer por ippon a campeã mundial, a judoca japonesa Aiko Sato.
O combate estava no seu início e, no primeiro ataque realizado pela portuguesa, Telma Monteiro deixou Sato pregada com as “costas no tatami” do Pavilhão Paris-Bercy, tendo a judoca japonesa ficado surpreendida e a portuguesa iniciado de imediato os festejos, de braços no ar.
Foi grande a festa da judoca do Benfica, que, apesar das muitas medalhas em várias competições, nunca alcançara o lugar mais alto do pódio naquele que é um dos torneios mais prestigiados do circuito mundial de judo.
Telma Monteiro já subira três vezes ao pódio de Paris, com dois terceiros lugares (2008 e 2011) e um segundo (2007, ainda nos -52 kg), além de um quinto (2009), mas desta vez obteve o melhor resultado de sempre.
Frente a Sato, Telma Monteiro acabou de certa forma por repetir o que tinha feito em Janeiro, no Masters de Almaty, mas então ao derrotar a campeã mundial nas meias-finais, para depois perder com outra japonesa, a líder mundial Kaori Matsumoto.
Matsumoto foi, aliás, a grande ausente da categoria na competição, deixando caminho aberto para as suas seguidoras: Sato (segunda do Mundo) e Telma (terceira do Mundo e segunda no apuramento olímpico).
Em Paris, Telma teve um trajecto imaculado até ao final, ao vencer os três primeiros combates por ippon (pontuação máxima), com a espanhola Isabel Fernandez, a mongol Battugs Tumer-Od e a francesa Sarah Loko.
Na meia-final, a judoca do Benfica teve que levar o combate frente à norte-americana Marti Malloy até final dos cinco minutos, onde chegou à vitória com um yuko, confirmando o seu favoritismo.
As outras portuguesas em acção nos tatamis do Pavilhão Paris-Bercy estiveram aquém dos resultados da campeoníssima Telma Monteiro, com Leandra Freitas e Ana Hormigo, ambas nos -48 kg, e Joana Ramos, nos -57 kg, a perderem ao segundo combate.
Leandra Freitas começou por vencer a francesa Maryne Lebo (por yuko) e depois foi derrotada pela italiana Valentina Moscatt (waza-ari), enquanto Ana Hormigo começou igualmente por bater uma judoca da casa, Scarlett Gabrielle (ippon), e saiu de prova frente à brasileira Sarah Menezes (yuko).
A competição de Paris acabou por não trazer dividendos para a qualificação olímpica de Ana Hormigo, a melhor portuguesa nos Jogos de Pequim2008, ao cair frente à terceira do “ranking” e segunda na qualificação para Londres 2012.
A derrota de Hormigo, que se encontra a três lugares do apuramento, aconteceu frente a uma das melhores judocas na categoria de -48 kg, com Menezes a chegar à final e a perder com a japonesa Tomoko Fukumi, segunda da hierarquia mundial.
Já Joana Ramos, nos -52 kg, ainda venceu a ucraniana Mariia Buiok (yuko), perdendo de seguida com a russa Natalia Kuziutina (waza-ari), uma judoca mais bem cotada que a portuguesa na corrida olímpica.
Joana Ramos está na zona de qualificação, ocupando o 10.º lugar em 14 vagas, enquanto Kuziutina é oitava. A judoca lusa deverá, no entanto, baixar uma posição, devido ao terceiro lugar da cubana Bermoy Acosta.
Em masculinos, os portugueses Gonçalo Mansinho (-60 kg), Andrei Veste (-66 kg) e Jorge Fernandes e Nuno Saraiva (-73 kg) não conseguiram ir além do primeiro combate que realizaram.
Mansinho perdeu com o francês Thomas Cadoux-Duc (yuko), Veste com o letão Demiss Kozlous (ippon), Fernandes com o russo Zelimkhan Ozdoev (ippon) e Saraiva ao também francês Gilles Bonhomme (waza-ari).
No domingo, competem Yahima Ramirez (a luso-cubana está a dois lugares da zona olímpica), nos -78 kg), e Diogo Lima, também na corrida a Londres, mas ainda fora dos lugares que garantem o apuramento, nos -81 kg.
Via Público
O Terreiro do Paço, em Lisboa, viveu hoje uma manhã diferente, com mais de 4000 crianças vestidas de quimonos com as cores do arco-íris a participarem na "Maior Aula de Judo do Mundo", promovida pelo ex-judoca Nuno Delgado.
Sob o lema "campeões para a vida", o medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sidnei2000 desenvolveu o projeto "Achieve, Collect and Give Back", com a vontade de mostrar que o judo ou qualquer outra área pode ter um papel cívico na sociedade.
No centro de Lisboa, com o rio Tejo sob pano de fundo, o ex-judoca aglomerou milhares de crianças, no Dia Mundial da Criança, e figuras ligadas ao mundo do desporto para, ao som da música, dar uma aula diferente.
A aula pretendia também bater o recorde da "Maior Aula de Judo do Mundo", que contava com pouco mais de 1.000 intervenientes, o que, segundo Nuno Delgado, terá sido largamente superado, não só no judo, mas nas artes marciais.
"Não foi só a maior aula de judo do Mundo, mas a maior aula de todas as artes marciais", disse, no final, Nuno Delgado, a quem só faltava confirmar os números junto dos membros do recorde do Guiness.
Inicialmente, a ideia era juntar 7.000 pessoas no Terreiro do Paço, numa data em que se assinala o Dia de Nelson Mandela e que levou também ao coração da cidade a embaixadora sul-africana em Portugal, Keitumetse Matthews.
A manhã nasceu diferente no centro de Lisboa, com os lisboetas a serem surpreendidos com a estátua do Marquês de Pombal vestida com um quimono e o cinturão com as cores do arco-íris, o mesmo que dava o mote para o evento duas horas mais tarde.
Com várias personalidades envolvidas, algumas ligadas ao judo (João Pina, Ana Hormigo, Yahima Ramirez) e outras não (Gustavo Lima), várias crianças encheram os tatamis de sete cores, enquanto a Nuno Delgado cabia a animação da plateia.
"Tentámos ao longo de um ano, com vários especialistas, para conseguir criar este ambiente em que tivemos crianças, idosos, invisuais, todo o tipo de pessoas a experimentarem os princípios do judo", disse Nuno Delgado.
O antigo judoca olímpico lembrou que foram muitas as escolas que se associaram ao evento, e explicou a simbologia do cinto do arco-íris, o qual lembra os feitos de Nelson Mandela e as adversidades que teve que superar na África do Sul, pela união de um povo separado pelo "apartheid".
A fechar a aula, Nuno Delgado contou com a colaboração do esquadrão falcões negros, da Força Aérea, que desceu de para-quedas no chão do Terreiro do Paço, com cada um dos militares a trazer uma bandeira de cor diferente e, o último, a bandeira de Portugal.
"Peço a todos que façam de cada dia um Dia Mandela, deem um bocadinho à pessoa mais próxima. Às vezes preocupamo-nos com coisas mais longínquas, o Haiti, o Japão, e podemos ajudar os que estão mais próximos", frisou o judoca.
Nuno Delgado disse não ser político e que o seu papel é cívico, mas que, neste momento de crise, os "portugueses devem procurar o que querem" e "não podem ficar à espera que lhes resolvam os problemas diários".
O secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, elogiou o papel de Nuno Delgado "num projeto de natureza social" chamado "campeões para a vida" e que desde o princípio houve vontade de o apoiar.
"Vale a pena porque congregou toda a gente e porque continua e tem sequência, com miúdos que vão, por via do desporto, intervir socialmente", referiu Laurentino Dias, também ele equipado com um quimono e um dos participantes da aula.
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Via Expresso