"Primavera Global" é o nome do movimento de protesto internacional decorre entre sábado e quarta-feira. Em Portugal estão marcadas ações de protesto e reflexão para sete cidades.
"A Primavera Global está a chegar, vamos tomar as ruas!". É este o repto lançado pelos organizadores portugueses do movimento de protesto internacional que irá decorrer, entre sábado e terça-feira, em cerca de 350 cidades de 40 países dos quatro continentes.
Em Portugal, estão anunciadas ações - que vão desde manifestações, a debates, worshops e atividades culturais - em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Santarém, Évora e Faro.
Sábado é o dia que conta com a maior parte das iniciativas. Em Lisboa, está marcada para as 15h uma concentração no Rossio, que irá seguir até ao Marquês de Pombal. No Porto, a concentração terá lugar, a partir das 11h, na Avenida dos Aliados. Em Coimbra, às 14h, na Praça da República.
"Decidiu-se celebrar as Primaveras várias, desde as árabes ao 12 de março em Portugal, ao 15 de maio em Espanha e aos subsequentes movimentos de indignados que surgiram em diversos pontos do mundo", refere Paulo Raposo, um dos organizadores da Primavera Global PT.
O movimento internacional organizado através da Internet conta entre nós com ações promovidas por novos movimentos de contestação e cidadania como os Precários Inflexíveis, Movimento Gerações ou Assembleia da Graça.
"Queremos despertar a cidadania"
"Não é um protesto de queixume e pieguice. É um protesto de propostas. Queremos mudar, queremos despertar a cidadania que tem estado muito ativa nos últimos tempos e que percebam que somos parte da solução", afirma Paulo Raposo.
O manifesto internacional da Primavera Global assenta em dois eixos fundamentais: a criação de uma economia social solidária e uma democracia mais participativa. "É isso que vamos tentar discutir sábado em todo o mundo. É uma manifestação pacifica, apartidária e aberta a toda a gente, desde que dentro do espírito de tolerância e não discriminação da Primavera Global", refere Raposo.
Dentro das ações que decorrem sábado em Lisboa, a partir das 17h tem início a iniciativa as "Ideias Saem à Rua", que conta com debates públicos sob temas como "Dívida portuguesa, canabalização de um povo" ou "Da Geração à Rasca à Primavera Global, como continuar?", worshops e atividades para crianças.
Numa ação de incitamento à "desobediência civil", o denominado Grupo de Transportes dos Indignados de Lisboa desafia a que, entre sábado e terça-feira, se viaje nos transportes públicos sem pagar.
Gente de todo o país acorreu a Lisboa (Fotos: Miguel Manso)
A manifestação contra a fusão de freguesias, neste sábado à tarde, em Lisboa, foi um desfile de diversidade, com ranchos folclóricos, associações culturais, recreativas e desportivas de todo o país. A contabilidade de participantes é feita epla Anafre, que reclama 200 mil pessoas presentes. Boa parte dos 600 autocarros que levaram os manifestantes até Lisboa foram pagos pelas próprias freguesias.
O presidente da Associação Nacional de Freguesias (Anafre), Armando Vieira, disse que houve juntas a pagar a viagem dos manifestantes até à capital, enquanto as restantes conseguiram negociar uma alternativa ao pagamento dos autocarros.
Inicialmente, estava prevista a utilização de 600 autocarros para o protesto, organizado pela Anafre. Mas Armando Vieira informou que foram “bem mais” os que, desde manhã, levaram manifestantes de todo o país até ao Marquês de Pombal, de onde saiu o desfile. E – lembra – há ainda a contabilizar as pessoas que se deslocaram de carro, mais os manifestantes que vivem na capital.
Fazendo as contas apenas aos 600 autocarros, estão a desfilar na Avenida da Liberdade, mais de 30 mil pessoas (cerca de 50 por autocarro). Armando Vieira diz que só fará essas contas no final, embora confesse, ainda no início do protesto, estar “satisfeito” com a participação. “Estão muitas mais pessoas do que as que estávamos à espera.” Só de Braga, por exemplo, terão partido 100 autocarros rumo à capital.
O desfile está a ser feito por distritos – os que saíram primeiro foram os de Viana do Castelo, Beja e Braga. “Não estão todas as freguesias, mas estão muitas e de todos os distritos”, sublinhou Armando Vieira. O resultado é a anunciada “grande afirmação da cultura e da etnografia”, demonstrativa das raízes, da riqueza e da representatividade das freguesias. Apesar de existirem algumas faixas e cartazes – “Não à extinção das freguesias!” –, não há palavras de ordem.
“Isto é uma ajuda para o Governo e para a Assembleia da República, para pensarem melhor a reforma”, acrescentou Armando Vieira. O autarca saudou a maior abertura do primeiro-ministro para discutir a reforma autárquica, ainda que “longe” do que é reivindicado pela Anafre: “É uma atitude de aproximação que registo com agrado. É uma atitude inteligente, embora longe das nossas posições sobre esta matéria.” “A reforma tem de ser feita com os eleitos e com cidadãos – e não contra eles”, sublinhou.
Dezenas de milhares de estudantes universitários e agentes políciais espanhóis entraram em "guerra" nas ruas da segunda principal cidade de Espanha.
Pelo menos duas pessoas foram já detidas, na sequência dos confrontos entre a polícia e os estudantes, junto à praça da universidade no centro de Barcelona. Muitos alunos estão refugiados na reitoria da universidade que continua cercada pelos "Mossos d'Esquadra".
Quando a manifestação de estudantes em protesto contra os cortes no ensino chegava ao fim, foram incendiados alguns caixotes de lixo e arremessadas pedras contra os "Mossos d'Esquadra", nome da polícia local.
Para se abrigarem dos confrontos, que decorriam nas ruas adjacentes, centenas de manifestantes procuraram refúgio no edifício da reitoria que pelas 15 horas (menos uma em Portugal), já se encontrava cercado pela polícia que chegou a disparar balas de borracha.
A manifestação com partida e chegada à praça da universidade, e na qual também marcaram presença professores e funcionários, parou por completo o centro de Barcelona. A encabeçar o desfile, em que participaram 25 mi pessoas, segundo a polícia, e 70 mil, segundo o "El Mundo", estavam uma enorme faixa onde se podia ler: "Não pagaremos as vossas aldrabices - Salvemos a universidade pública".
Centenas de jovens munidos de máscaras manifestam-se este sábado em cinco cidades portuguesas contra o ACTA. A Avenida dos Aliados é o palco escolhido a Norte.
A Internet saiu à rua este sábado. Na Europa, especula-se que dezenas de milhares de pessoas vão marcar presença nos protestos contra o Acordo Comercial Anti-contrafacção, marcados em cerca de duzentos locais diferentes. Por cá, as manifestações começaram às 11h30 em cinco locais: Lisboa, Porto, Coimbra, Viseu e Faro.
No Porto, a essa hora, já se reuniam algumas dezenas de jovens na Praça Humberto Delgado, mesmo em frente à Câmara Municipal. Um mural improvisado, feito (ironicamente) de rede, ia sendo preenchido com protestos como "É ilegal parar a evolução. Pára o ACTA" ou "Não ACTA nem desACTA".
No meio da multidão que se ia formando, percebiam-se alguns movimentos, como os Indignados, Zeitgeist Portugal ou os Anonymous nacionais. Mesmo assim, a maioria não assumia qualquer ligação e admitia vir por impulso, em protesto contra a "Inquisição do século XXI".
É o caso de um jovem de 20 anos que, de máscara do filme "V for Vendetta" na cara, não se identifica, mas garante que esta é a primeira vez que decide participar numa manifestação. "Sou sincero: o que mais me preocupa é a Internet e é por isso que eu aqui estou. Se o ACTA passar, a Internet vai deixar de ser livre", explica.
Já outro jovem, um estudante de 23 anos de fato e máscara, que segura um cartão onde se lê "ACTA - You shall not pass", assume a sua ligação a um grupo online. "Eu faço parte de uma página internacional no Google+ que luta a favor da liberdade de expressão e da liberdade na Internet. Ajudámos a parar a SOPA e a PIPA e agora estamos activos em todas as frentes da Europa", garante. Sobre o recuo da Alemanha e Letónia, que suspenderam, recentemente, o processo de ratificação do ACTA já assinado por 22 países europeus, o estudante acredita que "é uma pequena vitória", "mas não é tudo". "Houve muitos países que assinaram e existem muitas pressões para acabar com a Internet", diz, acrescentando que o ACTA não impede só a Web, mas também "agricultores de cultivar sementes patenteadas ou, até, o uso de genéricos".
A maioria dos participantes acabaram por se reunir em frente à estátua de D. Pedro, de onde gritavam palavras de ordem como "O ACTA é ditadura", "ACTA não: liberdade de expressão" ou "Partilhar não é roubar". Desconhece-se, para já, o número de pessoas que passaram pela Avenida dos Aliados em protesto este sábado.
Militares e funcionários públicos saíram à rua em protesto contra as medidas do Orçamento do Estado apresentado pelo Governo. Veja as imagens captadas pelos fotojornalistas do Expresso, Tiago Miranda, Jorge Simão e José Ventura.
Cerca de 100 mil pessoas saíram à rua em Lisboa, numa manifestação pacífica que acabou por ter alguns momentos de tensão. Veja as imagens do protesto, captadas por Tiago Miranda e Nuno Fox, fotojornalistas do Expresso. Clique para visitar o dossiê Protesto 15 de outubro
Lisboa - Marquês de Pombal | Porto - Praça da Batalha | Angra do Heroísmo - Praça Velha | Braga - Avenida Central | Coimbra - Praça da República | Évora - Praça do Sertório | Faro - Jardim Manuel Bivar | Resto do Mundo
Somos “gerações à rasca”, pessoas que trabalham, precárias, desempregadas ou em vias de despedimento, estudantes, migrantes e reformadas, insatisfeitas com as nossas condições de vida. Hoje vimos para a rua, na Europa e no Mundo, de forma não violenta, expressar a nossa indignação e protesto face ao actual modelo de governação política, económica e social. Um modelo que não nos serve, que nos oprime e não nos representa.
A actual governação assenta numa falsa democracia em que as decisões estão restritas às salas fechadas dos parlamentos, gabinetes ministeriais e instâncias internacionais. Um sistema sem qualquer tipo de controlo cidadão, refém de um modelo económico-financeiro, sem preocupações sociais ou ambientais e que fomenta as desigualdades, a pobreza e a perda de direitos à escala global. Democracia não é isto!
Queremos uma Democracia participativa, onde as pessoas possam intervir activa e efectivamente nas decisões. Uma Democracia em que o exercício dos cargos públicos seja baseado na integridade e defesa do interesse e bem-estar comuns.
Queremos uma Democracia onde os mais ricos não sejam protegidos por regimes de excepção. Queremos um sistema fiscal progressivo e transparente, onde a riqueza seja justamente distribuída e a segurança social não seja descapitalizada; onde todas as pessoas contribuam de forma justa e imparcial e os direitos e deveres dos cidadãos estejam assegurados.
Queremos uma Democracia onde quem comete abuso de poder e crimes económicos e financeiros seja efectivamente responsabilizado por um sistema judicial independente, menos burocrático e sem dualidade de critérios. Uma Democracia onde políticas estruturantes não sejam adoptadas sem esclarecimento e participação activa das pessoas. Não tomamos a crise como inevitável. Exigimos saber de que forma chegámos a esta recessão, a quem devemos o quê e sob que condições.
As pessoas não são descartáveis, nem podem estar dependentes da especulação de mercados bolsistas e de interesses financeiros que as reduzem à condição de mercadorias. O princípio constitucional conquistado a 25 de Abril de 1974 e consagrado em todo o mundo democrático de que a economia se deve subordinar aos interesses gerais da sociedade é totalmente pervertido pela imposição de medidas, como as do programa da troika, que conduzem à perda de direitos laborais, ao desmantelamento da saúde, do ensino público e da cultura com argumentos economicistas.
Os recursos naturais como a água, bem como os sectores estratégicos, são bens públicos não privatizáveis. Uma Democracia abandona o seu futuro quando o trabalho, educação, saúde, habitação, cultura e bem-estar são tidos apenas como regalias de alguns ou privatizados sem que daí advenha qualquer benefício para as pessoas.
A qualidade de uma Democracia mede-se pela forma como trata as pessoas que a integram.
Isto não tem que ser assim! Em Portugal e no mundo, dia 15 de Outubro dizemos basta!
A decisão sobre manifestantes pedalarem completamente nus pertencerá no domingo à PSP, mas a organização da primeira World Naked Bike Ride Lisboa (Passeio Nu Mundial de Bicicleta - WNBR) mantém o lema: «Vem pedalar o mais nu que conseguires!».
Pedro dos Santos, da organização, relatou à Lusa que a autorização do Governo Civil de Lisboa foi dada até porque legalmente não se podem impedir manifestações.
Mas estando em causa nudez pública há outros quadros legais a ter em conta e por isso a PSP «terá de decidir no dia e no momento conforme as condições envolventes».
Entre essas «condições» pode estar uma queixa de um cidadão, exemplificou o impulsionador da iniciativa, que não deixou de sublinhar que o mais importante é passar a mensagem ambiental e de que é possível usar bicicleta como meio de transporte nas cidades.
«Vamos o mais nus que pudermos: de fato de banho ou de lingerie», ou seja, situações que já se repetiram em Espanha, no México ou mesmo na Grécia, no passado fim-de-semana.
Na rede social Facebook, a WNBR de Lisboa tem 400 seguidores, 74 pessoas com a presença confirmada, mas Pedro dos Santos prefere dar cerca de 60 participantes como garantidos.
«No Brasil, a primeira WNBR, há oito anos, teve dois participantes», lembrou.
O ponto de encontro será a Praça Marquês de Pombal, pelas 15e30, e a partida cerca de uma hora depois em direcção a Belém.
A hora de ‘intervalo’ servirá para concentrar participantes, que podem pintar no seu corpo as mensagens que queiram transmitir em prol do ambiente.
A iniciativa nasceu em Espanha com o grupo Manifestación Ciclonudista e no Canadá com os Artists for Peace.
Em 2004 realizou-se a primeira WNBR em vários países a 12 de Junho, uma data que nem sempre se manteve ao longo dos anos.
A primeira edição em Portugal esteve inicialmente prevista para 5 de Junho, mas a marcação de eleições legislativas e a proibição legal de manifestações nesse dia levou ao adiamento para domingo.
Pai, por que é que esta gente toda está aqui?", perguntou o Francisco, de dez anos, no meio da multidão. "Olha, para que um dia possas vir a ter um emprego e uma vida como deve ser", ouviu como resposta. Este motivo pareceu convencer o Francisco que, de máquina fotográfica em riste, marchou lado a lado com mais de 200 mil pessoas na Avenida da Liberdade, naquela que viria a ser a primeira manifestação da sua ainda curta vida.
A minha já vai bem mais longa, mas os meus quase dez anos de precariedade levaram-me igualmente a estrear nestas andanças das manifestações sem ser em trabalho. Tive o prazer de entrevistar os organizadores do "Protesto da Geração à Rasca " há um mês atrás, numa altura em que as incertezas eram mais do que as certezas. Mas não era preciso ser uma iluminada para perceber que aqueles jovens "Deolindos" - como tão depreciativamente um grande comentador da praça os apelidou - iam afinal ser as caras de um momento histórico em Portugal.
Um dia antes do protesto ouvi outro cronista dizer: "Os putos devem achar que a vida é fácil!". Pois é, meus senhores, os putos infelizmente sabem que a vida não é fácil. E foi por isso que, com sangue na guelra, levaram à rua não só uma geração mas sim todo um país à rasca. A verdade é que a precariedade toca a (quase) todos e só mesmo quem vive dentro de uma bolha é que não conhece alguém que esteja ou desempregado, ou a recibos verdes, ou a contratos temporários ou com ordenados que são tudo menos dignos. Por todos eles, que um dia poderemos ser nós, sair à rua fez todo o sentido.
"Pai, espero que o Sócrates veja isto na TV"
Demorei duas horas a descer os escassos metros da Avenida da Liberdade e pelo caminho vi miúdos, graúdos, idosos, bebés, grávidas, gente de cadeira de rodas, famílias inteiras, grupos políticos de todas as cores. Gritou-se, cantou-se, riu-se, chorou-se. Houve um vasto sentido de união que eu julgava que já só mesmo em campeonatos de futebol é que seria possível. E não houve violência, embora tenha noção de que muita gente secretamente desejava que isto desse pancadaria da grossa para ter mais um motivo para criticar.
Do alto da genuinidade dos seus dez anos, Francisco deu voz ao pensamento de milhares de pessoas: "Espero que o Sócrates veja na televisão esta quantidade de gente e o que estão a pedir!". Todos sabíamos que nada iria mudar imediatamente no dia a seguir. Mas quando todo um país sai à rua, este gigante reflexo de descontentamento deve, no mínimo, ser analisado.
Cansado, como tantos de nós ao fim de anos de vida precária, o pequeno manifestante pediu para se sentar e comer um pacote de castanhas assadas para enganar um estômago à rasca. O seu olhar percorria atentamente o mar de gente e deixou soltar um curto suspiro: "Espero que não sejam só berros que não dão em nada. Gostava de saber, se quando eu for adulto, valeu a pena cá ter vindo". Como eu gostava de te poder responder a isso, Francisco.
José Pacheco Pereira parece viver num mundo à parte, numa realidade muito própria e diferente da dos demais que o rodeiam. Com a esquerda no coração mas sentado confortavelmente à direita e habituado que está a fazer o ponto-contraponto daquilo que o próprio selecciona, parece por vezes esquecer-se que há mundo para além das suas próprias barbas. E que nesse mundo "distante" vivem pessoas que têm o direito de expressar a sua angústia, a sua livre opinião, fartas que estão de conversa fiada para boi dormir e alguns ganharem uns cobres. Como nem todas têm a "sorte" de ter um programa de televisão para o poderem fazer sem contraditório, escolhem o sítio mais democrático que existe para manifestarem o que lhe vai na alma: a rua - dispersas nas praças por esse país fora.
Ora como José Pacheco Pereira seria mais um dos que achavam, do alto do majestático pedestal de pseudolíderes opinativos cá do burgo, juntando-se a outros como Miguel Sousa Tavares e afins, que esta manifestação seria um total e rotundo flop, sem organização, sem ideias, sem ordem ou rumo, sem qualquer sentido. Ora meus amigos "metam uma rolhinha" como diz o povo, e desculpem a brejeirice, mas desta vez merecem. A azia é um prato que se serve frio. É como a saladinha de polvo ensalsada. E ontem ao jantar o Rennie deve ter sido prato do dia para muita gente.
Sábado, por volta das 17:00 horas, Pacheco Pereira apercebeu-se que afinal Portugal é um bocadinho maior do que um estúdio de televisão, pelo menos umas 300 mil vezes maior, e decidiu por isso atirar-se à comunicação social que fazia a cobertura do protesto, já que sobre o protesto pouco poderia dizer, as imagens que o deveriam estar a atormentar e exasperar falavam por si:
O espantoso relato "jornalístico" da manifestação de hoje "em directo" pelas televisões e nalguns jornais que se dizem de "referência", mostra como o jornalismo português está a milhas de qualquer deontologia básica da informação e de qualquer critério mínimo de qualidade profissional. Alguém faz sequer nas redacções uma vaga ideia de como nenhuma televisão (e jornais) sérios em todo o mundo faria isto? Hoje voltou-se ao PREC e aos comícios em directo. Hoje a televisão de Hugo Chávez foi o padrão do "jornalismo" português. JPP - "Abrupto" (blogue)
Atentem na frase: "Alguém faz sequer nas redacções uma vaga ideia de como nenhuma televisão (e jornais) sérios em todo o mundo faria isto?"
Claro que não caro José. Nenhuma televisão ou jornal portugueses sabiam efectivamente o que estavam ali a fazer. É tudo gente pouco séria. Pelos vistos nem sequer a estação para a qual o José trabalha fez uma cobertura isenta. Só mesmo o José Pacheco Pereira saberia a melhor maneira de cobrir este protesto. Acho até que deveriam abrir uma escola de jornalismo de elite chamada "Nova Escola Superior de Comunicação Social José Pacheco Pereira". E o José deveria ficar encarregue da unidade curricular "Acompanhamento de manifestações e protestos como deve ser".Enfim, haja paciência para aturar ministros da propaganda sem cadeira.
Até anteontem não estava minimamente convencido em participar na manifestação marcada para 12 de Março em Lisboa e Porto, um movimento de jovens cidadãos denominado protesto da "geração à rasca". E não estava por uma simples razão: não considero que neste momento seja apenas e só uma geração, à qual pertenço, a estar à rasca. Estamos todos à rasca. O país em geral. Todas as gerações. Uns de uma forma, outros de outra, e cada uma à sua maneira. Só não estão "à rasca" os tubarões que o Governo não ousa beliscar (onde está o tal imposto para os bancos? Perdeu-se ou faltou a coragem?),aquelesque o Estado continua a nomear indiscriminadamente e contratar milionariamente em plena crise para empresas públicas que todos pagamos. Tudo passa impune.
O resto? Tudo "à rasca". Muitos com prestações da casa em atraso ou já sem ela depois de a terem finalmente entrgue ao banco, a viverem o desespero numa garagem (conheço "n" casos), outros porque deixaram de poder pagar os colégio aos filhos, as perdas dos abonos, 11,2% da população desempregada e sem perspectivas de futuro, outros têm um emprego mas nunca irão exercer uma profissão dentro da sua área de formação, na qual investiram grande parte da sua vida e sacrificaram dinheiro, o próprio e o dos pais. Geração híper-qualificada completamente estraçalhada, sem margem para se libertar e tornar verdadeiramente independente. Outras gerações qualificadas à pressa, sem qualidade, por decreto, para inglês ver e a estatística aplaudir. Milhares de trabalhadores que viram o seu vencimento reduzido roubados pelo governo que tantos legitimaram, no qual confiaram e que lhes mentiu e continua a enganar descaradamente.
Milhares de jovens explorados em estágios não remunerados ou a trabalharem com um livro de recibos que a constituição de um qualquer país civilizado proíbe. Já leram a nossa? Milhões perderam subsídios, milhões com as suas pensões reduzidas ou congeladas e sem acesso a medicamentos que os próprios hospitais já começam a cortar. A saúde está falida. A justiça podre. Os impostos que corroem até aos ossos e minam um tecido empresarial cada vez mais fraco, os depósitos de gasolina cada vez mais vazios e os carrinhos de supermercado menos cheios. A luz, a água, o gás, o pão, o café, o açúcar, tudo, mas tudo mais caro. Este país já esteve de tanga. Neste momento é uma tanga onde todos nós vivemos.
Por considerar que não é apenas uma geração, mas várias, ou todas, achava o protesto em si redutor, pelo que não tencionava associar-me a ele. Mas depois de ouvir o Sr. Engenheiro anunciar, sim porque quando este senhor tem a lata de vir à televisão dizer que "o governo poderá ter de tomar medidas auxiliares" uma vez mais já todos sabemos o que aí vem, e ainda de visionar o débil programa Prós e Contras da RTP, apresentado sempre na formasui generis Bulhão style, onde ouvi coisas verdadeiramente chocantes da boca de algumas pessoas que deviam permanecer caladas no seu mundinho particular de editoriais feitos em cima do joelho do primo accionista e redomas de reitorias snobes de universidades queques, decidi que vou participar. E vou porque isto está tudo mal. E tudo tem de mudar. Está na hora. Lá estarei.
Há quem diga que foram os Deolinda a chamar a atenção para os problemas da "geração parva". Outros acreditam que as manifestações no Egipto são uma inspiração, ao mostrar que é possível derrubar um governo de forma quase espontânea. Seja o que for, começam a germinar online protestos mais ou menos apartidários contra o sistema e contra o estado de coisas a que chegou o país. A geração está à rasca?
"Não sei se está tão à rasca quanto se diz. ''As notícias da minha morte são muito exageradas'', a parvoíce desta geração também é muito exagerada. Mas tenhamos esperança, estes protestos mostram que o país não está completamente amorfo e há qualquer coisa a germinar. Qual o fruto e quando amadurecerá ainda não se sabe. E é bom que não se saiba para não o irem cortar pela raiz", explica o sociólogo Manuel Villaverde Cabral.
No Facebook, o grupo "1 milhão na Avenida da Liberdade pela demissão de toda a classe política" já tem quase 23 mil seguidores. "Sabemos que um milhão é impossível, trata-se de um número simbólico. Também sabemos que a demissão de toda a classe política levaria ao caos, mas esta é uma maneira de mostrarmos o nosso desagrado pela classe política actual", refere o porta-voz do grupo, José Couto Nogueira.
Um protesto que não é bem visto aos olhos de todos. O deputado do PSD e comentador político Pacheco Pereira considera-o "um puro manifesto antidemocrático" e levanta algumas questões no seu blogue: "Demitem toda a classe política como? Como em 1926, com o 28 de Maio? Como se Portugal fosse o Egipto e ''Sócrates-Passos Coelho-Portas'' (e porque não Jerónimo de Sousa e Louçã) fosse um compósito de Mubarak? Sem eleições? Sem partidos? Democracia directa com votos pela televisão em chamadas de valor acrescentado e o parlamento no Facebook?" O grupo foi de facto inspirado nas manifestações no Egipto: "Percebemos que é possível grandes manifestações sem partidos nem centrais por detrás", explica o porta-voz. O dia da manifestação ainda não foi marcado. "Só quando atingirmos os 50 mil seguidores no Facebook", diz Couto Nogueira.
Preparada parece estar já a manifestação do próximo dia 12 de Março, organizada pelo grupo Protesto da Geração à Rasca, um protesto que se diz "apartidário, laico e pacífico". A manifestação será em Lisboa e no Porto com o objectivo de "promover o debate alargado sobre a problemática da precariedade e mostrar que existe muita gente nesta situação que se encontra descontente e pretende, ao aderir ao movimento, mostrar que quer fazer parte da solução", explicam via email os criadores do grupo João Labrincha, Alexandre de Sousa Carvalho e Paula Gil.
O grupo pede para que todas as pessoas que se decidam manifestar levem escritas numa folha A4 as razões que os levaram ao protesto para depois serem entregues na Assembleia da República. Até agora quase 11 mil pessoas afirmam que vão aderir ao protesto mas os criadores não fazem "qualquer previsão do número de pessoas a participar. Quantos mais melhor. O Facebook é uma excelente plataforma para chegar a um número muito alargado de pessoas. Até agora entraram em contacto connosco pessoas que se disponibilizaram a organizar protestos, baseados no nosso manifesto, no Porto, Funchal, Braga, Ponta Delgada e Viseu".
As razões que levam ao protesto repetem-se. "Vou estar na manifestação por causa dos ordenados baixos, das horas extraordinárias que não nos pagam, dos contratos que não existem e dos recibos verdes", diz André Cabrita, estudante de Arquitectura em Lisboa. Quando questionado se considera que a manifestação pode mudar alguma coisa a resposta sai certeira: "Não. Mas é o meu dever cívico. Cada cidadão faz a sua parte para tentar sair do buraco que estão a escavar, o problema é que só reparam quando já estamos enterrados", afirma.
O jornalista Nuno Ramos de Almeida resume as razões para estes protestos: "Primeiro o Código Contributivo veio alterar, e muito, a precariedade. Começa a ser muito complicado ser precário. Depois, a questão das manifestações por todo o mundo passa a ideia de que é interessante fazer o mesmo". Por fim, "a reacção à música dos Deolinda" fez perceber "que não estamos sós".
A manifestação de dia 12 será um primeiro teste para medir o pulso aos portugueses. "É mais fácil lutar contra a ditadura do que contra a ditamole. É difícil ultrapassar a viscosidade da nossa situação política mas oxalá que venham para a rua e isso contribua para uma reforma política sem a qual Portugal vai a pique", acredita Villaverde Cabral.
Em pouco mais de 24 horas, 5392 membros. Um novo movimento do Facebook quer juntar um milhão de pessoas na Avenida de Liberdade "pela demissão de toda a classe política."
Um dos fundadores explicou ao i que a iniciativa surgiu de forma espontânea no chat da rede social.
Para já, o objectivo do grupo é conquistar apoiantes e debater a futura manifestação, ainda sem data marcada. Ao longo do dia foram publicadas dezenas de comentários no mural da iniciativa.
"Volto a referir que esta ideia nasceu pacífica, é pacífica, vai continuar pacífica e se vai concretizar pacificamente, e esperaremos pacificamente que os governantes e os políticos admitam aquilo que toda a gente vê, menos eles, e dêem o lugar a outros mais competentes", afirmava há minutos um dos membros do grupo.
Parece que esta malta não se lembra daquela famosa manifestação que nasceu nos blogs e reuniu.. umas dezenas de pessoas frente ao parlamento, carregar no gosto no facebook é fácil... ir até à avenida dar a cara é mais complicado