O Governo liderado por Pedro Passos Coelho já teve um ano para mostrar aos portugueses ao que veio. Os politólogos ouvidos pelotvi24.pt elogiam a «vontade clara de cumprir» as metas acordadas com a troika e admitem que «seria improvável arriscar fazer muito diferente», mas também apontam o «descrédito» criado pelas «inconsistências» entre as promessas feitas e as medidas tomadas.
«Há uma vontade clara de cumprir, de pôr as contas em ordem. Esse esforço implicou cortes nos salários brutais, que tinham sido veementemente recusados em campanha eleitoral. Este era o Governo que ia dizer a verdade e isso representa um descrédito enorme», afirmou André Freire.
Ao «ir para além do que estava programado» sem explicar «milimetricamente» aos portugueses as consequências, o Governo ficou «ferido do ponto de vista da credibilidade». «Não é a primeira vez que as promessas eleitorais são quebradas, mas o problema é a profundidade disso», acrescentou.
Especialistas analisam as medidas, os casos e os ministrosQuestionado sobre as frases mais polémicas do Executivo, André Freire considera que são «insultos», que demonstram «desfaçatez» e deixam o Governo «mais fraco». «Isso é brincar com as pessoas e as pessoas não são estúpidas. Estou até espantado com a apatia das pessoas. Mas a nossa sociedade não é muito exigente do ponto de vista da cultura política», afirmou.
O professor do ISCTE apontou que «era preciso alguém que desse voz à contestação e não há», porque «os partidos estão no lixo e a democracia encontra-se muito em baixo». O maior culpado, garantiu, é o PS, porque «está esfrangalhado» e «não faz oposição». «Se houvesse eleições amanhã, provavelmente o Governo não era castigado, porque este é um Governo de dois partidos, mais um de muleta. Temos uma coligação de unidade nacional informal. O PS deixa passar tudo», criticou.
Já sobre os casos que têm abalado o Executivo, como as nomeações polémicas e as secretas, André Freire admitiu que «a situação vai muito mal em tão pouco tempo». «Mas o PS não pega nestes casos, parece que têm vergonha. As pessoas estão descontentes, mas não castigam o Governo porque para isso teria de haver alternativa, e não há», concluiu.
«A sensação de arrumar a casa»
A professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Paula do Espírito Santo também critica as «diversas inconsistências ao nível da palavra» deste Governo, que apresenta medidas «com aparente descontração», contribuindo «para fomentar o descrédito sobre a expressão política governamental».
A politóloga recordou que o programa do Executivo foi «fixado a regra e esquadro» num contexto de crise, podendo «considerar-se que a campanha eleitoral da coligação foi bastante suavizante e suavizada». «As margens de fôlego económico e social são muito reduzidas, no plano governativo, num prazo imediato», explicou.
No entanto, para a politóloga, apesar de, «pontualmente», um outro partido poder ter tomado outras opções, «pois o espectro ideológico, as políticas e as pessoas seriam outras», «seria improvável arriscar fazer muito diferente a nível do esforço de compromisso externo».
Como melhor deste primeiro ano de Governo, Paula do Espírito Santo frisou «a sensação de arrumar a casa» e, como pior, «a amarga incapacidade de mobilizar os recursos e estruturas necessários ao progresso e ao desenvolvimento económico e político» do país.
«A cada mandato governativo, acresce uma hoste de descontentes e desiludidos com a política que se sentem enganados pelas incapacidades sempre renovadas dos políticos em saber gerir os desafios impossíveis e improváveis da governação», completou.
Por isso, a politóloga acredita que, se as eleições se repetissem neste momento, seria «muito provável que o sentido de voto não favorecesse a coligação no Governo».
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