O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, não respondeu, ontem, às questões da oposição sobre o despejo do colectivo Es.Col.A da antiga escola do Alto da Fontinha, mas um texto colocado no site da autarquia indica que o fim da permanência do projecto no edifício foi ditado pela ameaça feita ao autarca, num vídeo colocado na Internet cuja autoria é atribuída ao grupo Anonymous. O mesmo texto indica que a autarquia pretende avançar com obras de reabilitação do edifício no segundo semestre deste ano.
O texto, que tem remissões para uma galeria fotográfica da escola desocupada e do vídeo com "a primeira ameaça feita ao presidente da câmara antes da desocupação", recorda que este foi seguido de "diversos ataques ao sistema informático" da autarquia, argumentando: "Em face a este lamentável comportamento, não restou à câmara qualquer outra solução que não fosse a reposição da legalidade, determinando o despejo coercivo dos ocupantes."
Uma justificação que parece ter apaziguado algumas dúvidas do PS que, numa declaração lida no início da reunião pública do executivo, criticava a "falta de capacidade, de parte a parte, em estabelecer um diálogo transparente e encontrar uma solução negociada", mas considerava o despejo "inevitável". "O facto de o grupo que ocupava a escola não se ter demarcado da ameaça pública ao presidente da Câmara do Porto realizada, via Internet, pelo grupo Anonymous é muito grave e tornou inevitável a desocupação", leu o vereador Correia Fernandes.
Ainda assim, para o PS, "o essencial está por resolver", uma vez que ainda não é conhecido qual o destino que será dado ao edifício que se encontrava abandonado há cinco anos, até à ocupação pelo Es.Col.A, em Abril de 2011.
O vereador da CDU Pedro Carvalho também pediu explicações a Rui Rio (que não obteve), lembrando que o executivo tinha aprovado uma proposta para que o despejo fosse suspenso. "A convicção que tive na altura é que a intenção era dar continuidade ao projecto. Não sei onde é que este desfecho cumpre esse objectivo", disse.
O Es.Col.A tinha sido despejado pela primeira vez em Maio do ano passado, mas reocupou o edifício, com autorização autárquica, em Julho. O colectivo argumenta que a câmara nunca lhe apresentou o contrato de ocupação do espaço, prometido nessa altura, e a autarquia afirma que o grupo não quis assinar esse mesmo contrato, apresentado em Março deste ano, e que previa a permanência do colectivo no edifício até ao final de Junho, mediante o pagamento de 30 euros mensais.
Ao PÚBLICO, o presidente da Junta de Freguesia de Santo Ildefonso, Wilson Faria, diz estar à margem de todo o processo, mas garante que a população da Fontinha já não apoia em bloco a presença do Es.Col.A. "Algumas pessoas queixam-se de barulho e a indicação que tenho é que as pessoas que lá estão nem são as mesmas que apresentaram o projecto há um ano", diz.
Num flyer destinado à população da Fontinha, o próprio Es.Col.A admite a existência de "alguns transtornos" na vizinhança, por causa do barulho, mas apela, ainda assim, ao seu apoio.
Ao final da tarde de ontem, cerca de 70 pessoas sentaram-se, durante cerca de 45 minutos, em posição de meditação, na Praça de Humberto Delgado. A seguir, formaram um grande círculo, de mãos dadas, durante cinco minutos. A calma com que tudo decorreu contrastava com os 12 carros da polícia estacionados no local. João Wandschneider explicou que a iniciativa pretende tratar a "raiva" que muitos sentem devido ao recente despejo do colectivo Es.Col.A da Escola da Fontinha. A meditação vai repetir-se, pelas 18h30, nas próximas terças-feiras.
Via Público