Sábado, 23.06.12

Mundo gay de Lisboa

 

 Há várias décadas que o Príncipe Real é a principal zona gay de Lisboa, por causa dos muitos bares, discotecas e engates. Mas, se ganha na quantidade, perde na qualidade. Não é aí que ficam os melhores ambientes nocturnos gay. É no Bairro Alto - que sempre atraiu certa franja das profissões criativas e liberais, cheias de homens e mulheres homossexuais.

 

Foi a assíduos do Bairro Alto que o i perguntou pelos dois melhores bares gay de Lisboa. E o prémio, sem grande hesitação, foi quase sempre para? Maria Caxuxa e Purex. Dois sítios colados um ao outro, embora em ruas diferentes, de ambiente bem definido, livre e sofisticado, onde as pessoas se divertem a sério.

 

O Caxuxa, como é conhecido, puxa mais os homens gay; o Purex, as lésbicas. Tanto um como outro recusam o rótulo de bar gay e, bem vistas as coisas, até têm razão. Há neles de tudo um pouco. Mas não poderia ser de outra maneira, numa cidade onde consta que o apartheid da orientação sexual não existe. Agora dizer que a sexualidade de quem lá vai não importa nada também soa a falso. São os clientes, com as suas características todas, e não só metade delas, que fazem as casas. Se nunca lá foi, experimente.

 

Para eles: Maria Caxuxa Três salas, um bar, aspecto rústico propositado, um não-sei-quê de seguro e libertino. Um cantor aqui, um bailarino ali, um actor acolá. Sempre muitos gays.

 

Os actuais donos do Maria Caxuxa trabalharam em tempos noutro bar do Bairro Alto, o Clube da Esquina - assumidamente gay. Há quatro anos, quando abriram o Caxuxa, trouxeram com eles muitos clientes. Além disso, esta antiga tasca e fábrica de bolos (o forno mantém-se, ao centro do bar) foi uma lufada de ar fresco na cidade. Pela atitude - discreta, mas sabida - e pelo ambiente - familiar e moderno. Tudo aquilo que muitos homens gay apreciam.

 

Situa-se na Rua da Barroca, a principal rua gay do Bairro. Nos concorridos fins-de-semana fica facilmente sobrelotado. Por dentro e por fora. Os lugares sentados são disputados ao centímetro. E à porta junta-se uma multidão compacta de copo na mão. A atracção é tal que há quem prefira comprar bebidas mais baratas nos bares ao lado e ir despachá-las à porta do Caxuxa.

 

Por não ser um gueto, longe disso, nem vestir a camisola de nenhuma causa, permite que toda a gente se sinta bem lá dentro. O som electrónico modernaço, as excelentes tostas servidas até à uma da manhã e a rapidez do serviço fazem o resto.

 

Para elas: Purex Em pouco anos tornou-se um dos melhores bares de Lisboa e, por via da clientela que lá vai, um dos melhores bares lésbicos. Há quem lhe chame "fufex". Costuma associar-se às iniciativas LGBT lisboetas, como o Arraial Pride (a maior festa gay anual) e o festival de cinema Queer Lisboa.

As suas responsáveis preferem falar em bar gay friendly, porque dizem receber bem toda a gente. É um facto que sim. Cruzar as grandes portas cor-de-laranja do Purex não é a mesma coisa que meter o pé noutros bares do Bairro. A maior parte deles, verdade seja dita, não são bares - são balcões de venda de bebidas, sem personalidade ou ambiente. Muitas vezes sem nome. No Purex isso não acontece. Há espírito e carácter, ambiente e boa música.

 

A casa demorou a fazer-se. Tinha uma clientela lésbica pouco dada ao consumo de bebidas, que fazia do espaço uma sala de estar para amigas e conhecidas. As responsáveis conseguiram dar a volta ao caso com uma selecção musical rígida, pouco comercial e atenta às novidades. O suficiente para afastar um público menos exigente e atrair as (e os) vanguardistas.

 

Via ionline

 



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Sexta-feira, 30.03.12

A abertura de novos bares e discotecas vai ser mais difícil fora de certas zonas da cidade
A abertura de novos bares e discotecas vai ser mais difícil fora de certas zonas da cidade (Cláudia Andrade)
Abrir restaurantes, bares e discotecas em locais como o Bairro Alto, a Bica, Santos ou a Mouraria pode, daqui a meses, vir a tornar-se mais difícil. A Câmara de Lisboa quer restringir a animação nocturna nos bairros históricos aos locais onde já existe, impedindo a abertura de novos estabelecimentos, de forma a preservar o sossego dos moradores.

A medida, reconhece o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, é controversa. Por um lado, pode suscitar críticas dos empresários do ramo; por outro, pode gerar a insatisfação dos moradores das zonas de maior animação nocturna, que pretendem ter ali menos bares e discotecas. No Bairro Alto a câmara estabeleceu como área privilegiada de bebidas e diversão nocturna a área delimitada pelas ruas da Rosa, D. Pedro V e da Misericórdia. 

Segundo Manuel Salgado, os estabelecimentos que existam fora desta área circunscrita não serão encerrados, mas também não serão autorizados novos espaços.

"Todas estas actividades [similares de hotelaria e salões de jogos] passam a estar limitadas aos espaços já licenciados para o efeito. Qualquer modificação fica dependente da verificação cumulativa da ausência ou minimização de impactos na qualidade ambiental urbana(...) e de parecer da junta de freguesia" - referem as propostas de alteração aos planos de urbanização dos bairros históricos, que vão ser submetidas a discussão pública. Além de interditar novos estabelecimentos, o município quer condicionar o funcionamento dos que já existem à "inexistência de prejuízo para a qualidade ambiental urbana, nomeadamente circulação, ruído e segurança para os utentes e residentes". 

Para não desincentivar a "gastronomia local", a câmara propõe restrições mais mitigadas para os restaurantes. Mesmo assim, a abertura de novas casas passará a só ser permitida nos bairros em causa "nos troços de arruamentos, entre duas transversais, onde já existam utilizações autorizadas para a mesma actividade". Manuel Salgado explica: "Numa rua onde já existam três ou quatro restaurantes podemos permitir a abertura de mais um. Se noutra rua não existe nenhum, não autorizaremos sequer o primeiro". 

Na Madragoa, ficam dentro do novo perímetro de animação nocturna o Largo de Santos, a Calçada Marquês de Abrantes, a Rua da Esperança e parte da Avenida D. Carlos I. Na Bica apenas foi seleccionada a rua do elevador. Já no Cais do Sodré, local cujos moradores têm instado a autarquia a actuar por causa dos excessos provocados pela animação nocturna, as ruas dos bares foram igualmente incluídas no mesmo tipo de zonamento. 

Mas se estas são medidas que podem ser consideradas insuficientes pelos residentes, a reunião de câmara de ontem ficou marcada pelas críticas, por parte da oposição, a outro aspecto destes mesmos planos: a forma como poderá vir a ser feita de agora em diante a reabilitação urbana nos bairros em causa. A possibilidade de alguns prédios poderem vir a crescer em altura ou a neles serem abertas caves, usadas para estacionamento mas também para outros fins, levou a vereadora do PSD Mafalda Magalhães de Barros a falar no perigo de descaracterização destes bairros históricos, nomeadamente das fachadas originais das casas. 

"Estes planos alargam a possibilidade de demolição dos imóveis", criticou, por seu turno, António Carlos Monteiro, vereador do CDS-PP. "Basta [o proprietário] alegar que eles são técnica e economicamente inviáveis para a câmara autorizar a demolição", exemplificou.

 

Via Público



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