A conclusão chegou diretamente do Reino Unido, onde foi feita uma análise a mais de 700 parques estacionamento e entrevistas a mais de 2 mil condutores. Ao que parece eles são mais rápidos a estacionar, mas elas são mais perfeccionistas e deixam o veículo mais direitinho. Eles andam demasiado depressa e não conseguem ver logo os lugares vagos, enquanto elas andam mais devagar (eu diria mesmo a passo de caracol...) e não perdem um.
Feitas as contas à rapidez com que encontram lugar, a forma como se dirigem a ele, o tempo perdido em manobras e quantas vezes se reposicionam, as mulheres ganharam a eterna batalha do estacionamento. E eu, que faço parte delas, estou aqui para dizer-vos que acho isto uma bela treta.
Contra mim falo, até porque me gabo regularmente de ter verdadeira facilidade em estacionar. E não é mentira. Quando tirei a carta trabalhava numa área que me obrigava a regulares idas à baixa lisboeta. Sem dinheiro para pagar parques, não tinha remédio senão enfiar o carro em todos os buraquinhos possíveis. Acreditem: "a necessidade ensina a rezar". E foram muitas as frases verdadeiramente pouco católicas que disse frente àquele volante sem direção assistida.
Podia ter aqui o discurso "femininamente correto" de que não é uma questão de género, mas a verdade é que a larga maioria das mulheres não tem jeito para a coisa. Num estudo feito em parque de estacionamento, onde os lugares são largos e habitualmente basta pôr o carro de frente, não me admira que o resultado tenha sido melhor. Se fosse para estacionar de lado, a história mudava de figura. Já de marcha atrás ou para o lado esquerdo prefiro nem falar.
São muitas as amigas que, volta não volta, me pedem para estacionar. "Ah e tal, com os saltos altos não consigo...". Depois há as que preferem estacionar a quilómetros de distância do destino porque "muito apertadinho não dá". Se optam por tentar, dão verdadeiras batidelas à frente e atrás até conseguir. Ainda há também as que me pedem ajuda para meter gasolina porque geralmente é o pai ou o marido que o faz (sim, isto é real!). São mulheres emancipadas, com belíssimas carreiras e tudo mais... mas com muita pouca apetência para isto. E quando puxo conversa sobre o tema (e acreditem que já o fiz, inclusive fora de Portugal), o cenário repete-se. Há exceções, como em tudo. E conheço mulheres que podiam dar aulas de estacionamento a muito salto raso. Mas vá, deixemo-nos de coisas: na maioria, eles são melhores que nós a estacionar.
Na realidade, eles gozam, gozam, mas adoram que assim seja. É como colarem-se à nossa traseira e ultrapassarem-nos na auto-estrada porque irmos a 120 à hora é uma maçada (aquilo é uma pista de corrida e nós é que não percebemos... influencia de demasiadas horas na Playstation, diria eu...). Dá-lhes uma sensação de conforto emocional. O gozo irracional de mostrarem a sua superioridade masculina nestas coisas tão... pequenas. De eterno complexo de inferioridade.
Nasceu sem braços mas fez dos pés os seus maiores aliados, numa longa caminhada no universo da massagem profissional. Aos 49 anos, Sue Kent conseguiu alcançar o seu sonho: ser massagista olímpica oficial. Com os pés.
Esta é daquelas histórias que merecem ser contadas. Não porque Sue seja uma "aleijadinha", como tanta gente lhe chamou ao longo da sua infância, mas sim porque é uma vencedora mesmo sem levar medalhas para casa. Um daqueles exemplos em que toda a gente que gosta muito do queixoso "vai-se andando" devia pôr os olhos.
Sue tem dois filhos e é uma profissional de sucesso. Embora nos Jogos Paralímpicos nos tenhamos habituado a ver deficientes no estrelato, desta vez chega-nos um exemplo de como a imaginação, aliada à perseverança, podem mudar a vida de alguém que nasceu, à partida, condenado a ser diferente.
Lembro-me de há uns anos ter entrevistado alguns dos nossos maiores campeões. Todos multimedalhados, todos deficientes. Não ganhavam ordenados do género Cristiano Ronaldo... Aliás, muitos deles pagavam para ser atletas de alta competição, com apoios mínimos do Governo do país cuja bandeira foi hasteada ano após ano graças ao seu esforço. O litro deram-no por satisfação pessoal.
Recordo a nadadora Leila Marques , que se desdobrava entre o curso de Medicina e as três horas de treino diárias... com um braço a menos. Trouxe-nos o bronze no Campeonato do Mundo. Recordo também a boa-disposição de Bento Amaral , que ficou tetraplégico aos 25 anos a fazer uma carreirinha no mar e voltou a "encontrar a liberdade" com a vela adaptada. Categoria em que se sagrou campeão mundial, ao mesmo tempo que dava aulas e era chefe de Câmara dos Provadores do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.
Teria sido mais fácil (ou não) ficar sentado no sofá a dizerem mal da vida que os presenteou de forma tão ingrata. Teria sido até legítimo que perdessem a vontade de tentar dar a volta. Mas não foi isso que fizeram. Tal como Sue, que não se resignou e contornou os seus obstáculos.
Não quero com este texto ser melodramática ou puxar ao sentimento com histórias que realmente podiam fazer parte de um filme, mas que são da vida real. Que podia ser a minha ou a de quem quer que esteja a ler estas palavras agora. Os tempos são cinzentos, é certo, mas paremos de nos queixar por tudo e por nada. Condenarmo-nos ao mundo da inércia parece-me um erro. Com uma fatura demasiado cara para pagar no futuro.
Tudo começou com o rabo de Scarlett Johansson. Agora, continua com muitos internautas anónimos que decidem mostrar a sua intimidade traseira pela Internet. Pelo caminho, participam também o Presidente Obama, a famosa boneca Barbie e até mesmo o peludo Chewbacca.
Após uma badalada batalha em tribunal pelo bem da sua privacidade revelada em imagens no tão pouco privado mundo da Internet, a atriz tornou-se fonte de inspiração para centenas de pessoas de todo mundo que dão agora largas à imaginação no blogue "Scarlett Johanssoning ". E engane-se quem achar que são só as senhoras que aderiram: tanto saltos altos como rasos perderam a vergonha (se é que a tinham) e exibem o rabiosque alegremente para quem quiser ver.
Tem a sua piada, é verdade. Tenho amigos que o fizeram e eu fui das que se riu a bom rir com o resultado. Mas numa altura em que tanto se debatem os limites da privacidade no mundo virtual, não deixa de ser irónico que tanta gente decida mostrar o corpo - e em grande parte das fotos a sua identidade explícita - através de imagens tudo menos discretas. Por iniciativa própria.
Será que isto de "scarllatear" o traseiro deve ser encarado apenas como uma brincadeira inofensiva... ou põe mesmo em causa o bom-senso dos limites do que devia ser privado? Quem publicou as fotos teve livre arbítrio para o fazer, é certo. Mas pergunto-me se pararam antes para pensar que o seu traseiro e a sua cara estariam espalhados pelas buscas do Google, em blogues, redes sociais, sites de jornais e por aí fora. À mão de semear de patrões, colegas de trabalho, vizinhos do lado, filhos, pais e toda a gente curiosa que faça algo tão simples como abrir um link reenviado de amigos, para amigos, com um site muito giro onde aparece a brincadeira.
Eu cá não gostava que um dia um editor cá da casa me dissesse: "Ontem andava a passear num blogue que me enviaram e vi-te de rabo à mostra". Mas isto sou eu. Podem-me chamar paranoica à vontade, mas eu e o meu traseiro gostamos muito de privacidade.
Via Expresso
Está presa há cinco anos. Sob a bárbara tortura das chibatadas confessou o crime: adultério e cumplicidade no assassinato do marido. Qualquer pessoa teria confessado fosse o que fosse desta forma. Mas Sakineh Ashtiani acabou, mesmo assim, por ser condenada pelas autoridades iranianas. Pena de morte, por apedrejamento. Quando se pensava que tal veredito estava suspenso, graças à pressão internacional, o caso volta à estaca zero e Sakineh pode morrer a qualquer momento.
O caso arrasta-se desde 2006. Cinco anos de vida de uma mulher, que todos os dias acorda sem saber se vai ser o último. Se vai ou não ser enrolada num lençol branco, enterrada na areia até aos ombros e golpeada com pedras até fechar os olhos para sempre, como manda a tradição desta prática desumana. Por si só, esta tortura da dúvida é uma morte lenta demasiado dolorosa.
A história de Sakineh, de 43 anos, correu mundo pela mão dos ativistas dos direitos humanos. Pelo meio, o seu filho, o seu advogado e dois jornalista alemães foram detidos. Mas o caso nunca foi totalmente silenciado. Em julho deste ano, mais 300 mil pessoas de todo o mundo - entre elas inúmeras figuras públicas - assinaram uma petição que serviu, em boa parte, de volte face à decisão da sharia. Os líderes iranianos quiseram abafar mais um escândalo e afastar as atenções, sob risco de consequências políticas. Por outro lado, não querem demonstrar que estão a ceder às pressões do Ocidente. Pelo meio fica em jogo a vida de uma mulher. De forma atroz. Absurdamente injusta.
Relembro que dados da Amnistia Internacional revelam que, apenas no ano passado, foram executadas 388 pessoas no Irão, quase todas enforcadas. Em espera para morrer por lapidação há dez homens e quatro mulheres. Agora, novamente Sakineh.
Em pleno dia de Natal a confusão voltou a ser lançada: a iraniana recebeu nova ordem de execução na prisão. Em dúvida fica apenas se será por apedrejamento ou enforcamento. De imediato sugiram novos apelos da Amnistia Internacional e dos governos alemão, francês e espanhol.
Agora, chegou também a vez de todos nós darmos o nosso pequeno contributo. Dar voz a Sakineh é dar voz a todas as mulheres que sofrem tais barbáries. Assinar a petição não custa nada e pode ajudar a salvar uma vida. Demora apenas 10 segundos e pode fazê-lo aqui . Eu já o fiz e você?
Olho para a fotografia de uma mulher grávida, com a profunda cicatriz de uma mastectomia e não consigo deixar de me arrepiar e pensar que esta frase faz todo o sentido: "O cancro da mama não é uma fitinha cor de rosa". Arrepio-me não só pela crueza da imagem mas também pela serenidade que o olhar dela transmite. A serenidade dos que sobreviveram à sombra da morte.
Leio as mensagens sensibilizadas, deixadas por outras mulheres e multiplicam-se os casos não só de outras sobreviventes, como também de doentes prestes a serem operadas, que perceberam que não estavam sozinhas quando viram estas imagens. " Este livro ajudou-me a ter orgulho nas minhas cicatrizes", escreve uma, seguida de outra: " A beleza está na autenticidade de todas estas mulheres". Concordo.
E ao ler isto ecoa na minha cabeça uma frase que ouvi durante uma entrevista a uma sobrevivente de cancro da mama, que nunca mais esqueci: "Fiz o que todas as mastectomizadas têm de fazer: as pazes com o meu espelho". E sabendo que a velha frase do "isto só acontece aos outros" cada vez faz menos sentido, só consigo fechar os olhos enquanto repito um pensamento comum a tantos saltos altos: espero nunca ter de passar por isto.
O "Scar Project" foi já publicado em livro (que pode comprar aqui ) e deu origem também a um documentário. Tudo, "dedicado às mais de 10 mil mulheres com menos de 40 anos que, só neste ano, serão diagnosticadas". Os lucros revertem a favor de programas de investigação para o tratamento do cancro da mama, doença que continua a ser a principal causa de morte das mulheres entre os 35 e os 55 anos. Posto isto, lembrei-me de deixar aqui a sugestão: por que não pôr este livro num dos sapatinhos?
Via Expresso
Quem nunca passou os olhos pelo horóscopo que atire a primeira pedra! E como até agora não apanhei com nenhum pedregulho em cima, acho que chegou a altura de revelar aqui na Vida de Saltos Altos o lado mais poético do zodíaco... pela mão, nada mais, nada menos, de dois homens.
Mas antes disso deixo claro que não me dou ao trabalho de ler as previsões diárias da Maya - sem qualquer desprimor pela senhora - nas revistas ou nos programas da manhã. Nem muito menos acho que a astrologia é um veredicto que torna todos os peixes nuns "preguiçosos lamechas" ou os leões nuns "vaidosos egocêntricos". As pessoas, antes de serem signos, são pessoas. Mas que tem piada observar as características comuns em pessoas totalmente diferentes, lá isso tem. (Mais piada ainda tem observar os homens que usam a astrologia como método de engate, em tentativas baratas de impressionar o mundo dos saltos altos... é cada vez mais comum, mas fica para outro post).
Chamem-me o que quiseram (o meu lado de carangueja ficaria um bocadinho magoado com ofensas, mas o ascendente em sagitário responder-vos-ia de língua afiada... pelo que é melhor não o fazerem!) mas gosto, e muito, de astrologia. É como brincar aos legos: as peças encaixam de múltiplas formas e cada construção - neste caso de personalidades - é uma construção. Já fiz a carta astral e fiquei encantada. Perguntam vocês: em que é isso contribuiu para a minha felicidade? Bom, numa análise feita pela rama, em muito pouco. Já a minha curiosidade (como costumo dizer: "curiosity killed the Cosme") ficou saciada. E quem não gosta de satisfazer a sua (curiosidade, entenda-se!)?
Sei que muita gente estará neste momento a fazer o típico comentariozinho "Txxii, que pimbalhada!". Mas e se eu vos dissesse que a astrologia em vez de pimba pode ser uma coisa bem poética? Que as carneirinhas, capricornianas, sagitarianas e por aí fora serviram de inspiração para uma série de doze poemas de um dos músicos mais respeitados do outro lado do oceano? E que inspiraram um respeitado fotógrafo inglês?
O resultado foi um artigo, no mínimo, lindíssimo publicado na revista "Vogue". As caraterísticas das mulheres dos doze signos do zodíaco foram retratadas pelos fotógrafo Tim Gutt e descritas com a audácia e delicadeza do eterno Vinicius de Moraes... Dado que o poeta se casou nove vezes, calculo que ele sabia (e bem!) o que estava a escrever nestes poemas.
Mesmo que não admitam curiosidade, partilho convosco as imagens... mas dizem-me os astros que muitos do leitores deste blogue não vão resistir a dar uma espreitadela. Estarão certos?
Quão longe você iria para conseguir ter um iPhone à borla? Sei de casos de quem abdicou das férias. De quem deixou de jantar fora com os amigos para o conseguir comprar. De quem arranjou um trabalho extra para amealhar, em prol do dito telefone inteligente. Até aqui, tudo bem. Opções. Mas vender a virgindade em troca de um telemóvel, é coisa que, a mim, me tira do sério.
Depois do caso do rapaz que trocou um rim por um iPad 2, chega agora a história da adolescente de 14 anos que decidiu oferecer a virgindade numa rede social em troca de um iPhone4. Consta na imprensa chinesa que o pai da rapariga se negou a oferecer-lhe o smartphone e que a jovem, por uma "questão de fama entre as amigas", decidiu obtê-lo custasse o que custasse. Eu diria que o preço a pagar foi longe demais.
Não considero que perder a virgindade seja um drama grego, em que o ideal é guardar o bem precioso para o príncipe encantado (até porque isso não existe). Sejamos realistas: as coisas mudaram. Mas que seja um ato consciente - mesmo que se tenha apenas 14, 15 ou 16 anos - parece-me essencial. Se as meninas desta idade não o conseguem entender, então que os que as educam tenham a sensatez de, uma vez por outras, falar sobre isto sem papas na língua. Iniciar a vida sexual é (!) um passo importante para qualquer mulher. E a forma como o faz vai, na grande maioria dos casos, determinar a vivência da sua sexualidade ao longo da vida. "Para o bem e para o mal", já ouvi eu tantas vezes da boca de especialistas.
Confesso que me assusta a crescente falta de valores e bom-senso passados a uma geração para a qual ter um iPhone ou uma camisola GAP dá um estatuto especial. Vive-se cada vez mais para a futilidade. Para o que os outros têm. Para a marca dos ténis. Para o telemóvel xpto que se traz no bolso. Para as divisões sociais criadas desde cedo. Demasiado cedo. Culpa dos miúdos? Era mais fácil dizer que sim. Mas e que tal apontarmos o dedo a quem lhes promove todos esses supostos "estatutos" com um simples clique do botão verde no cartão de crédito?
Ainda não sou mãe. E sei que também vou errar quando o for... infelizmente não há manuais de instrução no que diz respeito à educação. Mas que não haja preguiça quando o que está em jogo são os valores base. Como o respeito por nós mesmos.
Decotes, mini-saias, collants de rede, calças bem justas ao rabo, saltos altos (como não podia deixar de ser), vestidos provocantes: no próximo sábado, as mulheres portuguesas vão dar largas à imaginação (e ao guarda-roupa) para saírem à rua na primeira "Slut Walk" (qualquer coisa como "Marcha das Galdérias" ) em Portugal.
Começaram em abril e confesso que tenho vindo a assistir com alguma curiosidade às proporções que estas "SlutWalks " contra o machismo têm ganho. A ideia partiu de um grupo de mulheres canadianas, após as declarações de um polícia que dizia: "as mulheres devem evitar vestir-se de forma provocante se não quiserem ser violadas". A indignação do mundo dos saltos altos espalhou-se como um rastilho e a "Marcha das Galdérias" chegou a mais de 70 cidades, desde Sidney, a Londres e Brasília. Será um sinal de que comentários tão idiotas como o deste senhor polícia são, afinal, comuns nos mais diversos países? Parece que sim.
Ontem li o manifesto da marcha portuguesa - que acontece em Lisboa, pelas 17h30, desde o Largo Camões ao Rossio - e fez-me sentido: "Recusamos totalmente a culpabilização das mulheres face a situações de violência sexual. Recusamos a cumplicidade com a agressão e com quem agride, seja pelo silêncio ou pela benevolência". Já aqui escrevi várias vezes esta frase e hoje volto a dizê-lo: nada justifica uma violação.E se é preciso irmos para a rua, descascadas, em protesto para conseguirem perceber isto, então que seja.
Tenho amigas que adoram usar micro-saias. Outras gostam de pôr o ombro de fora, em camisolas justas, sensuais. Eu própria sou adepta dos decotes e das pernas ao léu em vestidos vaporosos. Mas isso faz de mim "uma galdéria que está mesmo a pedi-las"? Não me parece. E faço minhas as seguintes palavras, do manifesto português:
"Se ponho um decote... Não é Não!
Se pus aquelas calças de que tanto gostas... Não é Não!
Se uso burqa... Não é Não!
Se durmo com quem me apetece... Não é Não!
Se sou virgem... Não é Não!
Se passo naquela rua... Não é Não!
Se vamos para os copos... Não é Não!
Se me sinto vulnerável... Não é Não!
Se sou deficiente... Não é Não!
Se saio com xs maiores galdérixs...Não é Não!
Se ontem dormi contigo... Não é Não!
Se sou trabalhadora sexual... Não é Não!
Se és meu chefe... Não é Não!
Se somos casadxs, companheirxs, namoradxs... Não é Não!
Se sou tua paciente... Não é Não!
Se sou tua parente... Não é Não!
Se sou imigrante ilegal... Não é Não!
Se tenho relações poliamorosas... Não é Não!
Se sou empregada de hotel... Não é Não!
Se tens dúvidas se aquilo foi um sim, então... Não é Não!
Se és padre, imã, rabi ou pujari... Não é Não!
Se beijo outra mulher no meio da rua... Não é Não!
Se sou brasileira, cabo-verdiana, angolana ou de outro país que sofreu colonização... Não é Não!
Se tenho mamas e pila... Não é Não!
Se disse sim e já não me apetece... Não é Não!
Se sou empregada doméstica... Não é Não!
Se adoro ver pornografia... Não é Não!
Se ando à boleia... Não é Não!
Se estamos numa festa swing, numa sex party ou numa cena BDSM... Não é Não!
Se já abrimos o preservativo... Não é Não!
NÃO é sempre NÃO. Quando é SIM, não há ambiguidades ou dúvidas porque sabemos o que queremos e sabemos ser claras".
Depois disto, a mim já não me resta dizer mais nada, a não ser: alguém ficou com dúvidas?
Veja aqui algumas imagens de "SlutWalks" noutros países:
Enquanto oiço o meu mp3 e dou o melhor na bicicleta, olho para ele a degladiar-se com as rodelas de pesos que eu nem sequer consigo quantificar. Enquanto eleva os braços olha para o espelho admirando as montanhas de músculos. Há mesmo um momento em que sorri, satisfeito com o resultado de horas e horas naquilo.
Quando termina pavoneia-se pelo ginásio fora, olhando de alto a baixo para os muitos outros que praticam o mesmo culto do corpo. Para realçar o trabalho feito, usam invariavelmente t-shirts coladas ao peito e calções de licra dignos de uma bailarina clássica. Sem sequer pensar, deixo escapar o desabafo à amiga na bicicleta ao lado: "Credo, que homens tão feios". E ela concorda com um revirar de olhos. "Nem quero imaginar a quantidade de porcarias que eles tomam para ficarem assim". E eu concordo também.
Bom, antes de mais devo dizer que a velha máxima "gostos não se discutem" faz muito sentido. Embora todos sejamos inundados por supostos cânones de beleza, vindos diretamente de Hollywood e das revistas cor-de-rosa, a verdade é que em matéria de atrações não há lei. Contudo, fiquei a pensar nos homens musculados lá do ginásio e fui perguntando ao mundo dos saltos altos o que achavam. A resposta foi unânime: "Gorilas? Não obrigada".
Se eu dissesse que não gosto de ver o Brad Pitt descascado, com o "V" bem acentuado e os abdominais delineados... vá, estava a mentir. Mas quando penso nos músculos do senhor Schwarzenegger no filme "Conan", digamos que me encolho no sofá e não vejo nada de sexy naquele corpo de pedra.
A verdade é que a definição de sensualidade está rodeada de muitos mitos. Como, por exemplo, o eterno conceito de que os homens gostam é das mulheres iguais às modelos com osso das ancas bem marcados. Depois, volta não volta, lá lhes sai a muitos deles a derradeira frase: "São muito giras mas eu cá prefiro é ter onde agarrar".
Quanto ao mundo dos saltos altos, quem disse que uns quantos pêlos no peito e uma pequena barriguinha são antónimo da nossa visão de sensualidade, estava certamente a mentir. Eu cá não os trocava por nada deste mundo. Principalmente se forem os do corpo da pessoa por quem o nosso coração bate mais rápido.
A minha já vai bem mais longa, mas os meus quase dez anos de precariedade levaram-me igualmente a estrear nestas andanças das manifestações sem ser em trabalho. Tive o prazer de entrevistar os organizadores do "Protesto da Geração à Rasca " há um mês atrás, numa altura em que as incertezas eram mais do que as certezas. Mas não era preciso ser uma iluminada para perceber que aqueles jovens "Deolindos" - como tão depreciativamente um grande comentador da praça os apelidou - iam afinal ser as caras de um momento histórico em Portugal.
Um dia antes do protesto ouvi outro cronista dizer: "Os putos devem achar que a vida é fácil!". Pois é, meus senhores, os putos infelizmente sabem que a vida não é fácil. E foi por isso que, com sangue na guelra, levaram à rua não só uma geração mas sim todo um país à rasca. A verdade é que a precariedade toca a (quase) todos e só mesmo quem vive dentro de uma bolha é que não conhece alguém que esteja ou desempregado, ou a recibos verdes, ou a contratos temporários ou com ordenados que são tudo menos dignos. Por todos eles, que um dia poderemos ser nós, sair à rua fez todo o sentido.
Do alto da genuinidade dos seus dez anos, Francisco deu voz ao pensamento de milhares de pessoas: "Espero que o Sócrates veja na televisão esta quantidade de gente e o que estão a pedir!". Todos sabíamos que nada iria mudar imediatamente no dia a seguir. Mas quando todo um país sai à rua, este gigante reflexo de descontentamento deve, no mínimo, ser analisado.
Cansado, como tantos de nós ao fim de anos de vida precária, o pequeno manifestante pediu para se sentar e comer um pacote de castanhas assadas para enganar um estômago à rasca. O seu olhar percorria atentamente o mar de gente e deixou soltar um curto suspiro: "Espero que não sejam só berros que não dão em nada. Gostava de saber, se quando eu for adulto, valeu a pena cá ter vindo". Como eu gostava de te poder responder a isso, Francisco.
A Bélgica está desde junho do ano passado a tentar formar um governo de coligação, mas os seus sete partidos mais importantes não chegam a acordo. Ao fim de 239 dias, com o país prestes tornar-se recordista na duração do "desgoverno" , a solução foi avançada por uma senadora: "Vamos fazer uma greve de sexo!".
Ora bem, isto podia ser o início de uma comédia de domingo à tarde, mas a triste realidade é que a proposta de resolução da crise política de um país dito civilizado passa mesmo por uma igual crise... mas debaixo dos lençóis dos políticos envolvidos.
Na segunda-feira, senadora social-democrata belga, Marlene Temmerman - ginecologista de profissão -, apelou à chantagem sexual por parte das esposas dos homens envolvidos nas negociações. "Se todas chegarmos a um acordo no que diz respeito à abstinência sexual, estou convencida de que conseguiremos que as negociações sejam mais rápidas". Se por si só este argumento já é, no mínimo, o fim da picada, a frase com deu por findo o seu discurso não o torna melhor: "Vai dar resultado. Já sabemos o que os homens pensam destas coisas...".
Os homens têm cérebro... e nós também
Não será esta ideia assim a modos que demasiado redutora para eles... mas também para nós? Vistas as coisas: serão os homens, sejam eles políticos ou varredores de rua (sem qualquer desprimor por esta profissão, entenda-se!), apenas um pénis com pernas? E nós um par de mamas, cujo poder de argumentação e diálogo é nulo? Ora bem, se nos queixamos tantas vezes que eles pensam mais com a cabeça de baixo do que com a de cima, não vamos ser nós a incentivar este comportamento, diria eu. Usar o sexo como uma arma de pressão é um péssimo exemplo a todos os níveis. Lamento, senadora Temmerman, mas não honra o mundo dos saltos altos com tal ideia de génio...
Se a moda pega, qualquer dia temos a Joana Amaral Dias ou a Manuela Ferreira Leite, de dedo em riste, a ameaçar José Sócrates: "Senhor engenheiro, ou a crise económica acaba rapidamente ou o mulherio português aniquila a natalidade do país com uma greve geral de sexo". Haja dó.