De certeza que já não se recordam deste vídeo. Algumas jovens que se intitulavam "amigas de Paulo Portas" acharam que a melhor maneira de apoiar o candidato seria divulgar chavões do CDS aparecendo num vídeo a "dançarem" em biquíni, revelando assim não só os atributos físicos como uma clara inaptidão para a arte da dança. Isto porque já tive oportunidade de ver leões-marinhos e algumas focas dançarem com mais ritmo ao som dos Queen. Neste pequeno vídeo só faltou aparecer um tratador e começar a mandar-lhes sardinhas para a boca para tornar o espectáculo num show habitual do Zoomarine mas com seios a abanar à mistura e assim.
Diziam as senhoritas: "Achamos que o Paulo Portas é um borracho e por isso decidimos fazer um vídeo para ajudar a divulgar algumas das ideias do CDS. Juntem-se a nós para fazermos um Portugal melhor." Mas que raio de Portugal queriam estas meninas fazer? Uma espécie de quintal da mansão do Hugh Hefner à beira mar plantado?
Posso estar enganado, mas não me parece que o candidato Portas aprecie este tipo de divulgação de conteúdos e mensagens políticas por parte do partido de que é Presidente, muito menos da forma que são feitas. Podiam ter tido pelo menos o cuidado de vestir as meninas com mais roupinha e já agora (porque não? estou certo que Paulo Portas não é homofóbico) pôr também alguns rapagões vestidos de marinheiro a dançarem pendurados nos cabos do Tridente ou agarrados ao periscópio do Arpão. Ou uma dança conjunta, quem sabe um musical sensual a bordo de um porta-aviões. Isso sim seria bonito. Não temos porta-aviões? Não faz mal encomendam-se já dois no dia 6 de Junho.
As vitórias e as derrotas nos debates fazem-se, grande parte das vezes, com truques. E sobretudo truques visuais. No debate entre Portas e Sócrates isso foi evidente. Sócrates apresentou uma pasta vazia para mostrar o programa do CDS, Portas, que foi um dos pioneiros destes números em televisão, mostrou um gráfico com o aumento da dívida pública portuguesa em comparação com a dos restantes países europeus.
Cabe aos comentadores e aos jornalistas fazer mais do que avaliar a performance de cada um. Devem analisar o conteúdo para lá do foguetório. E mostrar o que o foguetório esconde. Um exemplo: no colorido gráfico de Paulo Portas, em que se analisava a evolução de 2005 a 2010, faltavam vários países europeus. Dirão que não podiam lá estar todos. Mas entre os que faltavam estavam, nem mais nem menos, a Grécia e a Irlanda. Só aqueles que, tal como Portugal, ficaram em pior situação nos últimos três anos, tendo sido por isso obrigados, como nós, a aceitar uma intervenção externa. E faltavam ainda, segundo o gráfico da Eurostat que ele copiou e alterou, o Reino Unido e a Letónia. Ou seja, Portas apagou da fotografia todos os que, tendo um aumento da dívida superior a Portugal, lhe estragavam o boneco. Este truque, que torna aquele gráfico imprestável para qualquer discussão séria sobre a situação do País e da Europa, foi elogiado por quase todos os comentadores.
Não é um exclusivo de Paulo Portas, apesar de não ser a primeira vez que manipula gráficos em debates. O problema é outro: não haver quem faça o escrutínio dos factos apresentados.
Portas pode ter sido habilidoso ao escolher tão bem os países que estavam naquele gráfico. Mas a sua habilidade não faz dele um bom político, no que de mais relevante tem a função. Nem é útil para os cidadãos formarem uma opinião sobre as razões do estado em que estamos e as melhores soluções para sairmos deste buraco.
Imagens roubada daqui.
Daniel Olliveira
Via Arrastão