O anúncio publicitário em causa indica que há uma hipótese em 200 de as crianças virem a sofrer de doenças como a leucemia, linfoma ou tumores sólidos, “cujo tratamento pode encontrar-se nas suas células estaminais”. No fim do spot televisivo ouve-se uma criança sentada no que parece ser uma marquesa perguntar: ‘Mãe, pai, guardaram as minhas células?”
À semelhança de vários médicos, que se indignaram com o teor do anúncio, a direcção do colégio da especialidade de Imunohemoterapia da Ordem dos Médicos (OM) criticou também esta campanha com veemência, em carta enviada ao bastonário José Manuel Silva, alegando que contém “falsidades científicas”. Os especialistas pedem a “imediata intervenção” do bastonário e repudiam “a exploração da ignorância e a utilização abusiva e distorcida de dados científicos quanto a doenças onde se aplicam as células estaminais” .“No caso de doença na família tratável com sangue de um dador relacionado, o banco público procede à criopreservação de dádivas dirigidas, pelo que o uso familiar está garantido”, lembram, sublinhando que “não há assim qualquer motivo para recomendar medicamente a criopreservação em banco privado”. Alertam, a propósito, para a a necessidade de dotar o banco público de células estaminais (Lusocord) “dos meios necessários ao seu desenvolvimento e ao seu cabal funcionamento, de forma a rapidamente poder libertar unidades para os doentes que dele necessitam” [o banco público não recebeu ainda o financiamento que estava previsto para este ano].
A direcção do colégio de especialistas da OM chama ainda a atenção “para as repercurssões negativas, a nível internacional, da passividade das autoridades nacionais face ao historial de publicidade enganosa, quer na comunicação social, quer através dos comerciais que contactam com as grávidas” nos hospitais e centros de saúde.
Para responder à proposta de João Semedo (que, além da suspensão do anúncio, sugeriu a abertura de um processo de averiguações), a Crioestaminal aproveita para destacar, na nota informativa, “alguns factos científicos”, nomeadamente o de que “todos os anos 85 mil cordões umbilicais, cheios de células estaminais, não são aproveitados e actualmente “são mais de 80 as doenças tratadas” com sangue do cordão umbilical –e remete, a propósito, para o site do banco público de Nova Iorque. O PÚBLICO pediu uma reacção ao presidente do Instituto do Sangue, mas não obteve resposta.
Noticia do Público