Sábado, 07.01.12

Bióloga portuguesa integrou equipa de investigação que descobriu um mundo "perdido" de novas espécies de fauna a 2000 metros de profundidade.


Via Expresso

 



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Quarta-feira, 28.09.11

A história do polvo passa pela baleia: Polvo dos Açores

 

O polvo assado não é o prato mais célebre das ilhas dos Açores, mas ficámos a saber que tem história: começou a ser apanhado, porque andava a rondar os mariscos que se alimentavam dos desperdícios das baleias. Num arquipélago de vários ciclos económicos, há também um ciclo entre as vidas do polvo e da baleia.

O polvo chegou à mesa majestoso, como um rei-sol com os grossos raios dispostos em volta, e as fiéis batatas a rodeá-lo em silenciosa admiração. Mas, por muito digno que fosse candidato dos Açores ao concurso das maravilhas da gastronomia portuguesa, numa lista de 21 finalistas da qual sairão em Setembro os sete vencedores, vinha sem história. Como é que este prato relativamente desconhecido chegou à final era algo que estávamos curiosos por perceber.  

A história do polvo, essa, haveria de entrar pela porta do restaurante Mariserra, na localidade de São Roque, ilha de São Miguel, exibindo um também majestoso bigode branco. Expliquemos: o nosso anfitrião neste jantar é António Cavaco, confrade-mor da Confraria dos Gastrónomos dos Açores, nascida em 2002, e responsável pela candidatura de várias especialidades açorianas, entre as quais o polvo, ao concurso. E é este homem, de bigode de pontas retorcidas, que nos vai contar toda a história do polvo.

Mas antes dessa viagem que nos levará aos Açores da pesca da baleia e aos ciclos económicos das ilhas, da pimenta malagueta à laranja, passando pelo vinho, é necessário um esclarecimento: o polvo não era a grande aposta da confraria. E o melhor é contar essa história já para nos podermos depois concentrar no polvo, que, na realidade, não tem culpa nenhuma.

"Das mais de 20 candidaturas apresentadas pelos Açores, sete passaram para a fase de pré-selecção", conta António Cavaco. Lá estavam o cozido das Furnas, a carne de alcatra, a sopa do Espírito Santo, o ananás, o queijo de São Jorge. Mas o júri de personalidades que escolheu as 21 finalistas acabou por eleger o polvo. "Chocou-me que não tivessem passado o cavaco [marisco da família da lagosta, que nos Açores chega a atingir os três quilos] e as cracas, que não existem em mais lado nenhum e que, juntamente com a carne, eram a nossa grande aposta. O cozido das Furnas, por exemplo, tem a particularidade da confecção [nas caldeiras naturais da lagoa das Furnas] que o torna único", confessa o confrade.

Bom, mas foi o polvo o eleito, a confraria está agora 100 por cento ao lado do polvo e Cavaco vai explicar porque é que este prato tem tudo a ver com os Açores. "Somos um país de polvo. Encontramos polvo de todas as formas, em arroz, filetes, braseado. Mas ainda não descobri no continente um prato de polvo no forno. E não é em todas as ilhas dos Açores que se come polvo no forno, a versão do polvo guisado é muito mais comum", diz.

Com meia lagosta comida...

No fundo tem tudo a ver com... a baleia. "Os Açores foram vivendo por ciclos económicos, o da baleia foi um dos últimos e constituía praticamente toda a economia das ilhas." Conta-se que a primeira referência à pesca da baleia nos Açores é do século XVI, quando os pescadores terão encontrado uma morta ao largo da Ilha de Santa Maria, mas foi só a partir da segunda metade do século XVIII que se começou a capturar baleias de forma mais sistemática.

"Exportava-se a carne, o óleo, e havia toda uma actividade piscatória junto às zonas ribeirinhas. A baleia era esquartejada no cais e os ossos, o sangue, as vísceras, ia tudo para o mar e isso levava à formação de colónias de vida marítima nas zonas junto às fábricas." E um dos animais que andava a rondar por ali era o polvo, que se alimenta de outros moluscos e de marisco, o que explica que seja mais ou menos gostoso dependendo das zonas onde vive.

Era uma pesca fácil. "Chamavam-lhe a pesca das necessidades familiares, não requeria grandes artefactos." Podia ser tão simples como isto (António Cavaco garante que fez ele próprio a experiência): "Arranja-se um cordel, um anzol e um pano branco. Na maré baixa, quando os polvos estão escondidos no meio das rochas, atira-se tudo e o polvo fica agarrado ao pano. E às vezes até vem um cavaco ou uma lagosta agarrado ao polvo." Noutras alturas os polvos apareciam nas gaiolas usadas para apanhar marisco "o polvo entrava e já vinha com meia lagosta comida". O que não resulta são os potes de barro, porque o mar dos Açores lança-os contra as rochas e quebra-os.

Mas a pesca da baleia acabou (foi proibida a partir de 1987) e a vida dos polvos mudou. Já o tínhamos percebido quando, nessa manhã, passámos pelo mercado de Ponta Delgada. Havia um único polvo nas bancadas de pedra dos peixeiros, que, não compreendendo muito bem o nosso interesse e insistência em fotografar o animal, lá foram explicando que era sobretudo aos fins-de-semana que se vendiam polvos.

Os ciclos económicos

Os Açores já tinham passado por vários ciclos económicos na sua história, desde a exportação para a Flandres de plantas tintureiras (a urzela e o pastel), nos séculos XV e XVI, aos cereais, a pimenta malagueta, o vinho (bebido pelos czares da Rússia, em cujas caves foram, depois da revolução bolchevique de 1917, descobertas garrafas de Verdelho do Pico).

Houve depois o ciclo da laranja, durante o qual, conta António Cavaco, se construíram nas ilhas "os grandes boulevards, e os grandes jardins como o Parque Terra Nostra", em São Miguel. Foram tempos de grande riqueza, mas não era trabalho fácil apanhados por tempestades, muitos navios que transportavam laranjas para exportar naufragaram, e os laranjais foram atingidos por duas pragas que ditaram o fim deste ciclo, ao qual se seguiria o ciclo do ananás, o do chá e por fim "a monocultura da vaca".

Culturalmente, a pesca da baleia marcou muito as ilhas. Mas, desde que foi proibida, a relação dos açorianos com as baleias transformou-se e hoje o arquipélago afirma-se como um local privilegiado para a observação de cetáceos. E o polvo, no meio disto tudo? Deixou de poder ser apanhado com um anzol escondido num pano branco. "Começou a ser erradicado da alimentação urbana, quando passou a ser pescado por mergulhadores de apneia e a tornar-se mais caro. Os mergulhadores apanham-nos à mão, assim como apanham as lapas e as cracas. Mas não é fácil, porque normalmente o polvo está camuflado e só o olho experiente do mergulhador permite vê-lo [escondido em buracos nas rochas]."

Recuperado agora como maravilha, o polvo pode estar prestes a ter uma nova vida. E o que tem, afinal, este prato de especial? "O polvo mantém-se inalterado ao nível da textura e da volumetria", explica (e temos que reconhecer que o exemplar que nos chegou à mesa não tem nada a ver com aqueles polvos raquíticos que encolheram para menos de metade dentro de uma panela).

E agora, graças a António Cavaco, é já um polvo com um passado que saboreamos. Um polvo que não foi a primeira escolha dos açorianos, mas que a confraria não deixará cair afinal a história das ilhas passa (também) por ele.

 

Receita

 

O polvo é cozinhado "sem uma gota de água", apenas com azeite, cebola e alho, "e a própria destilação do polvo no puxado de cebola". Junta-se depois pimenta da terra, massa de tomate, um pouco de açaflor (açafrão), um copo de vinho de cheiro, uma gota de cerveja para amaciar. Quando as batatas estiverem cozidas, o polvo está praticamente pronto. É então que entra no forno, para alourar.

 

Via Público



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