Terça-feira, 01.03.11

Eu lembro-me quando era puto e ouvia a TV chamar-me Geração Rasca…

Não sei se ficava ofendido ou orgulhoso, pelo menos a nossa geração tinha um nome, mesmo que fosse Rasca. Era o nosso estigma…

Hoje recebi um email interessante (algo raro), e, lembrei-me disso… acho que estou orgulhoso, porque fui e sou um Geração Rasca.

A SIC montou uma gigantesca campanha de promoção para a sua nova série/novela/monte de merda, que dá pelo nome de Rebelde Way.
Depois de anos a apanhar bonés, percebeu que a melhor maneira de combater a morangada da TVI era…imitar. É lógico. Era inevitável.
Depois de 20 minutos a ver a nova série (o que me provocou uma crise de cólicas da qual só um dia depois começo a recuperar) sinto-me preparado para uma análise.
Bora lá. A fórmula é a mesma nos dois canais. Aqui fica a receita:

1 – Pitas boas. Muitas, quanto mais descascadas melhor (as séries de verão são, naturalmente, as melhores, porque eles vão todos juntos para a praia).

2 – Gajos “estilosos”. A coisa divide-se em dois: há aqueles que têm quase 30 anos mas fazem de adolescentes, e depois há os que são mesmo adolescentes. Estes últimos são aqueles que se levam a sério enquanto “actores”.
O requisito essencial para qualquer gajo que entre nestas séries é ter um penteado ridículo.

3 – O Rebelde Way tem gajas do norte. Fazem de gajas daqui, mas aquele sotaque é fodido de perder. Fica ridículo, mas as gajas são boas.

4 – Nos Morangos, a palavra “pessoal” é dita 53 vezes por minuto, normalmente inserida nas frases “Eh pá, pessoal!”, no início de cada conversa, ou então “Bora lá, pessoal”, antes do início de qualquer actividade.

Agora vamos à bosta que a SIC acabou de parir, com pompa, circunstância, varejeiras e mau cheiro. Chama-se Rebelde Way. Cool, man! O slogan dos Morangos era “Geração Rebelde”, mas a inspiração deve ter vindo de outro lado, de certeza. O que me irrita na poia da SIC é que os gajos são todos betinhos (até os mânfios são todos giros e cool e com uma caracterização ridícula, como se fossem a um baile de máscaras vestidos de agarrados ou arrumadores de carros). Mas depois são bué rebeldes. São bué mauzões, man! A brincar com os seus iPhone, com as suas roupinhas fashion, grandes vidas, mas muita mauzões.
Se há algo que esta geração de morangada não pode ser, não tem direito a ser, é ser rebelde. Rebelde porquê, contra quê? Nunca houve em Portugal geração mais privilegiada do que a actual, à qual esses putos pertencem. Nunca qualquer puto teve tanta liberdade e tanta guita no bolso como esta malta. Nunca as pitas foram tão boas e tão disponíveis para foder com a turma inteira como agora. Nunca houve tamanha liberdade de mandar os pais à merda e exigir uma melhor mesada porque é altura dos saldos. Rebelde porquê? Em nome de quê?

É claro que isto são pormenores com os quais as novelas não se deparam, nem têm de o fazer. O objectivo é simples: para uma geração tão privilegiada como aquela que é retratada, há que criar uma rebeldia fictícia, porque não é cool ser dondoca aos 16 anos. Mas é o que todos eles são.

Há uns tempos vi, no Largo do Carmo, um bando de uns 15 putos e pitas, vestidos à “dread” com roupinha acabada de comprar na “Pepe Jeans”.
Um dos putos que ia à frente, não devia ter mais de 16 anos, vem a falar à idiota como se fosse dono da rua, saca duma lata de tinta e escrevinha qualquer coisa de merda na parede. Todos se riram, todos adoraram, e ele foi, durante cinco minutos, o maior do bairro. Não fiz nada, mas devia ter-lhe partido a boca toda.
Todas as últimas gerações antes desta (incluindo a minha, a Geração Rasca, que se transformou na Geração Crise – bem nos foderam com esta merda) tiveram de furar, de lutar, de fazer algo. Havia uma alienação mais ou menos real, que depois se podia traduzir nalguma forma de rebeldia. Não era o 25 de Abril como os nossos pais. A nossa revolução é a dos recibos verdes e da consolidação orçamental. Mas esta morangada sente-se, devido à merda que a televisão lhes serve e aos paizinhos idiotas que (não) a educaram, que é dona do mundo. Quando já és dono do mundo, vais revoltar-te contra quem? E por que raio haverias de o fazer?!
E assim vamos nós. Com novelas de putos “rebeldes”, feitas por “actores” cujo momento de glória é entrar numa boys band ou aparecer de cú ao léu na capa da FHM, ensinando a todos os outros putos que temos que ter cuidado com as drogas (mas todos os agarrados são limpinhos, assépticos, com os mesmos penteados ridículos), que a gravidez adolescente é má (mas todas as pitas querem foder à grande, porque são donas da sua própria vida e os pais não sabem nada, etc) e que, sobretudo, este mundo lhes deve alguma coisa.
Os tomates.A mim e aos meus, o mundo deve alguma coisa. Aos que foram atrás da merda do canudo para trabalhar num call center, aos que se matam a trabalhar e são forçados a ser adultos antes do tempo. Não a esta cambada de mentecaptos.
E depois estas séries vão retratando “problemas sociais da juventude”, afagando a consciência de quem “escreve” aquela merda, enquanto ao mesmo tempo incentivam esta visão egocêntrica, egoísta e vácua desta geração acabadinha de sair do forno.
Talvez eu esteja a ficar velho e a soar como o meu pai. Lamento se não é cool. Mas esta merda enoja-me.»
Ser rebelde pó caralhete.

Retirado de aqui



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Sábado, 19.02.11

A geração dos Deolinda vai sair à rua?

 

Há quem diga que foram os Deolinda a chamar a atenção para os problemas da "geração parva". Outros acreditam que as manifestações no Egipto são uma inspiração, ao mostrar que é possível derrubar um governo de forma quase espontânea. Seja o que for, começam a germinar online protestos mais ou menos apartidários contra o sistema e contra o estado de coisas a que chegou o país. A geração está à rasca?

"Não sei se está tão à rasca quanto se diz. ''As notícias da minha morte são muito exageradas'', a parvoíce desta geração também é muito exagerada. Mas tenhamos esperança, estes protestos mostram que o país não está completamente amorfo e há qualquer coisa a germinar. Qual o fruto e quando amadurecerá ainda não se sabe. E é bom que não se saiba para não o irem cortar pela raiz", explica o sociólogo Manuel Villaverde Cabral.

No Facebook, o grupo "1 milhão na Avenida da Liberdade pela demissão de toda a classe política" já tem quase 23 mil seguidores. "Sabemos que um milhão é impossível, trata-se de um número simbólico. Também sabemos que a demissão de toda a classe política levaria ao caos, mas esta é uma maneira de mostrarmos o nosso desagrado pela classe política actual", refere o porta-voz do grupo, José Couto Nogueira. 

Um protesto que não é bem visto aos olhos de todos. O deputado do PSD e comentador político Pacheco Pereira considera-o "um puro manifesto antidemocrático" e levanta algumas questões no seu blogue: "Demitem toda a classe política como? Como em 1926, com o 28 de Maio? Como se Portugal fosse o Egipto e ''Sócrates-Passos Coelho-Portas'' (e porque não Jerónimo de Sousa e Louçã) fosse um compósito de Mubarak? Sem eleições? Sem partidos? Democracia directa com votos pela televisão em chamadas de valor acrescentado e o parlamento no Facebook?" O grupo foi de facto inspirado nas manifestações no Egipto: "Percebemos que é possível grandes manifestações sem partidos nem centrais por detrás", explica o porta-voz. O dia da manifestação ainda não foi marcado. "Só quando atingirmos os 50 mil seguidores no Facebook", diz Couto Nogueira. 

Preparada parece estar já a manifestação do próximo dia 12 de Março, organizada pelo grupo Protesto da Geração à Rasca, um protesto que se diz "apartidário, laico e pacífico". A manifestação será em Lisboa e no Porto com o objectivo de "promover o debate alargado sobre a problemática da precariedade e mostrar que existe muita gente nesta situação que se encontra descontente e pretende, ao aderir ao movimento, mostrar que quer fazer parte da solução", explicam via email os criadores do grupo João Labrincha, Alexandre de Sousa Carvalho e Paula Gil. 

O grupo pede para que todas as pessoas que se decidam manifestar levem escritas numa folha A4 as razões que os levaram ao protesto para depois serem entregues na Assembleia da República. Até agora quase 11 mil pessoas afirmam que vão aderir ao protesto mas os criadores não fazem "qualquer previsão do número de pessoas a participar. Quantos mais melhor. O Facebook é uma excelente plataforma para chegar a um número muito alargado de pessoas. Até agora entraram em contacto connosco pessoas que se disponibilizaram a organizar protestos, baseados no nosso manifesto, no Porto, Funchal, Braga, Ponta Delgada e Viseu". 

As razões que levam ao protesto repetem-se. "Vou estar na manifestação por causa dos ordenados baixos, das horas extraordinárias que não nos pagam, dos contratos que não existem e dos recibos verdes", diz André Cabrita, estudante de Arquitectura em Lisboa. Quando questionado se considera que a manifestação pode mudar alguma coisa a resposta sai certeira: "Não. Mas é o meu dever cívico. Cada cidadão faz a sua parte para tentar sair do buraco que estão a escavar, o problema é que só reparam quando já estamos enterrados", afirma. 

O jornalista Nuno Ramos de Almeida resume as razões para estes protestos: "Primeiro o Código Contributivo veio alterar, e muito, a precariedade. Começa a ser muito complicado ser precário. Depois, a questão das manifestações por todo o mundo passa a ideia de que é interessante fazer o mesmo". Por fim, "a reacção à música dos Deolinda" fez perceber "que não estamos sós".

A manifestação de dia 12 será um primeiro teste para medir o pulso aos portugueses. "É mais fácil lutar contra a ditadura do que contra a ditamole. É difícil ultrapassar a viscosidade da nossa situação política mas oxalá que venham para a rua e isso contribua para uma reforma política sem a qual Portugal vai a pique", acredita Villaverde Cabral.

 

Via Ionline



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