O nível 18, patamar a que o Presidente da República diz corresponder como quadro do Banco de Portugal, parte de uma base mínima de 2343 euros, a que se pode somar complementos até 4500 euros.
O Presidente da República disse hoje que recebe 1300 euros mensais da Caixa Geral de Aposentações (CGA), mas que não sabe quanto irá auferir do Banco de Portugal, adiantando contudo que enquanto quadro do banco central ocupava o nível 18 da tabela, o mais alto, com o cargo de director.
O Expresso apurou que o nível 18 da tabela do Banco de Portugal, para a qual Cavaco Silva remeteu os jornalistas, tem por base mínima 2343 euros por mês e máxima 3735 euros. Valor ao qual se pode juntar ainda complementos de reforma que podem chegar a um máximo de 4500 euros. Se o Presidente estiver no topo da tabela receberá, com o complemento, 8235 euros.
Com as declarações feitas hoje no Porto, segundo o gabinete do Presidente da República, Cavaco Silva quis salientar que como professor, ao fim de 40 anos de desconto, tem apenas uma pensão de 1300 euros. "Tudo somado, o que irei receber do Fundo de Pensões do Banco de Portugal e da Caixa Geral de Aposentações quase de certeza que não vai chegar para pagar as minhas despesas porque como sabe eu também não recebo vencimento como Presidente da República", disse.
De acordo com a sua declaração de rendimentos em 2009, o Presidente da República recebia cerca de 10 mil euros brutos por mês, relativos à pensão do Banco de Portugal (BdP) e da Caixa Geral de Aposentações (CGP), para onde descontou como professor universitário e investigador da Gulbenkian.
Anibal Cavaco Silva recebe da CGA, com disse, 1300 euros por mês. E quanto ao resto, apesar de evocar ser fácil de ver na tabela do Banco de Portugal, a quantia não se consegue precisar: a tabela não tem um valor certo e não inclui os complementos de reforma habituais.
Em 2009, o valor do seu vencimento mensal situar-se-ia em cerca de 8700 euros, tendo em conta a declaração de rendimentos entregue pelo PR em 2010, relativa aos rendimentos auferidos a título de pensões, segundo publicou o Diário de Notícias.
Não recebe como Presidente porque abdicou
Em Janeiro de 2011, Cavaco Silva abdicou do vencimento enquanto Presidente da República, no valor de 6523 euros (já com os cortes de 5% em 2011 e 10% em 2011), optando por receber as reformas da CGA e do BdP. Uma decisão que tomou na sequência da lei que o inibia de acumular a remuneração como Presidente da República e as reformas a que tinha direito.
O Presidente da República não esclareceu, mas as dúvidas que terá em relação ao valor da pensão que recebe como reformado do Banco de Portugal deverão estar relacionadas com o facto de não se saber ainda se os reformados do banco central irão ou não receber os subsídios de férias e de natal.
Aos funcionários do BdP no ativo já foi pago, em janeiro, o subsídio de férias, mas há dúvidas jurídicas sobre se os reformados do banco central deverão ou não receber os subsídios de férias e de natal. Ou seja, aparentemente o que estará em causa é se Cavaco Silva receberá ou não os subsídios. A pensão mensal mesmo podendo ter cortes, não deverá ser muito diferente dos 8700 que o Presidente da República auferiu em 2009. Questionado, o BdP afirma que não pode esclarecer o assunto.
Entre as reformas douradas do Banco de Portugal, além de Cavaco Silva, encontram-se nomes como o da ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite e o ex-governador José Silva Lopes.
Via Expresso
Recebo, todos os dias, emails sobre as pensões dos políticos. As pessoas, muito indignadas e muito educadas, dizem que "aquele bandido saca 5000 euros" e que "aquele ladrão leva 4000 euros todos os meses". Estes gritos são, no fundo, a actualização do "é fartar, vilanagem". Ora, o problema não está nesta raiva, aliás, salutar. O problema está no pressuposto populista da raiva: as pessoas acreditam que o cancelamento dessas pensões seria o suficiente para resolvermos o maldito défice. Basta estar atento ao grito central das greves e manifs: "eles ficam com tudo". Este eles surge como uma entidade fantasmagórica que tudo controla e que tudo suga. Sem o eles, supõe-se que Portugal seria um paraíso.
Este ódio ao eles é visceralmente português. O ódio aos políticos e ao parlamento é a tradição mais marcante da nossa cultura política. Marcou Eça e Oliveira Martins, marcou Salazar e marca, por exemplo, Cavaco Silva. Cavaco é o não-político, é o político apolítico. Aliás, todos os candidatos a Belém procuram o estatuto de independente-que-paira-acima-da-política. Porquê? Porque nenhum português é imune a esta obsessão apolítica ou anti-política. Quando ouvi Vítor Gaspar anunciar os cortes nas subvenções dos políticos, confesso que comemorei essa decisão como se fosse um golo do Benfas. Mas, chegados aqui, importa fazer a pergunta chata: será que este problema é assim tão importante? Estatisticamente não é. As tais pensões dos políticos custaram até hoje 90 milhões de euros; para o próximo ano, estão previstos 7,8 milhões (Correio da Manhã, 20 de Outubro). Uma gota no oceano, portanto. Quando pensa que basta acabar com eles para resolvermos o assunto, a malta está a navegar em águas populistas, evitando assim o confronto com a realidade. Enquanto marina neste ódio anti-políticos, a malta - no café e na internet - evita enfrentar um pormenor: os cortes têm de atingir toda a gente, até porque a culpa não é só dos políticos.
Contudo, esta discussão não acaba aqui. Embora seja estatisticamente irrelevante, esta questão é altamente simbólica. E os símbolos e os exemplos são fundamentais na vidinha de uma nação. Antes de ser um bolso, cheio ou vazio, uma nação é uma atitude, é vergonha na cara. Portanto, o governo tinha mesmo de cortar as subvenções políticas num valor equivalente ao corte nos subsídios . Quem lidera ou quem liderou um país tem de dar o exemplo. É assim que se consegue transformar poder em legitimidade. E, neste sentido, temos ainda de atacar outro problema moral levantado por Vítor Gaspar : não é aceitável que x receba duas pensões, a normal (a da sua profissão) e a subvenção política. Não é aceitável. Tal como não é aceitável que x acumule esta subvenção com um salário. Por outras palavras, as subvenções dadas a figurões como Armando Vara, Dias Loureiro, Ferreira do Amaral, Ângelo Correia ou Jorge Coelho são inaceitáveis, e têm de acabar. Já. Uma economia não se anima por decreto. Mas a decência está mesmo ao alcance de um decreto.
PS: parece que a decência vai mesmo aparecer.
Via Expresso