A totalidade dos originais do processo individual relativo à licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente (UnI), que o PÚBLICO viu e fotografou na segunda-feira, encontra-se na posse de Rui Verde, um antigo vice-reitor daquele estabelecimento. Rui Verde, que está a ser julgado, juntamente com 23 outros arguidos, pela alegada prática de numerosos crimes na gestão da UnI, diz que tem o dossier de Sócrates desde “muito antes” da abertura do inquérito judicial que, em Agosto de 2007, concluiu não ter havido “qualquer crime de falsificação de documento autêntico” na obtenção da licenciatura do então primeiro-ministro.
A ser verdade que este conjunto de 17 documentos já estava com o antigo vice-reitor quando o Procurador-Geral da República determinou, em Abril de 2007, a realização de um inquérito para averiguar se aquele crime tinha ou não sido praticado, a conclusão a que chegaram a procuradora-geral adjunta Cândida Almeida e a procuradora-adjunta Carla Dias, responsáveis pela investigação, terá tido como fundamento, entre outros, a análise de fotocópias e não de documentos originais.
A afirmação de que as peças originais do dossier do aluno não são aquelas que em Março de 2007 foram divulgados pela imprensa surge pela primeira vez num livro escrito por Rui Verde que hoje começa a chegar às livrarias. Intitulada O Processo 95385 - Como Sócrates e o poder político destruíram uma universidade, a obra é editada pelas editoras D. Quixote e Exclusivo Edições e reproduz todos os documentos do dossier, identificando-os como originais, mas sem nada dizer sobre o local onde se encontram, nem sobre o facto de serem, ou não, os mesmos que o DCIAP investigou.
O PÚBLICO tentou saber, na terça-feira de manhã, junto da directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), a procuradora Cândida Almeida, se os documentos analisados no decurso do inquérito foram os originais ou as cópias. Em resposta, o DCIAP informou, ao fim da tarde, que “os documentos que serviram de base à investigação e ao despacho de arquivamento” se encontram junto ao processo no Tribunal de Instrução Criminal, que o PÚBLICO tentará consultar nesta quarta-feira.
Depois de usar indianos, paquistaneses, moçambicanos e chineses “pagos” para encher comícios (ver o vídeo), o PS passou a usar… lisboetas. Passei há pouco no pavilhão do OAF (Académica) na Solum em Coimbra, onde foi esta noite o comício do PS, e vi um rodopio de autocarros (vídeo1, vídeo2) a encherem-se de pessoas com bandeiras do PS. Perguntei para onde iam e responderam-me: para Lisboa. Vi 6 a 8 autocarros naquele momento (não tenho a certeza do número porque alguns estavam em movimento em torno do pavilhão).
Pouco antes tinha entrado no pavilhão. Na televisão, onde se falava de um “mar de gente”, o fundo negro por trás das bancadas deixou-me curioso: o que se esconde por detrás daquelas cortinas? A resposta correspondeu ao que eu esperava: mais bancadas, como se pode ver no vídeo abaixo.
Se se marca um comício para um pavilhão que dispõe de bancadas, para quê ter o trabalho de montar e depois desmontar outras bancadas (e cortinas, etc) transportadas em grandes camiões? O contribuinte português tem mesmo de andar a pagar subsídios aos partidos para montarem estas campanhas megalómanas que desperdiçam carradas de dinheiro, só para não parecer demasiado mal na TV a incapacidade de um grande partido encher um pavilhão desportivo de média dimensão?
Não seria mais honesto (e barato!) deixar este aparato artificial e reservar o comício para uma sala de reuniões que se pudesserealmente encher, com gente realmente de Coimbra?
E os socialistas revêem-se nesta palhaçada de aparências?
Adenda, 28/5/2011: - Jornal de Notícias: "No dia em que teve mais ouvidos para o escutar - a "arruada" em Barcelos, a meio da tarde, foi a mais longa e concorrida até agora, e o comício da noite, em Coimbra, também teve uma enchente" - Jornal i: "A aparição de Alegre em Coimbra foi bastante aplaudida por um pavilhão cheio de apoiantes." - Expresso: "Num comício, ontem à noite, em Coimbra, o ex-candidato presidencial fez levantar o pavilhão da Académica por várias vezes." - Sol: "no 'mini-estádio' montado dentro do Pavilhão da Académica,falando perante mais de mil pessoas." (noutro local lê-se que o "estádio-portátil" tem 700 lugares sentados; 8 autocarros cheios são cerca de 500 pessoas) - Público: "Dentro do pavilhão, que estava lotado de apoiantes" - Diário de Notícias: "Num pavilhão cheio (embora diminuído pelo cenário montado pela máquina de campanha)" Adenda, 29/5/2011: - SIC: "Foi até ao momento o maior comício dos socialistas nesta campanha; Coimbra dá ao PS o maior comício dos últimos dias" - TVI24: "o histórico socialista insuflou de energia o Pavilhão da Académica, que esteve lotado" - As Beiras: "Num pavilhão da Académica/OAF muito bem composto de público – nas hostes socialistas dizia-se mesmo que o comício conimbricense foi, até ao dia de sexta-feira, o melhor da campanha eleitoral" - Diário de Coimbra: "José Sócrates falava no final do comício socialista que encheu o Pavilhão da Académica" - como se vê neste vídeo e nestas fotos (agradecimentos aos Blogs "Mocho-III" e "O Rouxinol de Pomares"), há uma zona reservada aos jornalistas, que vêem o comício do lado de dentro. O número de lugares sentados dificilmente chega aos 700 e deixa pouco espaço para lugares em pé. O mesmo esquema foi usado pelo PS no mesmo pavilhão nas legislativas de 2009. - O pavilhão dispõe de mais de 1500 lugares sentados, que davam e sobravam para sentar confortavelmente todos os presentes, sem gastar um tostão.
Isto de generalizar afirmações que uma pessoa faz ou fez durante a vida para a apelidarem de mentirosa tem muito que se lhe diga. Por isso, acho que é de uma extrema injustiça chamarem a Sócrates "mentiroso compulsivo", "falso", "judas","traidor", "diabo de Armani"," velhaco", "ladrão", "cínico", "hipócrita","gatuno" entre outros epítetos bem menos refinados. Afinal de contas quem nunca pregou uma peta inofensiva?Alguém intelectualmente honesto é capaz de afirmar que jamais mentiu ou omitiu um facto? Nem um padre atirará uma pedra. Quem nunca se deliciou ao balcão com dois bolos de bacalhau e afirmou peremptoriamente no final do repasto que apenas comeu um? Que o outro foi um anão que por ali passou, o enfiou no bolso, e por isso ninguém o viu feliz a roê-lo na esquina do café.
Quero com isto dizer que Sócrates pode ter ocasionalmente mentido, aliás tenho a certeza absoluta que o terá feito por diversas vezes sua na vida, mas isso não faz dele uma pessoa mentirosa, seja por sistema, ocasionalmente ou compulsivamente.
E devemos relembrar as pessoas que marcaram um país, uma época, o mundo inteiro e a historia da humanidade pela sua sabedoria e legado e não pelas omissões nas declarações de IRS ou pelas pataniscas que deixaram por pagar na pastelaria do bairro. Sócrates tem afirmações que perdurarão para todo o sempre, entre elas, algumas que deveriam ser escutadas atentamente por muitos, que as deveriam ter em consideração quando actuam, especialmente os que desempenham cargos que influenciam a vida de muita gente.
Aquele a quem a palavra não educar, também o pau não educará." " Só sei que nada sei" "Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância." "Aquilo que não puderes controlar, não ordenes" "A maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser." "É preciso que os homens bons respeitem as leis más, para que os homens maus respeitem as leis boas." "É costume de um tolo, quando erra, queixar-se dos outros. É costume de um sábio queixar-se de si mesmo." "Assim como seria ridículo chamar o filho do nosso alfaiate ou do nosso sapateiro, para que nos fizessem um fato ou umas botas, não tendo eles aprendido o ofício; assim também seria ridículo consentir ou admitir no governo da República os filhos daqueles varões, que governaram com acerto ou prudência, não tendo eles a mesma capacidade dos pais."
E para terminar: "Conheço apenas a minha ignorância.
As vitórias e as derrotas nos debates fazem-se, grande parte das vezes, com truques. E sobretudo truques visuais. No debate entre Portas e Sócrates isso foi evidente. Sócrates apresentou uma pasta vazia para mostrar o programa do CDS, Portas, que foi um dos pioneiros destes números em televisão, mostrou um gráfico com o aumento da dívida pública portuguesa em comparação com a dos restantes países europeus.
Cabe aos comentadores e aos jornalistas fazer mais do que avaliar a performance de cada um. Devem analisar o conteúdo para lá do foguetório. E mostrar o que o foguetório esconde. Um exemplo: no colorido gráfico de Paulo Portas, em que se analisava a evolução de 2005 a 2010, faltavam vários países europeus. Dirão que não podiam lá estar todos. Mas entre os que faltavam estavam, nem mais nem menos, a Grécia e a Irlanda. Só aqueles que, tal como Portugal, ficaram em pior situação nos últimos três anos, tendo sido por isso obrigados, como nós, a aceitar uma intervenção externa. E faltavam ainda, segundo o gráfico da Eurostat que ele copiou e alterou, o Reino Unido e a Letónia. Ou seja, Portas apagou da fotografia todos os que, tendo um aumento da dívida superior a Portugal, lhe estragavam o boneco. Este truque, que torna aquele gráfico imprestável para qualquer discussão séria sobre a situação do País e da Europa, foi elogiado por quase todos os comentadores.
Não é um exclusivo de Paulo Portas, apesar de não ser a primeira vez que manipula gráficos em debates. O problema é outro: não haver quem faça o escrutínio dos factos apresentados.
Portas pode ter sido habilidoso ao escolher tão bem os países que estavam naquele gráfico. Mas a sua habilidade não faz dele um bom político, no que de mais relevante tem a função. Nem é útil para os cidadãos formarem uma opinião sobre as razões do estado em que estamos e as melhores soluções para sairmos deste buraco.