É o primeiro grande teste do maior projecto espacial liderado pela Agência Espacial Europeia (ESA, em inglês) e pela Comissão Europeia, que terá um custo de 5,4 mil milhões de euros, dinheiro pago pelos contribuintes europeus. O sistema Galileu começou a ser pensado em 1999 como um projecto civil para terminar com a dependência europeia do GPS, o equivalente norte-americano, mas sob controlo militar, que permite a posicionar objectos na superfície terrestre.
Segundo os especialistas, o Galileu vai ter um detalhe maior, permitindo por exemplo observar melhor o movimento na crosta terrestre ou o aumento do nível médio do mar. Os satélites conseguem medir a distância através do envio de micro-ondas para a Terra. O sistema vai ficar disponível gratuitamente.
O projecto viveu várias convulsões e atrasou-se dois anos. Em 2007 chegou a estar em risco: a Comissão Europeia teve de dar o passo em frente, assegurando o financiamento. Mas estima-se agora que a partir de 2014 o sistema esteja a funcionar e que no final da década atinja a capacidade plena, com os 27 satélites a girar em torno da Terra, em três órbitas circulares diferentes numa altitude de cerca de 23.000 quilómetros.
Para isso, os lançamentos têm de correr bem. Na comunicação social fala-se da segurança das máquinas russas, que desde a década de 1950 andam a lançar para o espaço satélites e cápsulas com humanos e têm a maior taxa de sucesso do mundo. Mas o foguetão Soiuz passou por um processo inédito.
As peças foram transportadas da Europa para América do Sul e o lançador russo foi montado na Base Espacial da Guiana, numa réplica de 120 hectares do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, construída nos trópicos. O clima obrigou a ter cuidados suplementares, como a construção de um edifício para proteger o foguetão da temperatura, chuvas e humidade. O próprio veículo teve de ser maior para albergar os dois satélites.
Tanto a Europa como a Rússia viram vantagens nesta parceria. Os dois modelos de foguetões que a Europa costuma utilizar para colocar satélites em órbita e que são construídos pela empresa Arianespace, que detém a base na Guiana Francesa, não levam cargas de peso médio.
Jean-Yves Le Gall, director executivo da Arianespace, disse à BBC News que para construir um novo modelo médio, a empresa iria gastar entre “três e cinco mil milhões de euros”. A despesa do Soiuz foi de cerca de “400 milhões de euros” e abre ainda a possibilidade, no futuro, de a ESA poder enviar astronautas para o espaço. Ao mesmo tempo, a parceria faz com que a indústria russa produza mais foguetões.
A missão acabou por acontecer na Guiana, permitindo que o veículo carregue ao todo três toneladas de equipamento - mais 1,3 toneladas do que se fosse lançado a partir do Cazaquistão. No equador a velocidade da rotação da Terra é superior às latitudes mais próximas dos pólos, o que torna o lançamento mais leve.
É esperado uma multidão a testemunhar o início de vida do sistema Galileu. Segundo um artigo na revista alemã Der Spiegel o primeiro-ministro russo Vladimir Putin estará presente, acompanhado por políticos, diplomatas, directores executivos de empresas, jornalistas e outras testemunhas.
Via Público