Há um mês, a história de Tabatha McCourt correu mundo. Como tantos outros saltos altos (e também rasos!), a adolescente britânica, de 17 anos, gostava de pintar o cabelo. Da última vez que o fez, foi mesmo a última. Cerca de 20 minutos depois de aplicar a tinta, teve uma reação alérgica fortíssima e ficou em coma, acabando por morrer algumas horas depois.
Há menos de uma semana foi a vez de Julie McCabe, de 38 anos, entrar em coma pelos mesmos motivos. A história parece um cliché: aplicou a tinta e 20 minutos depois estava a lutar pela vida frente a uma reação alérgica. Dizem os médicos que, se sobreviver, os danos cerebrais serão irreversíveis.
As autoridades de saúde inglesas estão a investigar os casos, ainda sem conclusões, mas acredita-se que um químico chamado PPD (p-Phenylendiamine), presente em 99% das tintas de cabelo comercializadas, tenha sido a causa da reação alérgica. Pus-me a ler sobre estas três letrinhas em vários sites, blogues e afins, e pelo que percebi o PPD já foi banido de todos os produtos de beleza vendidos na Alemanha, França e Suécia. Nos restantes países da UE, apenas é permitido o uso de 6% deste químico. Já num estudo realizado nos EUA, a substância está diretamente ligada ao aumento de casos de cancro da bexiga. Mesmo sendo controverso, o que é certo, é que as marcas continuam a usá-lo. Sem pudor.
Ambas as histórias anteriores remetem para reconhecidas marcas de produtos de beleza. Mas os casos avançam também em marcas menos conhecidas e em território português. Nisa Gonçalo, de 20 anos, foi parar ao hospital após ter ficado com graves queimaduras na cabeça, resultado de tinta comprada numa "loja do chinês". O Infarmed já está a investigar e diz que o produto, oriundo de Espanha, está à venda em Portugal de forma irregular.
Hoje fui ao surpermercado e dei por mim a fazer algo que não fazia há imenso tempo: a olhar para a composição dos produtos que comprava. Todos nós sabemos de alguns dos perigos químicos eminentes nas caixinhas que nos sorriem nas prateleiras, mas pouco de nós paramos para pensar nisso quando os metemos no cesto.
Poucos de nós também "perdem tempo" a fazer os tais testes de segurança com um bocadinho do produto numa pequena zona da pele, antes de o usar na área total. Assumo a minha culpa e admito que, em inúmeras "tardes de gaja" em que ajudei amigas a pintarem o cabelo (sim, o mundo dos saltos altos de vez em quando gosta de brincar aos cabeleireiros caseiros), nunca, repito, nunca me lembro de termos feito tal teste. O mesmo posso dizer de loções depilatórias ou cremes auto bronzeadores, que tantas vezes acabam com cenários dantescos de peles cheias de reações alérgicas. Somos apenas distraídas... ou inconscientes? Quando a vida pode ser o preço a pagar, isto dá que pensar.