O anúncio foi feito numa apresentação em Los Angeles, que começou cerca das 0h de terça-feira (hora de Lisboa). Há uma semana que o evento vinha a gerar grande expectativa e estava rodeado de um secretismo que é mais típico da Apple.
Os tablets Microsoft Surface têm um ecrã de 10,6 polegadas (um pouco maior do que o do iPad) e estão equipados com portas USB. Há dois modelos. Uma versão é mais fina e leve e está equipada com o Windows RT (a versão do Windows 8 para os processadores ARM, que tipicamente são usados em dispositivos móveis) – será vendida com 32GB e 64GB. Um modelo superior oferece um ecrã de mais qualidade, mais conectividade (três portas USB em vez de duas), surge em 64GB e 128GB e está equipado com o Windows 8 Pro e processador Intel. Não há referências a câmaras nas especificações técnicas dos modelos e os preços não foram divulgados.
O Windows 8, que chegará ao mercado depois do Verão, foi desenvolvido para ser usado tanto em computadores convencionais como em tablets e é o primeiro sistema da Microsoft desenhado para se adaptar a este género de aparelhos – a interface tanto suporta o uso de rato e teclado como toques e gestos no ecrã.
Na apresentação, o CEO da Microsoft, Steve Ballmer, sinalizou a mudança de paradigma que esta jogada representa para a Microsoft com um tipo de afirmações que se assemelham às proferidas por executivos da Apple, ao defender a integração de software e hardware. “Acreditamos que qualquer intersecção entre humanos e máquinas pode ser melhorada quando o hardware e o software são considerados em conjunto”, afirmou Ballmer.
Foi precisamente a estratégia de decidir fazer apenas software e deixar que outras marcas criassem computadores compatíveis com o Windows que deu à Microsoft a liderança sobre a Apple na década de 1980. Agora, a empresa parece adoptar, pelo menos em parte, a estratégia da rival.
"A integração entre hardware e software passa a ser reconhecida pela Microsoft como essencial para poder dar aos consumidores um produto cuja experiência seja melhor e que possa competir com o popular iPad", explica ao PÚBLICO Francisco Jerónimo, analista da IDC.
Para além de concorrer directamente com a Apple, a Microsoft vai agora competir ainda com actuais parceiros, as empresas que fabricam computadores com Windows e que também se preparam para fazer chegar ao mercado tablets com este sistema.
A Microsoft mostrou ainda nesta noite uma capa protectora para o Surface que tem um teclado físico integrado. O acessório estará disponível em várias cores.
O Surface vai concorrer com o iPad, que veio, em 2010, praticamente inaugurar um segmento em que a Microsoft até já tinha feito experiências, mas quase sem consequências.
"Há pontos fortes muito importantes e diferenciadores" no Surface, analisa Francisco Jerónimo, notando que um deles é o teclado físico da capa. "Por outro lado, é muito importante a integração do Office. Esta será a killer application para que este produto da Microsoft seja atractivo face aos Android e ao iPad".
O analista, porém, antevê um potencial problema: "Pelas indicações dadas, o preço não se perspectiva que seja baixo o suficiente para poder competir em mercados sensíveis a este factor, como é o português".
Nos últimos dois anos, o iPad tem sido o líder isolado e a referência no segmento, apesar da profusão de aparelhos com sistema operativo Android e de marcas como a HP e a RIM (dos BlackBerry) terem tentado soluções com sistemas operativos próprios, que não convenceram os consumidores. O tablet de baixo custo da Amazon também não fez sombra ao dispositivo da Apple.
Apesar da nova estratégia que mostrou nesta noite, a Microsoft não é inteiramente alheia ao fabrico de electrónica de consumo, onde tem tido resultados díspares. Em 2006, lançou o leitor de música Zune, para concorrer com o iPod, que foi um falhanço. Pelo contrário, a consola Xbox é um sucesso de vendas. Para além disto, a empresa fabrica há muito periféricos como ratos e teclados – algo que Ballmer sublinhou durante a apresentação.A Microsoft já pôs também o pé nos canais de retalho, com lojas dedicadas aos produtos da empresa e, inspirada na Apple, com a presença em superfícies de venda (incluindo em Portugal) de “gurus Microsoft” – funcionários que têm como objectivo ajudar potenciais clientes a escolher produtos.
Noticia do Público