Quinta-feira, 16.02.12
O Tintin no Congo foi publicado em 1931
O Tintin no Congo foi publicado em 1931 (DR)
Acusar Hergé de racismo sem ter em conta o contexto histórico em que foi publicada a aventura “Tintin no Congo” é absurdo. Foi este, em substância, o entendimento da justiça belga na acção colocada por Bienvenu Mbutu Mondondo, um cidadão da República Democrática do Congo a residir na Bélgica que pedia a retirada do mercado daquela banda desenhada.

O tribunal considerou que a pretensão do queixoso só podia ser aceite se fosse feita prova de que aquela obra de Hergé tinha “uma intenção discriminatória”. “Tendo em conta o contexto da época, Hergé não podia estar animado de uma tal vontade”, considera a sentença.

O advogado da Casterman (editor franco-belga de Tintin) e da

Moulinsart (detentora dos direitos da obra do artista belga) saudou a sentença dos juízes. “É uma decisão sã e plena de bom senso, segundo a qual é necessário olhar para uma obra no seu contexto e compará-la com as informações e ‘clichés’ da sua época”, afirmou Alain Berenboom. “É a época da ‘revista negra’ de Josephine Baker e da exposição colonial de Paris. Hergé está sintonizado com o seu tempo, não há racismo, mas um paternalismo amável.”

Desde 2007 que Mbutu Mondondo está empenhado em conseguir que a aventura “Tintin no Congo” seja proibida ou, pelo menos, seja incluído um texto introdutório que explique o contexto cultural da época em que foi publicada, nos anos 30 do século passado. É isto o que acontece no Reino Unido desde 1991, com o álbum a ser arrumado nas livrarias nas secções para adultos e não na área infanto-juvenil.

A acusação defende que Hergé apresentou o homem negro como “preguiçoso, dócil ou idiota” e, para cúmulo, “incapaz de se exprimir num francês correcto”.

Segundo Ahmed L’Hedim, advogado de Mondondo, “é uma banda desenhada racista, que faz a apologia da colonização e da superioridade da raça branca sobre a raça negra”. “Ponham-se no lugar de uma menina negra de sete anos que descobre ‘Tintin no Congo’ com os seus colegas de classe.” 

Esta campanha contra a segunda aventura de Tintin – e também a que tem um enredo mais controverso, quando lida à luz do nosso tempo – tem merecido regularmente destaque nos média, onde detractores e defensores de Hergé esgrimem argumentos. No passado mês de Novembro, Valery de Theux de Meylandt, procurador do rei belga, tornou pública a sua posição sobre o assunto, considerando que aquela aventura não tinha nada de racista. Para o advogado de Mondondo, pelo contrário, é “claro que os estereótipos que figuram neste livro lido por um número considerável de crianças, têm consequências no seu comportamento actual”. E concluí: “O racismo encontra o seu ponto de apoio neste género de estereótipos”.

Imagem caricatural faz rir... os negros

Em Outubro de 2010, o então ministro congolês da Cultura defendeu a perspectiva veiculada por Hergé nesta aventura: “Quando o livro foi escrito, os congoleses não sabiam de facto falar francês. Na época descrita na obra era efectivamente preciso usar o bastão para pôr os congoleses a trabalhar ou mais simplesmente para os impelir ao trabalho.”

Daniel Couveur, jornalista do diário belga “Le Soir”, é autor de um livro sobre o tema (“Tintin au Congo de Papa”) no qual propõe a introdução nos álbuns de uma advertência sobre as circunstâncias e contexto que a tornaram possível aquela aventura, sublinhando ao mesmo tempo o seu valor pedagógico. Cita o que foi publicado em 1969 pela revista “Zaire”: “Há uma coisa que os brancos que suspenderam a circulação de ‘Tintin no Congo’ não compreenderam (...) Se certas imagens caricaturais do povo congolês (...) provocam um sorriso dos brancos, elas fazem rir abertamente os locais, porque os congoleses encontram aí matéria para fazer pouco do homem branco ‘que os via daquela maneira’!”

Quem não encontrou motivo para rir em todo este processo foi o Conselho Representativo das Associações Negras em França. Louis-Georges Tin, o seu presidente, diz que a questão central é a de saber se “Tintin no Congo” difunde ou não uma mensagem racista ainda hoje, o que é dificilmente contestável”: “A partir deste julgamento, qualquer um pode afirmar que não é racista, anti-semita, sexista ou homofóbico escudando-se atrás do ‘contexto de época’”.

Os advogados de defesa contra-argumentam: “Sim, a liberdade de expressão pode ser limitada e o racismo pode ser um fundamento dessa medida, mas nesse caso é preciso poder explicar por que se torna necessário proibir esta publicação para bem da nossa sociedade. Ora, nada disso ficou demonstrado.”

 

Via Público



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Quinta-feira, 27.10.11
As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne
Fazer Tintin “em grande” implica deixar de fora tudo o que é “pequeno”, e com isso deita-se fora metade da graça

Enorme decepção, se admitirmos que até havia alguma expectativa. É verdade que os precedentes não eram famosos, e que todas as adaptações cinematográficas dos grandes clássicos da BD europeia, de Astérix a Lucky Luke, passando por Corto Maltese ou pelo próprio Tintin, redundaram ou em desastres absolutos ou em filmes anódinos e esquecíveis. Também é verdade - e daqui vinha “alguma expectativa” - que nunca uma destas adaptações tivera o privilégio de contar com um cineasta do calibre de Spielberg nem com o “topo de gama” da tecnologia do “entertainment” cinematográfico.

 

Esse acaba por ser um problema, certamente: vê-se mais o “topo de gama” do que Tintin ou Spielberg, ambos desaparecidos debaixo do “state of the art” digital. Há uma vaga parecença, narrativa e morfológica, com a criação de Hergé, mas depois tudo se passa como se ser Tintin ou ser outra coisa qualquer fosse dar ao mesmo. Falamos do “espírito”, claro: será Tintin compatível com o grande espectáculo “blockbuster” de “luz e magia industriais”? O Tintin da BD nunca foi isso, antes o primado da narrativa sobre os efeitos de espectáculo e a progressivamente refinada arte da sua construção visual, de resto em grande parte influenciada pela linguagem do cinema clássico, inspiração maior de Hergé. Ponham-se estas “Aventuras de Tintin” ao lado dos “Salteadores da Arca Perdida” e, falando apenas de Spielberg, responda-se sinceramente: há mais Tintin neste filme que leva o seu nome ou nas aventuras de Indiana Jones?... Nós sabemos qual é a nossa resposta.

 

Transformadas em mostruário digital, há demasiadas coisas que não funcionam nesta adaptação, forçosamente (?) “dumbed down”, do álbum homónimo (a que se seguirá a continuação, “O Tesouro de Rackham, o Terrível)”. A galeria de secundários, por exemplo, uma das maiores riquezas da BD original, perde-se completamente, e é em especial bastante penoso aquilo em que se transformam Dupont e Dupond. Que é como quem diz: o filme não tem espaço, nem tempo, nem maneira de dar vida ao detalhe, ao pormenor, coisa em que Hergé era mestre. Fazer Tintin “em grande” implica deixar de fora tudo o que é “pequeno”, e com isso deita-se fora metade da graça. Mas talvez o mais desagradável seja a exibição da arrogância do “franchise” no momento em que toma conta da coisa “franchisada”: a cena introdutória, um pintor de rua que tem a cara de Hergé a tirar o retrato a Tintin, retrato que é o do Tintin da banda desenhada. A ideia talvez fosse homenagear o autor belga, mas é como se alguém estivesse a dizer isto: eis, finalmente, o Tintin “real”, o dos livros é mera “imitação da vida”...

 

Via Público



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Terça-feira, 17.05.11

Tintin de Steven Spielberg já tem cartazes oficiais e trailer

 

Já são conhecidas as primeiras imagens de Tintin, a personagem de banda desenhada que saltou para o grande ecrã, num filme realizado por Steven Spielberg e produzido por Peter Jackson.

 

A Paramount apresentou esta terça-feira os primeiros cartazes oficiais de promoção do filme “The Adventures of Tintin”, assim como um trailer com pouco mais de um minuto de duração.

Steven Spielberg optou por realizar este filme, que está agora na fase de pós-produção, usando a tecnologia “motion capture”, já utilizada em filmes como “Polar Express” e “Beowulf”.

Jamie Bell, o actor que ficou conhecido do grande público pelo seu papel em Billie Elliot, será o protagonista do filme, representado Tintin no grande ecrã. Andy Serkis será o Capitão Haddock, Simon Pegg e Nick Frost os irmãos Dupond e Dupont, e Daniel Craig o vilão Rackham, o Terrível.

Segundo o site “HollywoodNews”, este é o primeiro de três filmes, a cargo de Spielberg, do herói de banda desenhada belga, conhecido pelas suas inúmeras aventuras. 

Ainda não são conhecidos muitos pormenores da historia nem quando estreará em Portugal. Nos Estados Unidos, o filme deverá chegar às salas de cinema por altura do Natal, a 23 de Dezembro.

 

Via Público



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Quinta-feira, 21.04.11

Pode o Tin tin ir preso?

 

Num tribunal de primeira instância de Bruxelas serão hoje decididas as datas para o julgamento do caso "Tintin no Congo", cujo teor é considerado racista por um cidadão congolês residente na capital belga.

 

O processo judicial foi iniciado em abril de 2010 por Bienvenu Mbutu Mondondo, que acusou a sociedade Moulinsart, que detém os direitos, e as edições Casterman por causa do teor racista da banda desenhada "Tintin no Congo", de Hergé, publicado pela primeira vez em 1931.

Ao queixoso juntou-se entretanto a associação francesa Le Cran (conselho representativo das associações negras).

 

O ministério público tinha considerado que o tribunal de primeira instância não tinha competência para julgar o caso, que deveria ir para a justiça comercial, mas no passado dia 5 aquele tribunaldeclarou-se competente para o efeito e marcou para hoje a definição das datas das sessões.

acusação pede a cessação da publicação daquela obra de Hergé ou então a aplicação de uma cinta em cada livro que avise o leitor sobre o conteúdo racista da obra.

 

Na segunda hipótese, o queixoso pretende que seja incluído um prefácio explicando o contexto histórico no qual a obra foi criada e que seja retirada das prateleiras das livrarias destinadas às crianças.

 

Via ionline



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Terça-feira, 19.04.11
Hergé defendia que o livro reflecte a visão inocente e ingénua do pensamento da sua época
 
Tintin foi ao Congo em 1931 e o mundo contemporâneo não lhe perdoa. Nem mesmo em casa, na Bélgica, onde um cidadão congolês, Bienvenu Mbutu Mondondo, desencadeou um processo judicial para pelo menos retirar o livro das prateleiras destinadas às crianças. Hoje, um tribunal de primeira instância de Bruxelas decide as datas do julgamento.
 
Hergé defendia que o livro reflecte a visão inocente e ingénua do pensamento da sua época (Foto: DR)

O fim do colonialismo e a mudança na forma como os europeus olham África atirou “Tintin no Congo” para a má fama. A segunda aventura de banda desenhada do jornalista criado por Hergé é há muito acusada de promover estereótipos racistas. No caso, Mondondo diz-se indignado por os congoleses serem retratados como “estúpidos e sem qualidades”. O Conselho Representativo das Associações Negras, organismo francês comummente conhecido como Le Cran, está com ele.

A decisão de hoje acontece depois de o tribunal de primeira instância se ter declarado competente para julgar o caso, em resposta às dúvidas levantadas pelo ministério público belga, que tentou levá-lo para a justiça comercial. A queixa, essa, foi apresentada em Agosto de 2007, cerca de um mês depois de a Comissão pela Igualdade Racial da Grã-Bretanha ter oficialmente reconhecido o teor racista da obra.

“De qualquer ponto de vista que se observe, o conteúdo deste livro é flagrantemente racista”, deliberou a comissão, que exortou os donos das livrarias britânicas a repensar a visibilidade dada a “Tintin no Congo” – ou mesma a sua venda. A obra foi destruída pela comissão: “o único lugar onde pode ser aceitável ter o livro exposto é num museu, com uma enorme placa por cima a dizer 'coisas racistas e antiquadas'”.

“Todas as lojas devem ter muito cuidado ao decidir se vão vender ou exibir este livro. Ele contém imagens e palavras de um preconceito racial repugnante, em que os 'nativos selvagens' parecem macacos e falam como imbecis”, acrescentaram os responsáveis da comissão, no comunicado então emitido, em resposta a uma queixa de um advogado especializado em direitos humanos – David Enright.

O livro foi mudado das prateleiras de literatura infanto-juvenil para as de banda-desenhada para adultos. Esse é o mínimo que pede agora Bienvenu Mbutu Mondondo, admitindo alternativas à saída do volume das bancas. A aplicação de uma cinta em cada exemplar a alertar para o conteúdo racista é uma delas. Outra é um prefácio que explique o contexto histórico em que a obra surgiu.

Hergé escreveu e desenhou “Tintin no Congo” quando tinha 23 anos e defendeu até à sua morte, em 1983, que a obra reflectia a visão inocente e ingénua que caracterizava o pensamento da época. No entanto, o Congo, que se manteve uma colónia belga até 1960 – quando passou a República Democrática do Congo e, entre 1971 e 1997, a Zaire –, tem uma das histórias mais violentas da presença europeia em África, denunciada no início do século XX e recuperada para a literatura por Joseph Conrad, em “O Coração das Trevas”.

As acusações de racismo surgiram ao longo das últimas décadas e começaram agora a ter repercussões. Além da decisão britânica e do processo judicial belga – que senta no banco dos réus a sociedade Moulinsart, detentora dos direitos, e as edições Casterman –, há ainda a assinalar uma medida avulsa nos Estados Unidos. A biblioteca pública de Brooklyn, em Nova Iorque, passou o livro para uma colecção de literatura para crianças que só pode ser consultada mediante marcação.

 

Via Público



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